De quando em vez lá aparecem notícias e entrevistas a músicos que afirmam que o rock morreu. O ano passado o The Guardian falou sobre isso levando a um debate público não só em Inglaterra, a Capital do Rock, como noutros países incluindo Portugal. Não sei porque isso se debate, não só o Rock não vai morrer como nenhum outro estilo musical qualquer, seja Pop, Hip Hop, Indie, Clássica, etc. Posto isto, os Vaccines são a prova disso mesmo. Lançam agora o 2º álbum da carreira intitulado "Come of Age". O Rock está cá todo, seja de forma crua e intensa, no single de abertura "No Hope" ou no lado mais tranquilo, mais viajante de "All in vain". E apareceram eles quase do nada, assim num de repente, a dizer que sim ao Rock.
E cinco anos após o Black and White Album, os Hives regressam para mais uma dose do que melhor sabem fazer, rockar sem apelo nem agravo. E é precisamente isso que eles nos têm dado desde o ano de 1997. Se nos dois primeiros discos, Barely Legal e Veni Vidi Vicious, o som dos Hives era garage punk e crú até ao tutano, a partir de Tyrannossaurus Hives, as músicas começaram a incluir outros elementos mas nunca perdendo o fulgor atacante do punk e Lex Hives é exemplo disso mesmo. Sejamos honestos. Os Hives nunca vão fazer nada diferente disto porque este som está-lhes no DNA. Estes suecos nasceram para nos dar uma boa dose de bom rock e nisso ninguém lhes poderá exigir mais. Para outros tipos e movimentos há outras bandas que o fazem com muito mais mestria. Por isso o melhor que temos a fazer é meter o disco a tocar, ouvir as 12 músicas de uma ponta a outra, aproveitar este calor, e fingir que este rock nos irá salvar um dia. Durante meia hora teremos um sorriso nos lábios. Esperamos que não demore mais cinco anos para termos um novo disco de Hives nas mãos. Até lá, "Everybody, Come On!"
Patrick Watson está de volta. São excelentes notícias meus amigos! "Adventures in Your Own Backyard" é o nome do seu novo álbum, acabadinho de sair para o mercado. E o primeiro single a ser lançado chama-se "Into Giants" e é uma grande canção.
Para quem não conhece a obra desta banda (apesar de ter o nome do frontman, Patrick Watson ficou por falta de ideias e tempo para escolher um nome diferente) ponha mãos à obra. Este é já o quarto disco destes canadianos que já passaram diversas vezes por cá (na Aula Magna, no Super Bock em Stock, no SBSR) e é música na mais pureza das concepções. Ideal para se ouvir duma ponta à outra, com aqueles phones que tapam as orelhas totalmente ou para ouvir em alto e bom som pela casa fora. É também imperdível em concerto pois tanto Patrick Watson como os outros elementos da banda, o guitarrista Simon Angell, o flamboyant percursionista Robbie Kuster e o baixista Mishka Stein, são fabulosos em palco, de se lhe tirar o chapéu.
"Adventures in Your Own Backyard" está, para mim, destacadíssimo para a vitória no melhor álbum do ano. Agora deixem-se levar.
Acabadinho de sair que nem pãozinho quente, "Port of Morrow" é o nome do novo álbum dos Shins. Este é o quarto registo dos norte-americanos e o primeiro a ser lançado pela editora do frontman da banda, a Aural Apothecary. Os três primeiros álbuns, "Oh, Inverted World", de 2001, "Chutes Too Narrow" de 2003 e "Wincing the Night Away" de 2007 foram lançados pela Sub Pop. Será que esta alteração de editora faz grande diferença? Muitas vezes faz, no caso dos Shins, com este novo "Port of Morrow" não faz assim tanta e ainda bem, temos um "mais do mesmo" que continua óptimo!
