15 outubro 2010

Discussão à 6ª: Música Clássica

Qual o valor que damos hoje à música clássica? Foi esta a pergunta que me veio à cabeça ao ter uns minutos livres no intervalo entre a 40ª Sinfonia e o Requiem de Mozart e ao olhar à minha volta e aperceber-me que a média de idades dos presentes deveria rondar os 55 anos. Talvez até mais, mas não quero parecer exagerado e distrair do ponto principal da questão. E o ponto principal que quero lançar é: Será a música clássica o apogeu da música e só tarde na nossa vida, com o acumular de conhecimento, sabedoria, percebemos isso? Ou será que nos falta é educação de base para nos apercebermos mais cedo da sua importância e grandiosidade?
Quero colocar desde já em cima da mesa e desmistificar um aspecto que é utilizado muitas vezes como justificativa - o aspecto financeiro. Hoje em dia um concerto de música clássica é mais barato que os concertos de pop/rock que por aí se vendem, basta um saltinho à página da gulbenkian e verão muitos concertos a menos de 30€, preço que paguei por um bilhete para ver os The Walkmen, por exemplo. As óperas são um pouco mais caras, é um facto, mas também é um outro nível de produção e de trabalho envolvido. Fica ainda com certeza mais barato que um qualquer jogo da Champions.
Assim sendo, o que desmotiva um jovem de 20 anos a nem sequer ponderar a possibilidade de ir experimentar um destes concertos? É algo que me atormenta, olhando para mim próprio que não o fiz aos 20 e só aos 30 comecei a abrir as portas a este mundo e agora penso que foram 10 anos que poderia ter acumulado mais uma camada de conhecimento e assim não foi. O que fazer para estimular os jovens a quererem conhecer mais do que o que lhes é oferecido?
Desde já agradeço a vossa opinião aqui abaixo na caixinha dos comentários!

14 comentários:

D. Samira disse...

Sinceramente acho que é uma questão de educação de base.. a educação musical resume-se a aprendermos umas notas, ler umas pautas, tocar flauta, e pauzinhos..e isto apenas por uns parcos anitos. Claro que depois existem sempre os pais que acham por bem meter os meninos no piano, no entanto se a envolvente em casa não existe, se não há uma cultura de se ouvir música clássica..torna-se uma actividade muito volátil. Quantos são os amigos que conhecemos que tiveram aulas de piano e que quando se aproximam do piano tocam os "Parabéns" ?

Penso que a apreciação de música clássica não tem muito a haver com maturidade mas sim com a disponibilidade para ouvir algo que não estamos habituados a ouvir..não nos é tão amplamente divulgada pelas, rádios, tv, etc..estamos habituados a ouvir talvez apenas como um elemento que emuldura uma seguencia de imagens de um filme..um agradável "ruido de fundo" e não como um elemento principal.

Por outro lado terem tornado o Nocturno opus9 n2, Primavera - allegro,etc.. em músicas de elevador ou de telefonemas em espera, contribui para o desânimo das nossas alminhas :D

Ludvigue van Bonoven disse...

Para quando análise e fotos ao concerto dos U2? Alguem aí sabe se foi fixe? obg e abc

Alex disse...

Olá Ludvigue. No Altamont não será feita análise a esse concerto pelo simples motivo de que sobre ele há artigos em qualquer jornal/site e o âmbito do Altamont é tentar mostrar coisas que são mais desconhecidas do grande público mas que a nosso ver merecem atenção. De qualquer forma, e como é pedido e não queremos deixar nenhum leitor desiludido, aqui ficam uns links com análises a esses concertos:

http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/66318

http://discodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=39844

http://www.publico.pt/Cultura/u2-monumentais-em-coimbra_1459165

Abc

João Amaral disse...

Não acho sinceramente, e com a credibilidade que isso tenha ou não,que seja só uma questão de educação de base como diz a D.Samira, apesar de também o ser. Senão assim teriamos de fazer o mesmo para o cinema, para as artes plásticas, escultura etc....

Há rádios dedicadas somente à música clássica e ópera, só ao jazz e até mesmo só ao fado (que na minha opinião é um género bem erudito e complexo apesar de populista).

Agora quantos de nós procuram essas rádios quando chegam a casa, no carro, etc? Será só pela educação que temos de base? Concordo com o Alex que talvez possa ser algo que só seja possível entender apartir de determinada altura da nossa vida. Não aos 20, aos 30 ou 40 mas quando estamos para isso preparados sensorialmente.

Ainda me lembro quando assisti à minha primeira ópera numa sala de espectáculos e de ficar completamente siderado com os cenários, a potência das vozes e toda a atmosfera. Voltei mais duas vezes e não mais... porque? Não sei, outras motivações talvez... não foi pelo dinheiro isso é uma certeza e concordo que essa não é certamente a razão, senão aplicar-se-ia a outras áreas do mundo musical...

Acho que há também um outro factor a considerar. Quantos jovens deixam de ouvir clássicos porque os coleguinhas acham "cena de cota careta" e quantos adultos com os tais 55 anos não vão para ser vistos ou só porque têm bilhetes que a empresa ofereçe? Esperemos que não muitos... mas o certos é que se ouvem comentários absurdos em algumas apresentações desse tal publico com a faixa etária mais recorrente.

O que é não sei, mas que é uma pena nem toda a gente apreciar isso é!

frederico disse...

