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12 dezembro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #4: James Yank Rachell

Chamava-se James Rachell e não me apeteceu investigar de onde veio o Yank. Nasceu em 1910 em Brownsville, Tennessee e morreu em 1997 não interessa onde, daí dizer-se que foi um dos últimos dos grandes músicos de blues do delta, apesar de nunca ter sido assim tão grande – apesar de usualmente apenas ser lembrado como o sidekick do Sleepy John Estes – talvez por não cantar muito, talvez por não tocar guitarra mas sim um curioso instrumento nestas andanças de seu nome bandolim – e depois há aquela história do bandolim e do porco que todos acham fantástica.
Estou cansado e não tenho muito mais a dizer sobre ele, vão aos links e aos youtubes e aí podem ver o próprio a falar para uma câmara a cores e isso não é algo que têm a oportunidade de ver com 



03 dezembro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #3: Sleepy John Estes



Sleepy porque dizia-se que tinha assim umas coisas no sangue, umas narcolepsias – outros dizem que não. Eu pessoalmente acho piada a isso – à narcolepsia – gostaria de ver um “ataque” de narcolepsia – normalmente só os vejo em festas às tantas da manhã – não lhe chamaram Blind John Estes porque só ficou cego nos anos 50, até lá só lhe faltava o olho direito – que se fechava às vezes de repente: não só em festas.

Nasceu em Ripley, Tennessee em 1904 e tinha nove irmãos e trabalhava no campo com os  dez, contando com o pai (a mãe na cozinha e nas limpezas e nos partos?), e com apenas uns quinze anos foi começando a tocar em festas e piqueniques – será que tinham toalhas brancas axadrezadas de vermelho? – com um tipo chamado Rachell e sim era um homem e sim com dois éles pois era apelido de James Yank e ele era bandolinista  ou bandoleiro ou bandolinácio e viveu até 1997 e foi ele que um dia disse "I've had the blues so long they turned into the blacks" e depois riu-se e Estes – lê-se Éstes – também tocou muito e ao longo de muitos anos com um gaiteiro de beiços chamado Nixon mas não era o presidente mas sim um tal de Hammie e depois pelo que percebi nos anos 30 havia muitos concursos de blues e afilhados de blues ou padrastos e o John Estes – Éstes – participava muito nessas coisas. Foi dos poucos – dizem – músicos de blues que se aguentaram nos anos 30 por Chicago, conseguindo gravar para a Champion em 1935 e mais tarde para a Decca em Nova York por várias vezes – só voltou para o campo e para a enxada nos anos 40, ficou cego (que faz um cego com a enxada?) e foi redescoberto em 1962 para mais uma carrada de álbuns ao longo dos anos antes de ter um AVC em 1977 e ser enviado para os bichinhos – o Éstes.

Resumindo: o gajo tem uma data de álbuns – e o pessoal gosta porque é puro. 


20 fevereiro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #5: Sam Chatmon

Continuo sem ir directamente para as grandes celebridades dos blues porque me pareceu que esta entrevista de Sam Chatmon é absolutamente crucial para se perceber um pouco o que foi essa coisa do blues do delta de que toda a gente fala ou pelo menos eu, os enquadramentos sociais da coisa e enquadramentos regionais e políticos e, muda o parágrafo.
A família Chatmon foi muito importante no reconhecimento da música do Mississippi no início do século XX, toda a malta da família tocava e Sam com os irmão Lonnie Chatmon e Bo Carter e Walter Vinson formaram uma das maiores bandas de referência do Mississippi nos anos 30, os Mississippi Sheiks, que gravaram a famosa música Sitting on the top of the World que viria a ser tocada e retocada ao longo das décadas. Sobre Bo Carter e ainda outro irmão dos Chatmons, Charley Patton, vejo-me obrigado a ter que falar um dia. Sobre Sam Chatmon não creio que haja assim tanto mais a dizer, em meados dos anos 30 e por causa da Grande Depressão as companhias discográficas e as rádios foram fechando e tal como tantos outros músicos, passou as três décadas seguintes a trabalhar no campo até vir a ser redescoberto nos anos 60 tal como também outros tantos músicos, vindo a gravar para a Arhoolie Records e a dar concertos por todo o país, não faltando aos mais importantes festivais de blues e folk. Morreu em 1983.



09 fevereiro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #19: Joseph Spence

Este é um post à parte. À parte porque Joseph Spence não só não é reconhecido como alguém importante na história da música tradicional americana como aliás não é sequer americano.
Spence nasceu nas Bahamas em 1910. Tocava guitarra apesar desse não ser um instrumento muito popular lá nas suas bandas. Algures na sua vida foi contratado para ir alguns meses trabalhar nos campos de algodão no sul dos Estados Unidos e foi lá que tomou conhecimento com a música tradicional americana que se tocava pelo Mississippi, ragtime, blues, folk, etc. Voltou às Bahamas convencido que iria conseguir reproduzir aquelas melodias que tinha na memória, e apenas na memória, e instintivamente influenciado também pelos ritmos caribenhos foi desenvolvendo um estilo musical muito particular que o musicólogo folk Samuel Charters registou pela primeira vez no alpendre da casa do músico em 1958. Tinha a guitarra sempre afinada em Ré e em relação aos grunhidos e murmúrios que tornam qualquer música sua uma experiência senão única ao menos estranha, há quem diga que o fazia por não saber escrever letras e tentar simplesmente imitar as vozes dos músicos do Mississippi ou então por ter sempre um cachimbo na boca que o impedia de cantar propriamente. Mas cá para mim é um estilo e pronto.
Eu não queria incluir este tipo tão cedo nesta rubrica uma vez que falta apresentar tantos músicos mas a verdade é que Spence apenas me foi dado a conhecer no concerto da semana passada de Elijah Wald na Culturgest e fiquei em êxtase e quis partilhar esse êxtase pois é um êxtase muito fixe daqueles à antiga quando conhecíamos aquelas bandas novas e agora pensamos sempre que já não vamos conhecer nada de novo mas depois ouvimos uma ópera de Wagner com 150 anos e ficamos em êxtase e é bom. Pelo menos para mim.