No caso, a mudança de editora não foi a única alteração na banda. James Mercer, o líder dos Shins acabou por substituir os restantes membros e chamou alguns amigos, como por exemplo, Richard Swift, Joe Plummer (ex-baterista dos Modest Mouse), Yuuki Matthews, ex-Crystal Skulls ou a guitarrista Jessica Dobson. Todos deram o seu contributo naturalmente mas os Shins acabam por ser James Mercer. E este álbum é um feliz retorno de Mercer, depois de 5 anos ausente noutros projectos, pois os Shins fazem muita falta ao panorama. O primeiro single chama-se "Simple Song" e é muitíssimo bom!
Surpreendente!
É uma das primeiras palavras que me sai da boca, ao ouvir os Capitão Fausto.
São 5 rapazes de Lisboa, miúdos, não terão muito mais que 24 anos. Fazem música há mais ou menos 3 anos, e já tinham lançado um EP, e agora estreiam-se com um álbum.
E estreiam-se muitíssimo bem!
Ouvi Capitão Fausto pela primeira vez ao vivo, na festa de apresentação da editora onde agora lançam este disco, no MusicBox (http://www.photoblog.com/olhovivo/2011/07/22/chifre--musicbox.html).Tocaram umas 5 músicas, e fiquei logo embasbacado. Fiquei surpreendido com, sendo eles tão jovenzinhos, mostrarem tanta maturidade, na música e na atitude em palco. Este sábado, a dose repetiu-se, também no MusicBox, mas agora na apresentação oficial do disco. E ainda mais fiquei a achar que estes putos são a melhor revelação deste ano!
A música é coerente, e vai buscar quase todas as referências que importam, de Air a Santana. Tem sempre uma tónica de boa-disposição, de celebração. Há momentos mais introspectos em que os instrumentos sobressaem, há coros e melodias que dificilmente nos saem da cabeça, há teclas vibrantes, momentos ska, solos de prog rock.. Os músicos parecem ser executantes mui competentes, têm a escola certa, e trazem acima de tudo frescura. A música é refrescante, como há algum tempo não se ouvia na música pop(ular) portuguesa. Talvez por serem novos, têm uma abordagem interessante da Música, e parece-me que têm todas as condições para seguir em frente, e seguir bem longe na história musical deste país.
Ao vivo, têm uma força e vitalidade enormes, e enchem a sala com boa energia, e dão um belo espectáculo em palco.
O concerto deste sábado está decerto entre um dos melhores deste 2011.
E o disco Gazela com que se dão a conhecer os Capitão Fausto está concerteza entre os melhores discos do ano. Ganha pelo menos o prémio “Ainda Bem Que Apareceram”!
Confesso que ultimamente tenho andado arredado de novos sons. Por este ou aquele motivo, ou mesmo aquele outro, não tenho andado com a devida atenção ao que tem chegado ao mercado. Ainda nem sequer tenho os novos álbuns de Feist ou St. Vincent ou Bonnie "Prince" Billy, por exemplo. Daí este ser um fresquinho assumidamente um pouco à pressão, afinal de contas quem manda é o editor e há que postar hoje. Assim sendo, fui ver a lista dos álbuns recentes, cruzei com algumas referências por essa internet, e fui ouvir o que daí saiu. E o que saiu foi o sentimento de ter sido conquistado pelo ambiente inóspito criado por Trevon Powers, miúdo de 22 anos que sob o nome de Youth Lagoon gravou na sua casita em Boise, Idaho (não sabem onde é vão procurar no mapa) este "The Year of Hibernation".
Senti-me transportado para tão longe que nem sei como é que de lá voltei para vir aqui escrever qualquer coisa. Por momentos revi-me naquele tempo em que, sozinho no meu quarto, sonhava com o que havia para conhecer, o mundo que havia por desbravar. Carregar no play abaixo é embarcar numa espécie de viagem nostálgica, pelo que façam-no com o devido cuidado, porque podem não conseguir parar.
