Vou começar por uma referência a um filme - em "Juno", a dado momento, discute-se qual o melhor ano da música. Juno, a personagem principal, mostra como argumentos para defender 1977 os Stooges, a Patti Smith e os Runaways. Mas na minha opinião, se ela queria mesmo defender tanto esse ano era dos Television que tinha que ter falado. Dos Television e especialmente deste Marquee Moon, álbum que hoje, à distância de 34 anos sinto um pouco perdido no esquecimento. Injustamente no esquecimento, injustamente metido nas prateleiras de descontos numa qualquer grande loja de música. Recordemo-nos portanto do caminho desbravado por Tom Verlaine, mentor da banda, no que respeita ao movimento punk - foi ele que convenceu Hilly Kristal, dono dum então desconhecido clube de country, blue grass e blues (para bom entendedor meia palavra basta...) a aceitar bandas rock a tocarem no seu estabelecimento. Corria o ano de 1974. O resto é história da música, nível básico - grupos como Ramones, Blondie, Talking Heads, a própria Patti Smith, saíram desse antro cavernoso para o mundo.
Um aspecto que me intriga bastante é o facto de que, hoje, os Television são quase sempre rotulados como uma banda pós-punk. Agora expliquem-me, como pode uma banda que começou a dar concertos em 1974 e que lançou este álbum em 1977 ser pós-punk? Algo de estranho se passa no mundo dos rótulos (diria que sempre foi assim e a rotulagem de pouco ou nada serve, mas...). Agora uma coisa é certa - a música dos Television é de uma complexidade que em nada tem a ver com os 3 acordes, um refrão, 2 minutos e está feito. Basta pensar que "Marquee Moon", a música, teve de ser cortada para 9:58 minutos para caber no LP. Só com a re-edição em CD de 2003 nos chegou a versão completa com os seus 10:40. Basta pensar nas letras de um Tom Verlaine, que nascido Thomas Miller foi buscar o seu nome artístico ao poeta francês Paul Verlaine. Basta pensar nas variações de ritmo dentro das músicas, na utilização de algumas escalas jazzísticas, no contraste das guitarras ritmo e solo, força motora do álbum. E foi juntando todos estes ingredientes que se fez história.
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