20 janeiro 2005

Smoke on the Water: The Deep Purple Story - Part II



1970 era o ano da consagração dos Deep Purple! Em Outubro, o grupo gravava com a prestigiada Royal Philarmonic Orchestra o "Concert for Group & Orchestra", uma composição clássica de Jon Lord dividida em três "movimentos" que recebeu inúmeros prémios da imprensa britânica. A fechar o ano, o single "Black Night" atingia o top dos singles mais vendidos de Inglaterra.
A "Purplemania"alastrava por toda Europa, EUA, Japão e Austrália. Mas atrás do sucesso vem sempre algum problema. Apesar de se complementarem 100 % musicalmente, Ian Gillan e Ritchie Blackmore eram o "ying" e o "yang" do rock n roll. Muitas das suas discussões transportadas para o palco eram o melhor dos espectáculos, porém em estúdio, a tensão era insuportável.
Em meados de 1971 o grupo gravava o álbum "Fireball". O álbum apesar de ter mais sucesso que"In Rock", musicalmente não era tão forte. Alguma da imprensa acusava os Purple de serem demasiado experimentais em faixas como "Fools" e "Demon´s Eye" e demasiado comerciais em "Strange Kind of Woman" e "Fireball".
Contudo, a melhor maneira de calar as críticas é dar-lhes uma grande resposta. "Machine Head" de 1972, foi o álbum mais dificil que os Purple gravaram, mas também certamente o mais inspirado.
O disco estava para ser gravado inicialmente num teatro do "Casino de Montreaux," mas na véspera o local ardeu durante um concerto do Frank Zappa, ao qual o próprio grupo assistia.
Em 10 minutos o fogo espalhou-se por todo o complexo, tendo ardido mais de um terço da baixa da cidade. No dia seguinte, o baixista Roger Glover ao acordar na varanda do seu hotel, olha para a cidade destruída á beira do lago Geneva e exclama "Smoke on the Water".
Ao inicio o grupo estava relutante em usar a ideia de Glover. Mas quando o riff de Blackmore apareceu e as palavras de Gillan começaram a sair...nascia a lenda! Smoke on the Water, vendeu mais de três milhões de singles nos EUA, tendo sido entre 1972/1973 a canção mais passada nas rádios Fm!
Entretanto em Agosto 1972 a banda em tourné pelo Japão era convidada pela editora local a fazer um álbum ao vivo. Gravado em dois espectáculos em Osaka e um em Tokyo (o famoso Budokan), "Made in Japan" é considerado por muitos um dos melhores álbuns ao vivo de sempre da história do rock.
Do início de "Highway Star", passando pelo épico "Child in Time" e indo até "Space Truckin", os Purple fazem-nos viajar por milhões de escalas e notas musicais capazes de porem a nosso cérebro a andar á roda. Se fumarem um "porrozito" a ouvirem isto garanto-vos uma viagem de ida e volta a Marte com paragens em Saturno e Titâ.
Nesse disco, a versão de "Strange Kind of Woman" é soberba...a uma certa altura a troca de solos entre a voz e a guitarra fazem-nos pensar se a voz de Gillan não é uma "Fender Stratocaster" igual á de Blackmore!!
Infelizmente toda esta química não estava para durar. Em Julho de 1973, depois da saída do álbum "Who Do We Think We Are", Ian Gillan anunciava a sua saída do grupo. O vocalista farto das pressões da industria; da vida "mundana" das digressões norte americanas e das birras de Ritchie Blackmore, não voltaria a tocar ao vivo até 1976.
A saída de Gillan deixava uma posição dificíl de preencher. Contudo os restantes membros não baixaram os braços e começaram a procurar um substituto á altura...
Durante as audições para um novo vocalista, Roger Glover era despedido da banda por questionar "demasiado" o rumo musical que a banda estava a tomar. O castelo de cartas dos Purple parecia-se estar a desmoronar aos poucos...
Sem vocalista e baixista, Blackmore, Lord e Paice pensaram em separar-se de uma vez por todas, mas quando ouviram Glenn Hughes num bar em Los Angeles, o caso mudou de figura.
Glenn Hughes era o baixista e vocalista de uma banda inglesa chamada "Trapeze", pioneiros de um estilo que depois imortalizou os ZZ TOP: o Boogie Rock! A sua voz não ficava nada atrás dos agudos de Gillan e o seu estilo de baixo era mil vezes mais virtuoso que o de Glover. Tentem imaginar um Flea dos Red Hot Chilli Peppers com visual de metaleiro e um vozeirão misto de Stevie Wonder e Robert Plant. Parecia um casamento feito no céu...
Porém o enigmático Blackmore, não se sentia satisfeito com o "dois em um"! Ritchie preferia uma voz mais "bluesy", com um registo mais grave.
Quatrocentas e vinte audições depois e dois meses de agonia, aparece um "puto" vindo do noroeste de Inglaterra: David Coverdale!