Passados que estão 5 meses do lançamento deste álbum já é com dificuldade que se pode enquadrar na classe dos fresquinhos, mas dado que poderá haver muita gente que não o apanhou por uma ou outra razão e também por eu achar que merece destaque, hoje é este o fresquinho - Demolished Thoughts, terceiro álbum a solo de Thurston Moore.
A primeira palavra vai para aqueles que esperavam que este álbum a solo fosse uma continuação do seu trabalho nos Sonic Youth - para essas a surpresa será constante. Em vez do noise rock experimental temos um álbum onde se potencia mais a canção do que o improviso. Mas a mudança chave está mesmo nos arranjos.
Toda a instrumentação é diferente do que é a imagem de marca dos Sonic Youth, com uma ênfase maior nas guitarras acústicas e outras cordas. Moore explora uma palete de sons mais suave de forma entusiástica, mas sempre sem perder o seu lado conceptual. É um álbum que cheira a folk, mas não é só folk, é um folk à maneira muito própria de Moore que mesmo quando dedicado a um estilo diferente não descura um constante explorar dos instrumentos que tem à sua disposição e neste caso temos harpa, violinos, baixo e a conjugação de todos soa-nos familiar e ao mesmo tempo único. Há que salientar também o importante papel que tem Beck, produtor do álbum, no produto final - fico com a sensação que é dele a responsabilidade de não deixar Thurston Moore perder-se no seu experimentalismo, controlando-o sem chicote, dando até talvez uma maior ambição ao projecto mas sem que tal pareça forçado.
Parece-me que com este álbum há claramente um salto em frente neste seu side-project que é a carreira a solo, deixando de ser apenas um entretém nos tempos livres para algo mais consistente. Deixo a música à vossa consideração. São apenas 9 temas e começa com um arrepiante "Benediction". Enjoy!
Constituído por quatro mulheres rockeiras, os Wild Flag não são propriamente uma banda de miúdas novas que se juntaram para tocar rock por ser uma cena indie uma mulher de guitarra. Não. Estas rockgirls já cá andam há muito porém por caminhos separados. Carrie Brownstein e Jane Weiss fazem parte das Sleater-Kinney, Rebeca Cole é baterista dos Minders enquanto Mary Timony era a figura dos Helium. As suas carreiras começaram já em meados dos 90 mas só no início deste século é que começaram a privar entre elas, fosse em parcerias ou em tournées. Em 2010 resolveram começar um projecto que se viria a chamar de Wild Flag que resultou neste disco homónimo editado agora. E que bem que fizeram estas senhoras (Todas com mais de 40 anos) ao gravarem juntas pois Wild Flag é, certamente, um dos melhores discos editados este ano. Uma espécie de punk-rock com pinceladas de psicadelismo, funk e indie. São 40 minutos divididos em 10 músicas que se ouvem de uma ponta à outra relembrando o melhor de um passado que começa nos Clash, um bocadinho de Talking Heads, passa por Patti Smith (óbvio) e dá uma piscadela a Pixies mas sem esquecer nunca o presente onde vivem. Uma das boas surpresas deste ano.
Se todos os ditos "supergrupos" fossem tão consistentes...
