deixei-a na estação
deixei-a na estação
chovida, molhada
na insegurança dos seus passos trôpegos
de uma bebedeira insolúvel.
os olhos amargos da pior estação do ano
um copo que inclinava
e descaía,
descaía.
entrei na carruagem
e na altura parecia-me decidido,
mentira,
olhámo-nos com olhos sufocantes
estudando quem abandonaria quem
e porquê,
estáticos até o horizonte se transformar
em túnel.
foi triste,
infantil, fomos tão infantis.
perdidos.
abandonados.
(já tinha dito?)
lá fora chovia e a cidade
matava os desprevenidos e escorraçava as pessoas
e limpava tudo
e ela era uma miúda
e eu deixara-a
entregue a um regresso injusto.
não interessa os passos mal dados,
lá fora chovia e era de noite,
não fizera nada, coitada
sou eu que não gosto de tudo
e pronto.
chegado a casa
deitei-me na cama.
olhei para o tecto
e o tecto olhava para mim.
um silêncio de mudos,
a culpa em mim, a verdade nele.
fumei um cigarro com os olhos,
esperando o que ele tinha para me dizer:
esperando o que ele tinha para me dizer:
“malvado,
agora é altura de te arrependeres.”
então aqui
estou
eu.
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