Como não é correcto para os leitores Altamont começar as coisas para as deixar a meio, vou aqui terminar aquilo que me propûs a fazer - a análise da carreira dos Radiohead álbum a álbum.
Após as tensas sessões de gravação para Kid A e Amnesiac, foi decidido pela banda dedicar menos tempo nesse processo ao novo álbum, de forma a evitar alguns conflitos ocorridos anteriormente, ao mesmo tempo que permitia aos membros já com filhos passarem mais tempo com as suas famílias. Yorke chegou a afirmar mais tarde que gostaria de ter passado mais tempo em estúdio, mas na minha opinião não valia a pena. Por vezes, o facto de manter as coisas mais simples traz ao de cima o melhor. E penso que assim terá ocorrido na gravação deste Hail to the Thief, cujo nome do álbum advém supostamente de uma variação de "Hail to the Chief", música entoada para o Presidente dos EUA, na altura George W. Bush, do qual Yorke sempre foi (mais) um acérrimo crítico.
Costuma-se dizer que não há como uma primeira impressão de algo. Pois bem, Hail to the Thief, ao contrário dos 2 álbuns anteriores dos Radiohead nos quais foram precisas mais atentas audições, conquistou-me à primeira audição. Nos primeiros segundos de cada música, uma a uma, conquistou-me. Vou tentar recriar aqui em palavras, na medida do possível, esse sentimento: Abre-se o package (é que não é uma caixa, não é um livro, não é uma embalagem... é mesmo um package, perdoem-me os mais aguerridos defensores da pureza da língua portuguesa, mas é mesmo um package lindo, fora do normal em tamanho e conteúdos, com um enorme mapa, as letras das músicas, extraordinário só por si), tira-se o CD, e mete-se no sistema de som. E começa "2+2=5.", uns sons de aquecimento, como que um ligar do sistema e música, apenas voz, piano e uma ligeira batida a acompanhar. Um manifesto de intenções, "Are you such a dreamer/ To put the world to rights?/ I'll stay home forever/ Where two and two always makes up five." Depois entra a guitarra, lentamente. Até que passados 2 minutos o ataque passa a ser frontal "You have not been payin' attention!" é-nos gritado ouvido dentro, acompanhado pela intensidade da guitarra, com um riff que estava pronto a sair da guitarra do Ed O'Brien ao tempo, bateria, ritmo forte. Uma clara demonstração que há algo aqui a que tomar atenção e foi o que fiz. Ouvidos ainda mais alerta. E volta a calmia patente no início do álbum com o começo de "Sit Down. Stand Up." Mas o ritmo em crescendo rapidamente nos mostra que é sol de pouca dura e aos 3 minutos a música atinge o auge com o início de uma batida demoníaca, com Yorke a repetir constantemente "The raindrops?". Neste momento já estou encostado à parede, rendido à intensidade que me foi colocada à frente e ainda só vamos na segunda música. Por isso, nada como acalmar as hostes, com uma balada, "Sail to The Moon." Há sempre uma nos álbuns dos Radiohead, e esta está ao nível delas todas. Já recuperei o fôlego, e continuo deslumbrado com cada momento vivdo até então. Next song: "Backdrifts". Reminiscências de Kid A e Amnesiac não poderiam faltar, como se dúvidas houvessem, esses álbuns não foram experiências isoladas, são na realidade elementos definitivamente integrados no som da banda. "Go to Sleep" também demonstra isso, fazendo lembrar "Knives Out", e reforçando o manifesto inicial "We don't want the loonies taking over/ Over my dead body!". Qualquer semelhança entre um loonie e Bush é mera coincidência...
"Where I End And You Begin" é mais um excelente momento do álbum, da qual realço o êxtase final, que desagua num regresso ao piano, acompanhado de palmas, em "We Suck Young Blood", mais uma música que nos convence que é calma e pacífica, e depois nos ataca inesperadamente para depois nos deixar novamente ao "abandono" das palmas e piano, sempre com a voz de Thom Yorke a envolver-nos totalmente. "The Gloaming" leva-nos de volta a Kid A, enquanto que "There There", primeiro single do álbum nos recebe a som de tambor e é mesmo um momento em que confluem todas a história dos Radiohead. Como que se conseguissem juntar numa música só tudo o que fizeram na sua carreira. Lembro-me perfeitamente que foi a música de abertura do concerto que deram em Lisboa antes do lançamento do álbum, que serviu para testarem as músicas ao vivo, e a estranheza que causou ver Ed O'Brien de baquetes em punho a bater no tambor. Mas estranheza, com os Radiohead, é um sentimento que passa depressa...
O arranque para a parte final do álbum dá-se com "I Will", calmo e tranquilo, seguido de "A Punch Up at a Wedding". Mas o grand finale, a que os Radiohead sempre nos habituaram, fica neste álbum a cargo de uma sequência de 3 músicas, "Myxomatosis", "Scatterbrain" e "Wolf at the Door". Totalmente distintas mas que resumem o que são os Radiohead. Pouco vou dizer sobre elas, porque pouco há mesmo a dizer. "Wolf at the Door" ficou no meu ouvido desde a primeira audição, durante o concerto no Coliseu em 2002, 1 ano antes do álum sair. E foi isso que disse aos elementos da banda quando tive a sorte de falar com eles no já longíquo dia 24 de Julho de 2002...
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