O fresquinho desta semana vai para uma banda que foi uma das grandes revelações dos anos 2000. Uma banda que ameaçou estremecer com as fundações das editoras discográficas ao gravar, lançar, publicitar o seu primeiro disco, chegando mesmo a lamber os próprios envelopes. A (boa) questão aqui é que o disco, de nome homónimo à banda (Clap Your Hands Say Yeah) provou que se podia realmente fazer boa música à margem da indústria clássica sem dar o mínimo cavaco aos tubarões das editoras. Lançado em 2005, no auge do indie rock, o primeiro disco da banda trazia alguma fogosidade das guitarras mas também o pop carnavalesco meio à imagem de uns indie DIY (Do It Yourself) Talking Heads. A sua performance no festival Super Bock Super Rock (um dos melhores cartazes au courant que passaram por Portugal) mostrou que estava ali uma banda que poderia de alguma forma mostrar o caminho para esta nova geração, pois não se tratava apenas de uma banda que jorrava guitarradas e sintetizadores. No entanto a realidade foi outra. Quem "mandou" nisto foram os Strokes, Arcade Fire, Arctic Monkeys, Franz Ferdinand, entre outros e os Clap Your Hands Say Yeah foram ficando para trás esquecidos. O seu segundo disco, editado em 2007, Some Loud Thunder, nunca chegou a pegar e eu, sinceramente, não me recordo de lhe ter dado uma segunda audição. Este ano, para meu espanto pois julgava-os extintos, vi o anúncio de um terceiro disco numa revista da especialidade. Como sempre lhes nutri algum carinho e apreço, quis saber o que nos tinham a dizer passados mais de quatro anos desde o seu último trabalho. Ora Hysterical começa com um misto de sentimentos. Sinto que já ouvi isto antes e gostei mas hoje em dia diz-me pouco, muito pouco. Este som demasiado perto dos Killers não é bem o que esperava quando uma banda decide fazer um hiato de quatro anos e meio. Depois do agri-doce em "Same Mistake", segue-se o mesmo erro (no pun intended) em "Hysterical". Muito sintetizador, muita guitarrada, alguma emoção mas a mesma matriz de "For Reasons Unknown". Muita parra, pouca uva. Em "Misspent Youth" a colagem agora faz-se aos James mas sem grande proveito. A música não chega a descolar, mais ou menos como o resto do disco. Os momentos altos deste disco são "Into Your Alien Arms" que começa com um clima mais atmosférico para em seguida explodir numa guitarrada desenfreada mas que faz sentido, "The Witness's Dull Surprise" que faz lembrar alguns bons momentos do primeiro disco e "Adams Plane" com o seu final algo inesperado a fazer sobressair.
No entanto, faz parecer que, depois deste tempo fora, a banda de brooklyn começa por pôr o pé na água a ver como é que isto está hoje em dia para saber que caminho seguir. Ora o meu conselho é este: rapaziada, assim como está, não vai dar...
Informação prévia antes de irmos ao álbum em si - Zach Condon, ou simplesmente Zach para os amigos, o senhor por trás da capa Beirut nasceu em 1986. Sabem, o ano em que Portugal juntou-se à CEE, em que Maradona ganhou o Mundial de Futebol, em que o Challenger se desfez à frente dos nossos olhos, no qual a cidade de Chernobyl passou a constar do mapa e de tantas outras coisas que nos lembramos tão bem de ver acontecer. Onde quero chegar com isto? Simples - levar-vos a debruçar sobre o facto de Zach ter 25 anos e ter acabado de lançar o seu terceiro álbum, com mais cinco EP's pelo meio, o que a mim me parece deveras impressionante. E o que impressiona ainda mais - ter um americano a fazer música que é uma mistura do vaudeville francês dos anos 20 com ritmos das balcãs, Bregovic, Kusturicas e afins. Nada como viajar para libertar o espírito.
Ora bem, fast forward então para o início de 2011 onde encontramos Zach numa bifurcação com dois caminhos possíveis pela frente - ir atrás de uns Arcade Fire na tentativa de alargar ao máximo o seu público; ir atrás de um Sufjan Stevens e desbravar novas sonoridades. O último EP, o duplo March of the Zapotec/Holland contém algumas experiências que poderia indiciar o segundo caminho. Mas The Rip Tide não é nem um nem outro, é um seguir em frente, com as mesmas armas de sempre. O próprio Zach numa entrevista confessa que andou em tempo a experimentar um instrumento novo por mês, mas que para este álbum preferiu concentrar-se novamente no triângulo piano-ukulele-trompete, no fundo a fórmula secreta dos Beirut. Temos portanto um Zach amadurecido, com mais bagagem (e mais viagens) no arcaboiço a servir-nos a sua fórmula de sucesso. O que mais poderíamos pedir? Apenas mais tempo do que uns curtos 33 minutos que parecem voar...