Sinceramente acho que é um pouco de tudo. Educação, idade, maturidade e exposição. Quando era novo relacionava a música clássica com o meu avô e os seus inúmeros discos. O meu pai também tinha e tem vários e, por vezes, punha-os a tocar, e confesso que a maior me agradavam. No entanto, a minha "luta" não era essa. O Rock é parte integrante da juventude, é o que nos faz bater o coração e, por vezes, não dá para ter mais nada. À medida que vais crescendo não só o rock puro e duro te interessa. Vais buscar outros estilos(isto para quem é interessado), começas a ouvir sons mais antigos que associavas aos teus pais. Começas a ver que o Jazz afinal não é assim tão chato e penso que a música clássica é outro desses patamares que vais conquistando à medida que cresces. Obviamente que não é uma música para as massas nem tem que ser. Ela está lá. Vais buscá-la quando te sentires preparado. Seja aos 10,20,30 ou 90.

João Amaral disse...

Exactamente o que quis dizer... Thanks for making it seem simple :D

D. Samira disse...

Continuo a achar que tudo tem a ver com a educação e com a divulgação com o que nos rodeia..

Obviamente não se compara com o cinema que tem uma indústria massiva por trás nem com a apreciação de artes plásticas senão caímos no mesmo..basta ver o numero de pessoas que vai a exposições muitas vezes gratuitas..

Acho que no limite se baseia essencialmente na tua educação onde a escola, e familia têm um papel determinante mas não se esgota aí..a partir daí tens as ferramentas para procurares por ti. Mas sem isso..é muito dificil.


E sinceramente acho que ninguém deixa de ouvir algo que goste só pq outros achem caretas..mais uma vez se isso acontecer tem a ver com a educação e falta de personalidade :)

Relativamente ao bater de coração, acho que não há musica que arrepie, arrebate ou emocione como a música clássica..e para isso acho que não há idade..os bébés adoram musica clássica :D

frederico disse...

os bebes tambem gostam de lamber o próprio cócó...

Acho é que há espaço para tudo. Há momentos para tudo e a música clássica é apenas mais uma categoria da música que importa descobrir...

Alex disse...

Fred, não é "apenas mais uma categoria de música". Não há comparação possível do génio que está por detrás da composição de uma sinfonia com musica rock. É óbvio para todos.

Falta-nos uma boa parte de educação escolar e de sensibilização por parte dos pais. Não somos preparados para ouvir com atenção e para saber assimilar. João, essa conversa de que há rádios é bonita, mas falta o essencial - criar a vontade de descobrir. A escola formata-nos e corta esse impulso natural de querer absorver tudo o que nos rodeia e acabamos por aceitar o que nos é dado se não houver uma força de vontade muito forte. E isso é que é triste...

D. Samira disse...

Conheces bébés estranhos..e contorcionistas :D

Quanto aos momentos..sim tens razão há tempo e momentos para tudo por isso podes sempre ouvir de tudo :D não precisas esperar pelos 50 anos para a descobrir..afinal de contas já foi descoberta ;)

D. Samira disse...

Mas ninguém te pede que dês Mais valor..a interrogação era qual o valor..só isso :)

João Amaral disse...

Na escola também nos ensinam os pintores, escultores e não é por isso que as exposições gratuitas estão cheias como diz a Sara e bem...
Tal como existem pessoas que por possibilidades maiores (seja a escola que frequentaram, as aulas de pianos etc etc etc) que não ligam a minima à música clássica mesmo tendo estudado. E atenção que com possibilidades não falo em dinheiro!!! Na cova da Moura há um programa que proporciona isso aos putos desfavorecidos...
Eu nunca estudei música nem tive aulas de piano, nem isto nem aquilo na escola ou sequer em casa, porque os meus pais não ouviam nem ouvem e eu oiço... gosto e tenho as tais rádios sintonizadas mas porque aprendi a gostar não porque me forçaram a que assim fosse. Tem a ver com a personalidade de cada um e a predisposição para tal.
E para mim como já disse acima tem a ver com estarmos dispostos a receber essas influências... não precisa ser aos 20,30 40 ou 50 anos!! Há crianças de 2, 3, 10 anos que já ouvem e gostam. È na idade que nos sentimos preparados... e isso não há escola que ensine.
Faria bem a toda a gente ouvir, gostar etc e haver essa vontade de descobrir... Claro que faria!!!! Mas isso levaria as pessoas a gostar mais? A interiorizar? O que me leva a gostar de Rock & Roll? Não a escola certamente...
Essa cena dos bébés lamberem cócó é esquisita fred... :D

Cisto disse...

1)chamem-me zé-classificação mas chamar musica clássica ao que vocês querem dizer é demasiado inespecífico. Embora seja um termo entendido pela generalidade do público esbarra na questão temporal: como chamar àquela música que está a ser actualmente produzida por compositores com aspirações e educação semelhante à dos clássicos? música contemporânea? o termo, pois, música erudita é muito mais preciso, pois significa que os que a criam têm, na grande maioria dos casos, profundos conhecimentos musicais e o seu trabalho resulta de anos de estudo, reflexão e dedicação e não apenas de uma acid trip.
2)a Antena 2 é das melhores rádios do planeta.
3)posto isto, claro que é questão de educação, basta ver os programas escolares de países como a Alemanha e da quantidade de salas para concertos eles têm per capita para perceber isso. eu próprio despertei tarde para a musica erudita por essa mesma razão.
4)acho que é muito uma questão de predisposição: se a malta está predisposta a ouvir Arcade Fire no pavilhão do Atlantico, evidentemente não sabe apreciar música.

Alex disse...

Falei de música clássica porque estava de facto num concerto de música clássica, mas sim, o tema é extensível a toda a música erudita.

O principal ponto que falo não é educarem-nos música ou pintores ou afins. É educarem-nos a termos vontade de descobrir coisas novas e diferentes e não simplesmente aceitar o que nos oferecem. Isso para mim é o aspecto mais importante da educação.

Cisto, parece que, mesmo que predispostos, ninguem vai ouvir Arcade Fire no Atlântico...