29 janeiro 2010

Chafurdando nos primórdios da música tradicional americana #12: Elizabeth Cotten

Elizabeth Cotten nasceu em 1895 num sítio qualquer no North Carolina, sim era neta de escravos. Aos oito anos começou a roubar a guitarra ao irmão quando ele saía de casa e por ser canhota e ele não, Libba foi desenvolvendo de forma auto-didacta a sua técnica dedilhada que mais tarde ficou conhecida como técnica cotten-picking e que consistia no dedilhar as cordas com dois dedos apenas, sendo que o polegar tocava nas notas agudas ao contrário do habitual. Aos doze anos Libba já trabalhava, aos quinze casava-se e durante 25 anos não tocou guitarra porque na igreja lhe tinham dito que ragtime era música do diabo. Um dia, conta a lenda ou os pontos acrescentados dos outros pontos, teve a sorte de encontrar na rua uma criança perdida. Era a filha do musicólogo etnográfico Charles Seeger e da compositora Ruth Crawford Seeger, e ao devolvê-la aos pais, estes, em sinal de agradecimento, contrataram-na como empregada doméstica. Na casa dos Seeger também viviam o famoso músico-folk-de-intervenção Pete Segeer e o musicólogo-produtor-folk Mike, eram irmãos, penso que meios. Na casa também havia guitarras e banjos e cedo Libba foi aproveitando as horas em que todos estavam fora para assim ir recuperarando o gosto e a técnica. Um dia foi apanhada, corou, desculpou-se. Mas eles quiseram mais, não queriam acreditar no que ouviam. Foi aí que diz a lenda, Pete Seeger disse a célebre frase “Toca mais, toca mais”. Rapidamente a família se juntou para arranjar concertos a Libba e ela “Mas eu sou demasiado humilde para isso eu apenas sei limpar o pó e lavar a loiça” e o Pete “Toca mais, toca mais”. Em 1958, já Elizabeth Cotten tinha mais de 60 anos, quando Mike Seeger a gravou no álbum “Folksongs and Instrumentals with Guitar”.
Com o revivalismo folk e blues nos anos 60, Libba foi aos poucos trocando a vassoura e o esfregão por concertos em festivais de música tradicional americana.
A sua música mais famosa Freight Train foi escrita quando ela tinha nove anos e nenhum historiador sabe se há-de incluí-la na lista dos grandes ragtimes do início do século XX, porque apesar de ter sido escrito nessa altura, apenas foi dada a conhecer às pessoas várias décadas mais tarde.
No primeiro vídeo deste post Elizabeth Cotten tem 90 anos, podia ser a vossa bisavó mas a vossa bisavó não toca assim.