Instigado pelo concerto dado no passado sábado, no espaço TMN Ao Vivo, achei por bem aqui colocar o mais recente álbum do Marcelo Camelo, Toque Dela. Depois de 10 anos como uma das forças motoras dos Los Hermanos, e do lançamento de uma carreira a solo com o álbum Sou, de 2008, podemos dizer que Marcelo Camelo não tinha entre mãos uma tarefa fácil, dado o peso da sua herança, o peso de muitos verem nele a grande esperança de continuidade na música brasileira de nomes como Chico, Caetano, Gil. Mas nada como lidar com isso da única forma que ele sabe - com simplicidade e sinceridade acima de tudo. E a meu ver é isso este Toque Dela, um álbum belo de tão simples e sincero, denotando um de ritmo que poderá advir de uma maior influência da vida paulista num carioca de gema, com menos samba e arranjos mais estruturados. Já não se sente a "Copacabana" por perto, música do álbum anterior de êxtase puro, impossível de ouvir sem mexer, agora reina a tranquilidade de um "Pra te acalmar", a segurança de que "Meu Amor é Teu", música que encerra o álbum. Mas pelo meio temos a alegria de "Acostumar, a leveza de "Pretinha, o convite à dança em "Ô ô". E deixo para o fim, por ser para mim a maior demonstração da conjugação do binómio beleza/simplicidade a "Três Dias":
Se faltar carinho, ninho
Se tiver insônia, sonha
Se faltar a paz
Se faltar a paz, Minas Gerais
No meio da velocidade constante do conhecimento a que a internet nos submeteu, os 6 meses que se passaram desde o lançamento deste álbum até o dia de hoje parecem séculos. Mas achei que era mais que merecido este álbum ser destacado aqui no Altamont, tendo também em conta que talvez nem toda a gente deu pela sua chegada. Kaputt é já o nono (!) álbum de Destroyer, nome de guerra do projecto pessoal de Dan Bejar, também conhecido por ser membro dos The New Pornographers e dos Swan Lake. É portanto um homem de vários ofícios e que não tem receio de experimentar, inovar, arriscar e demonstra isso mesmo neste Kaputt, criando um corte relativamente aos seus anteriores álbuns e atirando-se de cabeça ao lado mais electrónico piscando o olho ao jazz dos anos 80. O próprio Bejar admite ter ouvido muitas coisas de Roxy Music, David Sylvian, Pet Shop Boys, Brian Eno, Prefab Sprout. E depois junta à lista os carismáticos Miles Davis e John Coltrane. É desta mescla de artistas que surge a sonoridade de Kaputt, uma excelente colecção de canções (da qual não queria deixar de destacar "Savage Night at the Opera") que nos deixa a sonhar, que nos retira do carro, casa, escritório, o local que seja em que estamos a ouvi-lo e nos leva para longe. E não será este o poder supremo da música, o conseguir agarrar-nos e fazer-nos viajar?
PS: Agora uma coisa que não entendo e gostava que alguém me conseguisse explicar - o que está este senhor a fazer no cartaz do sudoeste, junto do david guetta e dos scissor sisters e kanye west? Anyone?