Coverdale nunca tinha cantado profissionalmente e trabalhava como vendedor de" jeans" numa boutique em Redcar. Um amigo da loja, viu no jornal "Melody Maker" que os Purple precisavam de um vocalista e lembrou-se de David poderia candidatar-se ao cargo, já que o mesmo tinha gravado á pouco tempo uma "demo-tape" com o grupo "Fabulosa Brothers"! Quando a demo chegou aos escritórios dos Purple em Londres, Blackmore e Lord não hesitaram em contratar o "puto"...
Com esta nova formação e entusiasmo rejuvenescido, o grupo volta a Montreaux para gravar o álbum " Burn" em finais de 1973. No dia 29 de Dezembro desse ano, o grupo recebia a informação da revista Billboard de que todos os seus álbuns de estudio se encontravam no top 200 e que "Made in Japan" era dos 5 mais vendidos nos EUA.
1974 seria mais um ano em grande para os Purple. A 6 de Abril o grupo tocava para mais de 400 mil pessoas no festival "California Jam" em conjunto com os Black Sabbath, Eagles e Emerson, Lake & Palmer. O grupo era uma máquina de fazer dinheiro: cobrava 40 mil dólares por espectáculo e as vendas de discos cifravam-se nos 18 milhões.
Mas como nem tudo são rosas...no final de 1974, o imprevisível Blackmore anunciava a sua saída do grupo, após a gravação de "Stormbringer". Felizmente para os fãs, uma digressão europeia já estava marcada e o guitarrista era obrigado a cumprir os contratos.
Algumas destas datas de despedida foram das melhores de sempre em que o grupo actuou. Os shows de Paris e Berna haveriam de resultar no álbum "Made in Europe". Oiça-se com atenção os solos de voz e guitarra de "Mistreated", que fazem chorar as pedras da calçada. Ou mesmo as guitarras potentes e ferozes de "Burn" e "Stormbringer" para pular e gritar por mais.
No final da digressão, Blackmore formaria os Rainbow com o vocalista Ronnie James Dio, partindo para outros voos de "peso". Os outros começavam a fazer contas á vida...
A primeira reacção foi desistir. Como dizia e bem Jon Lord: "Ritchie era a fábrica de músicas da banda". Era impensável continuar sem o "mestre das cordas de aço"...o homem dos "riffs de fogo".
Coverdale pensava de maneira diferente. Para quê desistir? Se o génio "morreu", arranje-se outro. Esse outro encontraram-no na praia de Malibu no verão de 75, sob o nome de Tommy Bolin.
Thomas Richard Bolin, era um nativo do mid-west americano, descendente de indios sioux. O seu primeiro instrumento foi uma bateria. Mas quando tinha 14 anos, depressa percebeu que o seu futuro estava numa viola electrica "fender". O seu jeito rápido, a sua capacidade de improvisação (ora rock, ora Jazz) fizeram-no um dos guitarristas mais procurados pelos estúdios da América no inicio dos anos 70.
Bolin tocou com todos os mestres do Jazz-Rock: John McLaughlin; Billy Cobham; Jan Hammer; Otis Rush; Jeremy Steig, Jeff Beck, entre outros. No entanto o rock e o dinheiro falavam mais alto e em finais de 73, Bolin juntava-se ao colectivo James Gang, muito popular na altura nas terras do tio Sam.
Em Junho de 1975, Bolin estava desmpregado e tentava desesperadamente obter um contrato para gravar um álbum a solo. Quando Coverdale e Hughes o convidaram para fazer parte da banda, Tommy não hesitou.
O álbum "Come Taste the Band" foi o disco menos vendido dos Purple nos anos 70. Apesar disso, ele revelava uma grande capacidade de inovação (pouco comum em bandas Hard Rock). Escute-se os calmos "You Keep on Moving" e "This Time Around"; os funky "Gettin Tighter" e "Love Child" ou até o "Heavy" "Comin Home", para se perceber que este era uma quimica de músicos excepcionais e que o génio de Bolin não ficava nada a dever ao de Blackmore.
A tempestade estava para vir depois, quando o grupo iniciou nos finais de 1975 uma digressão mundial...
Tommy começava a revelar o seu lado negro. Recém chegado a um mundo onde as drogas se podem comprar em qualquer lado e em qualquer momento, Bolin tornou-se um viciado em Heroína. Muitas das suas "performances" deixavam muito a desejar nas digressões Asiática e Australiana. Para ajudar a este problema, Glenn Hughes tornava-se um dependente da Cocaína.
Muitas histórias e peripécias se contam desta tournée, mas quando o "circo" chegou ao continente norte- americano as coisas piaram doutra forma.
O álbum ao vivo "On the Wings of a Russian Foxbat" mostra o grupo na sua melhor forma, capaz de rivalizar com a formação dos tempos de Ian Gillan.
Apesar deste "breve" regresso á forma, o excesso de drogas, alcóol e egos á mistura continuavam a ser o dia-a dia da banda.
Em Maio de 1976, Coverdale anunciava inesperadamente a sua saída da banda num concerto em Liverpool. Jon Lord e Ian Paice cansados de mais uma mudança na formação, comunicavam aos managers e à imprensa, o fim dos Deep Purple...
(continua...)

1 comentário:

frederico disse...

então para quando a terceira parte? WE ARE WAITING FOR IT!!