09 novembro 2010

Álbum Fresquinho: Interpol -"Interpol"

Há uns dias um velho comparsa meu atirou-me para a cara: "os Franz Ferdinand estão datados!". Como não estava à espera de uma intervenção assim fiquei meio estupefacto e tentei rebater a afirmação, ao qual ele me diz: "há quanto tempo não ouves um álbum de FF de início ao fim?". Desarmou-me. De facto, Franz Ferdinand, como o indie rock em geral está a ficar datado. Já são dez (10!) anos de boa música de um estilo que veio "salvar-nos" da mediocridade do pop/rock que vigorava no fim dos anos 90. Pois bem, em dez anos passam-se muitas coisas. O mundo muda, os estilos mudam. Os próprios Beatles nem dez anos duraram. É complicado a uma banda manter-se honesta e no "top of the game" por muito tempo. As pessoas cansam-se e é normal. O indie rock está a morrer aos poucos, lentamente e este último disco dos Interpol é uma das imagens desse falecimento. Tanto a nível estético como lírico.
Apenas intitulado "Interpol", algo que a maior parte das bandas o faz logo no primeiro disco, o que poderá querer significar que o ciclo fechou e a partir de agora ou se entra por outros caminhos ou se começa a apagar lentamente como uma fogueira a qual não alimentamos mais, ou porque não precisamos de mais calor ou porque não temos mais lenha (leia-se ideias). "Interpol", quarto disco de originais da banda nova-iorquina, liderada por Paul Banks, agora com menos um elemento, cheira apenas a competente, o que não é mau, mas não é bom. Não tem a melancolia e estranheza de Turn on the Bright Lights nem a pujança e velocidade de Antics nem sequer o lado mais apelativo de Our Love to Admire. Serve para entreter, para meter lá no meio dos bons mas sem sair muito da estante. O fogo está a apagar-se mas ainda lança algumas labaredas e nos queima como em "Success", "Lights" ou "Barricade" e ainda nos leva a alguma mais distante sombria na trilogia final com "Try It On", "All the Ways" e "The Undoing". Tudo somado não nos deixa desiludidos porque já não estamos mais à espera de muito. Tal como eles, crescemos, expandimos horizontes e já estamos prontos para o futuro pós indie-rock. Falta eles darem o próximo passo ou o fogo apagar-se-á para sempre...

8 comentários:

Bernardo ON disse...

se o indie rock morreu o que vem a seguir?
Cisto, vask, alex, fred, gostava de ouvir de vocês.

Alex disse...

Isso fazer futurismo é deveras dificil. Houve uma altura em que qualquer gajo que se atrevesse a tentar acabava queimado vivo, pelo que quero desde já salvaguardar os meu direito à vida.
De qualquer modo, e como gostamos de tentar responder aos nossos entusiastas leitores, diria que, e contradizendo um pouco o argumento do editor-chefe, o indie rock não vai morrer. A provar isso mesmo está o facto dos Kings of Leon e Killers estarem nos tops de vendas por todo o lado. Os nossos gostos pessoais é que caminham para o abandono do indie rock derivado de exaustão e massificação do mesmo. Agora para onde se vão virar os nossos gostos varia de pessoa para pessoa.

frederico disse...

Bem, dizer o que vem a seguir é complicado. Por vezes, pega-nos assim do nada sem estarmos muito à espera e aparece uma banda meia do nada que começa a definir o caminho para outra onda. Não me cheira que o revivalismo dos 90s pegue de modo a sair daí outra interpretação mais actual. O que quis dizer com o fim do indie rock é o desgaste das ditas super bandas do indie rock. Franz,Interpol,Strokes ou mesmo Arcade Fire. É um estilo que começa a dar os últimos fôlegos e, exemplo disso são, como referiste, os killers e os kings of leon que viram um caminho mais fácil no dito indie rock e agora são bandas de carácter alternativo que se abriram ao mundo em geral. O indie começa a tornar-se massificado mas com menor qualidade e com isso perde o seu quê de interesse. Obviamente que haverá sempre bandas do indie rock mas parece-me que está a perder importância aos poucos...