E ao quarto disco de originais, os Monkeys demonstram bem o caminho que querem seguir. O seu próprio caminho, sem pressões de editoras para encherem estádios e se tornarem os meninos bonitos que arrastam milhões de teenagers atrás. Após o primeiro disco ter pegado de estaca e ter feito de quatro miúdos de Sheffield uma promissora banda e revelar, em especial, um carismático Alex Turner, os Arctic Monkeys começaram a desbravar o seu próprio caminho, e isso revelou-se nos discos, músicas e, sobretudo, letras seguintes. Não mais Alex Turner escreveria sobre os seus ténis preferidos ou encontros de adolescentes. Tornaram-se homenzinhos e cada vez melhores músicos. Do pujante Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, seguido da confirmação de selo de qualidade em Favourite Worst Nightmare, passando pela experimentação em Humbug, os pupilos de Turner chegam-nos agora com Suck it and See, título nada aconselhável para quem poderia querer manter um nível respeitável e de fácil aceitação. Este disco chega-nos dois anos depois de Humbug e apenas um mês após o EP a solo de Alex Turner, Submarine, banda sonora para o filme com o mesmo nome, realizado por Richard Ayoade. É de salutar esta corrente criativa até porque a qualidade de Suck it and See, não aparece de alguma maneira beliscada. Não é um disco fácil. Não cria raízes à primeira como nos dois primeiros discos. Surge na continuação do disco anterior mas com um piscar de olhos ao grunge. Mais crú e seco. Não há nenhuma música que se possa dizer que é "material de single". Tanto "Brick by Brick", cantada também pelo baterista, Matt Helders, como "Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair", são secas o suficiente para alienar grande parte do antigo público. É um disco que vai crescendo aos poucos, tornando-se essencial sem atingir as parangonas dos media. Por vezes, é melhor assim...
Não podíamos fechar o mês aqui no Altamont sem mencionar a chegada de um dos álbuns mais aguardados do ano. No início do mês, e depois do EP Sun Giant e do tão aclamado Fleet Foxes já de 2008, chegou-nos Helplessness Blues. Longa foi a espera, resultado de um processo de gravação bastante turbulento - no final de 2009 a banda já tinha um álbum praticamente pronto mas que foi lamentavelmente destruído no processo de mixagem, o que levou a banda a começar novamente do zero. Robin Pecknold, fundador da banda (juntamente com Skyler Skjelset, colega de escola) e líder incontornável não baixou os braços, lançou-se avidamente ao trabalho. Não sei como seria essa tal primeira gravação, mas ouvindo este Helplessness Blues não consigo deixar de pensar que pena seria se nunca o tivessem feito. Inventivo, complexo e com maior nível de detalhe dentro de cada música vale cada um dos seus 50 minutos. Onde antes predominava a tranquilidade, nota-se agora uma maior tensão, súbitas mudanças de tom apanham-nos desprevenidos, mas no final parece que tudo se conjuga tal qual peças de um puzzle maior que é este álbum.
O álbum mostra um Pecknold cheio de dúvidas, preocupações, começando logo na primeira frase que ouvimos, na excelente "Montezuma": "So now, I am older/ Than my mother and father/ When they had their daughter/ Now, what does that say about me?" Este é o tom, e por cada pergunta feita, outras dez surgem, sobre a vida, o sucesso, a sua carreira, e todas estas dúvidas só parecem mesmo resolvidas na música que dá nome ao álbum, onde simplesmente se retrai e deseja apenas uma vida simples(Don't we all?).
Sinto que é um passo à frente muito natural por parte da banda, arriscando mas sem descurar todos os elementos que tanto nos encantaram no seu primeiro álbum e no EP. E isto é muito valioso.
Com um dos nomes mais estranhos do panorama musical actual, esta banda de Toronto já anda cá há mais tempo do que se pensa, apesar de me ter passado despercebida durante estes seus seis anos de existência. Mas não mais. Juntos desde 2005 e levando já na bagagem mais dois discos, sendo um deles EP, o seu percurso tem vindo a ser em crescendo e este Departing é o culminar disso mesmo. Nele, o trio norte-americano constrói um ambiente do interior americano intervalando músicas mais depressivas, "Two Lovers", The Breakup" com outras mais épicas: "Under The Knife" ou "Stamp" a fazer lembrar uns Kings of Leon a tocar Arcade Fire. Estes três rapazes (um deles rapariga) conseguem com estas dez músicas criar um ambiente que poderia perfeitamente ser banda sonora para "Fargo", inclusive até na capa do próprio disco. Uma das boas surpresas de 2011.