05 fevereiro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #7: Mississippi John Hurt

Mississippi John Hurt nasceu em 1892 em Teoc, Mississippi, mas cedo a família se mudou para Avalon. Se forem ao link repararão que esta localidade já nem existe. John Hurt aprendeu a tocar guitarra aos nove anos e numa terra onde não há quase ninguém poucas hipóteses existem senão aprender-se consigo próprio, daí ter desenvolvido um estilo muito próprio. Enquanto trabalhava no campo ou nos caminhos de ferros ou onde fosse, Hurt ia tocando nos bailes da aldeia. De vez em quando substituía um músico na banda de um tipo chamado Willie Namour que uma vez teve a oportunidade de gravar para a Okeh Records, onde havia um produtor de nome Tommy Stockwell que levou Hurt a Memphis e mais tarde Nova Iorque para gravar algumas das suas músicas. Acrescentaram-lhe o “Mississippi” ao nome em jeito de marketing. Estávamos em 1928.

Surge a Grande Depressão, a Okeh Records vai à falência, John Hurt volta para Avalon e para o trabalho de campo e por aí fica durante os próximos 35 anos. O sonho fora curto.

Salto para os anos 60. Por esta altura todos os musicólogos de blues e folk andam loucos a tentar localizar os músicos do sul dos Estados Unidos. Alguns deles tentam localizar esta personagem misteriosa que apenas gravou treze músicas mas que ninguém conhece, ninguém sabe de onde vive, com quem tocou, não há uma fotografia, nada. Terão pensado que John Hurt já tinha morrido. Até que em 1963 o musicólogo Tom Hoskins “descodifica” a letra de uma música que contém o verso “Avalon, my home town”. Abre o mapa do estado do Mississippi e nada, será que a terra existia? Apenas a encontrou num atlas antigo. Pegou no seu carro e arriscou a viagem. Por fim lá encontrou o homem, já com 71 anos mas com as cordas ainda afinadas. Trouxe-o para Washington e em 1964 ao chegar ao Newport Folk Festival, Hurt deparou-se com uma plateia cheia de betinhos brancos de Nova Iorque que gritavam pelo seu nome, o pobre homem deve ter olhado para o lado e perguntado “É mesmo por mim que chamam?”, suspeitava lá ele que alguém fora de Avalon o conhecia...

O resto é história mas uma história curta. John Hurt viveu uma breve fama dando vários concertos um pouco por todo o lado, gravando álbuns e até apareceu no programa Tonight Show, mas logo em 1966 viria a morrer de ataque cardíaco. Afinal já não era um jovem.

Neste vídeo perceberão o quão um artista pode ser uma pessoa... simples.



29 janeiro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #12: Elizabeth Cotten

Elizabeth Cotten nasceu em 1895 num sítio qualquer no North Carolina, sim era neta de escravos. Aos oito anos começou a roubar a guitarra ao irmão quando ele saía de casa e por ser canhota e ele não, Libba foi desenvolvendo de forma auto-didacta a sua técnica dedilhada que mais tarde ficou conhecida como técnica cotten-picking e que consistia no dedilhar as cordas com dois dedos apenas, sendo que o polegar tocava nas notas agudas ao contrário do habitual. Aos doze anos Libba já trabalhava, aos quinze casava-se e durante 25 anos não tocou guitarra porque na igreja lhe tinham dito que ragtime era música do diabo. Um dia, conta a lenda ou os pontos acrescentados dos outros pontos, teve a sorte de encontrar na rua uma criança perdida. Era a filha do musicólogo etnográfico Charles Seeger e da compositora Ruth Crawford Seeger, e ao devolvê-la aos pais, estes, em sinal de agradecimento, contrataram-na como empregada doméstica. Na casa dos Seeger também viviam o famoso músico-folk-de-intervenção Pete Segeer e o musicólogo-produtor-folk Mike, eram irmãos, penso que meios. Na casa também havia guitarras e banjos e cedo Libba foi aproveitando as horas em que todos estavam fora para assim ir recuperarando o gosto e a técnica. Um dia foi apanhada, corou, desculpou-se. Mas eles quiseram mais, não queriam acreditar no que ouviam. Foi aí que diz a lenda, Pete Seeger disse a célebre frase “Toca mais, toca mais”. Rapidamente a família se juntou para arranjar concertos a Libba e ela “Mas eu sou demasiado humilde para isso eu apenas sei limpar o pó e lavar a loiça” e o Pete “Toca mais, toca mais”. Em 1958, já Elizabeth Cotten tinha mais de 60 anos, quando Mike Seeger a gravou no álbum “Folksongs and Instrumentals with Guitar”.
Com o revivalismo folk e blues nos anos 60, Libba foi aos poucos trocando a vassoura e o esfregão por concertos em festivais de música tradicional americana.
A sua música mais famosa Freight Train foi escrita quando ela tinha nove anos e nenhum historiador sabe se há-de incluí-la na lista dos grandes ragtimes do início do século XX, porque apesar de ter sido escrito nessa altura, apenas foi dada a conhecer às pessoas várias décadas mais tarde.
No primeiro vídeo deste post Elizabeth Cotten tem 90 anos, podia ser a vossa bisavó mas a vossa bisavó não toca assim.