Cisto disse...

Adoro foruns acerca de "catalogações". Para mim indie rock não existe. Tal como grunge não existe. Ou psicadelismo. Movimentos são boring. Limitados. Vêm por arrasto de uma determinada banda que tem sucesso e de repente surgem 30 que as tentam de certo modo copiar.
Nesta década de que vocês falam, a nível de rock/pop (unica categorização que admito precisar de existir), pouquíssimas bandas merecem destaque, e quanto menos associadas à moda do Indie, melhores são.
O que me interessam são os artistas em si. O que têm para dizer. Evidentemente o homem não se consegue distanciar do que o rodeia, ser influenciado por tal. Mas o movimento Indie por si mesmo, tal como o Grunge ou o New Wave, não me interessa para nada.
Quanto aos Beatles, tenho só a dizer que o Lennon durou pelo menos mais 10 anos que eles. Mas aquilo em que acredito é que o universo do Lennon, do seu nascimento à morte, está presente na sua obra. Redutor dizer-se que os Beatles duraram 10 anos.

Sintomática tb é a frase do Fred em reduzir o final dos anos noventa ao medíocre, quando teve Deerhoof, Radiohead, The Brian Jonestown Massacre, Sonic Youth, Mogwai, Godspeed You! Black Emperor, Sigur Ros, entre outros, a estabelecerem novos limites no rock and roll, coisa que o revivalismo dos Interpol, Kings of Leon, White strap e Strokes não ousou fazer, nem de perto nem de longe. Má música e boa música existiram sempre, principalmente a má, independentemente das ondas em que se inserirem.

frederico disse...

Raul, gosto sempre dos teus comentários porque falas por ti e tens a tua opinião não matter what, no entanto, quer queiras, quer não, os rótulos servem para ajudar e agrupar coisas, o que não quer dizer que as pessoas tenham que ser acéfalas e se regerem por isso, do tipo "se esta banda é boa e eu gosto, aquela tb é indie rock tb devo gostar". Não. A catalogação de estilos ou "movimentos" serve para ajudar como um corredor de congelados serve num supermercado. Os gelados não são iguais a camarão congelado mas fazem parte do grande grupo dos congelados.
Quando disse que os Beatles nem duraram dez anos referia-me à banda física como uma explicação de que tudo tem um fim, até as boas coisas, o que não quer dizer que o fim seja mau, pois o Lennon e o Harrison fizeram coisas tão boas ou melhores pós-FAB.
No que diz respeito aos anos 90. É óbvio que houve coisas muito boas e que arriscaram muito mais. Mas não eram uma força como esta década teve. Quer gostes ou não.

Alex disse...

Isto da música é um ciclo vicioso. Há sempre alturas mais viradas para coisas mais simples e outras viradas para coisas mais elaboradas. A História da música é feita destes ciclos: complicar - simplificar. Naturalmente que o simplificar apela mais às massas. O caso dos Kings of Leon é emblemático, na medida em que começaram com sons crus, muito ligado ao folk, e foram simplificando para chegar às massas.
concordo também com o q o Raul diz, não se pode meter tudo no mesmo saco, porque diferentes bandas reagem de forma diferente. Mas na grande história da música, parece-me claro que o que vem aí é complicar as coisas, passados que estão 10 anos de simplificação.

Alex disse...

Até acrescento que esta tal mudança já ocorre, nós é que nos fomos deixando ficar no tal indie rock, mas a veia criativa do mesmo já desapareceu há algum tempo. A mudança passará por exemplo por uns Animal Collective. Uns Fleet Foxes. Especialização num género específico em vez de mistura de tudo num saco.

ico costa disse...

indie rock é o caralho.

a estupidez faz crescer pêlos na testa.