Qualquer texto sobre um álbum de Callahan deve, fazendo justiça à sua forma de estar, ter poucas palavras e focar-se na música. Esse era o meu plano inicial. Mas as dificuldades que tenho de aceder e partilhar música neste preciso momento não me permitem muitas veleidades (que bela palavra). Sem grooveshark, sem youtube, que condições há para conseguir convencer as pessoas que estão a ler isto a darem tempo de antena a este Apocalypse anunciado por uma das mais belas e intrigantes vozes do nosso tempo? Deixo uma música do álbum. Foi o melhor que consegui arranjar, espero a vossa compreensão. Penso que dentro de uns dias irei conseguir melhorar o post e meter-lhe mais música. A substância que merece ser ouvida com atenção. Ou, neste caso, sentida, inalada, absorvida, engolida, todos os sentidos têm que estar bem alerta para uma melhor apreciação da obra de Callahan.
Os Pains of Being Pure at Heart conquistaram-me com o seu primeiro álbum, homónimo, de 2009. Foi mesmo daqueles casos de amor à primeira vista (audição, neste caso), que me levou inclusivé a deslocar-me até à simpática (e distante de Lisboa mas distância essa sempre recompensadora) vila de Paredes de Coura para os ver ao vivo. Com mil raios, até afugentei uma jovem espanhola carente de afecto que meteu conversa comigo durante o concerto para os ver com a devida atenção! Acho que desta forma já dá para ter uma ideia do nível de expectativa (ou expetativa? o editor do blog já se pronunciou sobre qual a nossa abordagem ao acordo ortográfico?) que rodeava a chegada deste Belong, álbum que surge depois de um docinho em forma de EP e de nome Higher than the Stars que nos foi oferecido o ano passado. E o que se passou ao meter o CD a girar? Temo dizer que fiquei com um sabor amargo na boca. Eu, de certa forma, sabia que ia acontecer, não ia ser fácil, culpa em parte minha por meter fasquia alta. Principalmente senti que as músicas estavam mais moles, que a voz estava mais melosa, que a dor de ser puro no coração os tinha atingido com maior força desta vez e a energia que tinha sido uma das coisas que me atraiu neles tinha ido abaixo. E quando acabou, passadas apenas 10 músicas, fez lembrar-me a clássica piada do Woody Allen no início do Annie Hall - tão fraco e ao mesmo tempo tão pouco? Decidi que isto não ficava assim, eles não podiam fazer-me isto e resolvi colocar o CD do início outra vez. E foi a meio da 3ª música (a que vos deixo para já abaixo, e mais logo prometo que meto grooveshark) que começou a fazer-se luz. Comecei a ver ali mais qualquer coisa quiçá a meio do refrão "She was the heart in your heartbreak/ She was the miss in your mistake", ou das palmas e do sintetizador intercortado com a guitarra solo. Pode ter sido isso, já não sei bem. Mas o que é facto é que o resto do álbum me soou muito melhor a partir daí, num registo diferente do anterior mas que ao mesmo tempo encaixa bem no ambiente da banda. E suponho que seja isto que todas as bandas querem para o seu 2º álbum.
O fresquinho de hoje incide sobre uma das bandas que irá estar presente na próxima edição do festival Super Bock Super Rock e têm como nome "The Vaccines. Ora esta banda, de qual já falamos há umas semanas aqui em Recomenda, com o single "Post Break-Up Sex", traz-nos o ambiente perfeito para estes dias mais solarengos. Uma Pop de época ao estilo dos Glasvegas, onde pegam na famosa "Wall of Sound" de Phil Spector para criar uma melodia mais musculada e "all over the place", porém mais veraneante, mais leve e de fácil aceitação, não querendo com isto dizer que é fraquinha.
