15 março 2005

A Música no Séc. XX



O século XX é o século da música tal como a conhecemos nos dias de hoje. É o século de todas as mudanças, quer a nível cultural, como civilizacional. Obviamente que uma coisa puxa a outra, nada nasce do nada, no entanto o acaso pode mudar muitas coisas.
Quando ligamos uma TV, quando mudamos de posto de rádio, quando pomos um disco que acabámos de comprar não estamos apenas a ouvir aquele instante, aquele som. Estamos a ouvir séculos e séculos de evolução humana em todos os níveis. A música, tal como a conhecemos nos dias de hoje, como todas as artes, faz parte da evolução humana, não é estanque e não é, sobretudo, temporal ou local. No entanto, isto nem sempre foi assim. Antes de Colombo ter partido para o Novo Mundo, Vivia-se um clima de culturas fechadas sobre si mesmas. O Oriente não influenciava o Ocidente e vice-versa, talvez exceptuando as invasões árabes na Península Ibérica onde deixaram marcas a vários níveis, tanto cultural como civilizacional. No entanto, com os Descobrimentos abriu-se uma porta imensa para a evolução da música, sem nunca sequer se ter feito nada directamente para que isso acontecesse. Foi, sobretudo, obra de todas a História do desenvolvimento humano.
Sendo assim, a evolução da música pode esclarecer-se a nível histórico. Com a descoberta do Continente Americano por parte dos navegadores Europeus, a senda humana da exploração e conquista de novos territórios esteve à vista. Ainda hoje o Homem procura essa senda no espaço.
Precisava-se então de expandir territórios, criar novas colónias no Novo Mundo. As tribos locais, pouco acostumadas a trabalhos pesados, não puderam servir como mão-de-obra para a construção de uma nova civilização. A resposta foi dada com o transporte negreiro de escravos africanos para o continente americano. Estes, já habituados a trabalhos forçados, adaptaram-se bem em terras coloniais. A ponte África-América foi longa e muito proveitosa para os Europeus. À primeira vista poder-se-ia pensar que apenas se estaria a falar de mais um texto histórico sobre os Descobrimentos, porém, é neste momento que a música, tal como a conhecemos hoje, dá o primeiro passo. Não foram apenas os Negros que viajaram para o continente americano. Estes escravos levaram toda a sua cultura para o novo mundo, incluindo, obviamente, a sua musical tradicional, de um cariz tribal, muito marcada pelo ritmo, embora parecendo desconexo ao ouvido de um ocidental, fazendo-a atravessar léguas e léguas sem se precisar de Internet, TV ou Rádio.
Ora, tal como os escravos levaram a sua cultura, também os Europeus a levaram, tal como a sua música, caracterizada por um estilo muito certinho e “limpinho”, ao contrário da africana.
Estes fluxos migratórios sucederam-se durante vários anos, intensificando-se a partir do final do Séc. XIX, dada a crise que se vivia em alguns pontos da Europa, sobretudo na Irlanda.
Assim, aos poucos, as diversas culturas foram-se aproximando, o que fez com que a própria música se fosse misturando, fazendo com que cada ponto colonial tivesse o seu próprio panorama musical, tão longe e tão perto um dos outros.
Assim nasceu o Samba, o Tango, a Cumbia, o Mambo, o Vudu ou o Reggae.
Muitos destes sons viajaram para os Estados Unidos influenciando outros estilos musicais que aí se tinham imposto, tal como o Jazz, voltando outra vez para as colónias já com um som completamente distinto.
Porém, é nos Estados Unidos que a música dá o salto final para que hoje oiçamos toda a música que nos rodeia.
O Blues, esse espírito tão próprio do sul dos Estados Unidos, teve obviamente a ver com a questão da escravatura, sobretudo nos campos de algodão e da permanente perseguição aos negros por parte de grupos racistas tal como os KKK. O Jazz, tem tudo a ver com os ritmos, supostamente desordenados, dos ritmos africanos. O Rock’n’Roll, surgido nos anos 50, por negros e mais tarde aculturado por ícones brancos, como Elvis, nasce da electrificação dos instrumentos e torna-se no primeiro grande movimento juvenil que traz a revolução na música do Séc. XX. São estes primeiros Rockeiros dos anos 50, como Fats Domino ou Little Richard que vão influenciar miúdos ingleses, desejosos de sons quase proibitivos. Entre estes míudos encontravam-se os Beatles, que, ao conseguirem introduzir a música inglesa, de origem americana, nos Estados Unidos vão continuar essa tal revolução que se estava a passar. A música já tinha viajado ida e volta várias vezes durante estes séculos, sempre em constante mutação.
A partir dos anos 60, a abertura da música Ocidental a outras culturas, como a Oriental, com o caso dos Beatles, outra vez, a irem buscar sons à Índia, fazendo a música cada vez se tornar mais una e colectiva. Daí podermos falar de uma identidade colectiva em relação à música. Ela construiu-se e modificou-se com o contacto entre os vários povos e as várias culturas. Ela não nasce do nada, há sempre algo por trás. Acontecimentos políticos, culturais ou apenas circunstanciais fazem com que pessoas ou povos se aproximem e partilhem as suas tradições, fazendo que, por vezes, essas tradições se misturem e criem uma só. É essa a História do Homem desde os tempos primórdios. Sozinho não sobreviveria. Obviamente que haverá sempre culturas típicas, no entanto todas elas já foram tocadas por algo vindo do exterior, sendo que, nos dias de hoje isso é cada vez mais visível. A velocidade de informação permite-nos ter acesso a sons ou imagens que nunca poderíamos provavelmente ter acesso.
A história da música do Séc. XX foi esta, a do Séc. XXI promete ainda ser mais culturalmente abrangente.

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