Abrindo o disco com "Wreckin' bar (ra ra ra)", os Vaccines mostram claramente o rumo e linha da sua música. Não prometem grandes letras nem grandes qualidades musicais, mas sim um bom momento nestes pouco mais de trinta minutos, divididos em 11 músicas. Prometem ser uma das bandas do verão e um dos pontos fortes do Super Bock Super Rock.
"Dez anos é muito tempo, muitos dias, muitas horas a cantar", já dizia Paulo de Carvalho. Para os Strokes, dez anos passaram como um abrir e fechar de olhos desde que o lançamento de Is This It?. Poderia aqui dizer que em dez anos a banda liderou essa vaga do indie rock, fazendo imensos álbuns de qualidade, sempre procurando inovar e com qualidade. Porém, Em dez anos a banda, liderada por Julian Casablancas lançou, contando com este fresquíssimo Angles, apenas 4 discos. Muito pouco para a banda que fez ressurgir o interesse no rock e uma das mais dinamizadoras para o crescimento desse conceito indie. Muito pouco também em termos de banda líder, pois nunca o foi, muito devido ao pouco entendimento entre os elementos, o que resultou em alguns projectos a solo e/ou paralelos. O ambiente nunca foi o melhor e, apesar desse factor nem sempre ser negativo para a criatividade, as sequelas a Is This It? foram sempre piores e Angles é o resultado lógico desta tida falta de interesse da banda ou de Julian para tornar os Strokes melhores do que o foram em 2001. No entanto, apesar de tudo do que acima foi dito, Angles é o disco mais diferente que os strokes fizeram. Não que isso queira dizer que é melhor mas apenas diferente. O resultado final que nos fica a tilintar no cérebro após algumas audições é que tresanda a duas coisas. Sintetizadores e anos 80. Se os realizadores do filme Tron: Legacy fizeram muito bem em pedir a ajuda dos Daft Punk para a sua banda sonora, este Angles serviria perfeitamente para ser a banda sonora original do primeiro filme tal é a sua roupagem a anos 80. Conseguimos imaginar os casacos de ganga, bandanas na testa e salas de jogos arcade. É um disco mais solarengo, polvilhado aqui e ali com alguma da agressividade dos primeiros discos como em "You're So Right", fazendo também lembrar "River of Brakelights" de Phrases for the Young, disco a solo de Casablancas. Angles é um disco que não acrescenta mais valor à posição dos Strokes na história, é sim, mais um disco de Strokes (são tão poucos, daí a ressalva) que se ouve bem e apraz. Para o que é, para mim chega. Venha o próximo.
O Kurt Vile não é um novato aqui no Altamont - em 2009, pouco depois de ter causado sensação no SXSW e pouco antes de ter lançado o seu primeiro álbum pela Matador, Childish Prodigy, lancei-o para cima da mesa. Ora pois bem, chega-nos agora o sucessor, Smoke Ring For My Halo, deste guitarrista/cantor de Filadélfia que a meu ver é mesmo um prodígio como indica o título do seu álbum anterior.
Ao ouvir este álbum fico com a sensação de ser um intruso. De que se trata de um tipo num canto da casa, sozinho com a sua guitarra, exprimindo-se através dela, as suas lamúrias, os seus problemas, os seus statements. A sua melancolia. E nós estamos ali, como que escondidos, a ouvir algo que não é nosso, mas com o qual nos conseguimos facilmente relacionar e criar empatia.
Existe em Vile uma proximidade com alguns dos grandes guitarristas americanos, como Tom Petty, Bruce Springsteen, Bob Seger. Li algures que até há para aqui perdidos uns traços do John Fahey. Mas não sinto que seja uma cópia ou uma tentativa de se parecer com, apenas influências, que no fundo são a história da música pop rock, influências, influências, influências. Acho que merece um pedaço de atenção, da minha mereceu e compensou.
Abaixo, se carregarem no play e deixarem tocar, em princípio conseguirão ouvir o álbum inteiro excepto uma música, "On Tour", que não consegui incluir.