E pronto. Voltei ao festival Sudoeste, cinco anos depois da última vez que tinha posto o pé em solo festivaleiro alentejano e digo-vos que a experiência foi um todo nada negativa. Primeiro, o tempo que cá estive. Se em 2005 pude ficar durante o festival todo, desta vez só pude estar verdadeiramente durante o primeiro dia, já que no segundo tive que abandonar o recinto durante o concerto de Jamiroquai devido a compromissos profissionais que não este blog.
Não há como negar. O Sudoeste é o festival que tem mais procura. Ano após ano milhares de pessoas programam as suas férias para irem 4 ou 5 dias a este festival perto da Zambujeira do Mar, no entanto quantidade não significa qualidade e, em relação ao sudoeste a quantidade é inversamente proporcional à qualidade. Sendo assim e comparando os festivais de 2005 e 2010 em relação a bandas e a ambiente, o que salta à vista é a constante perda de qualidade em relação aos nomes e, sobretudo, ao alinhamento das bandas por dias e por ordem. Senão vejamos:
O cartaz em 2005 tinha estes nomes: Orquestra Imperial, Oasis, Kasabian, Da Weasel, LCD Soundsystem, Hot Chip, Maximo Park, Devendra Banhart, The Thrills, Donavon Frankenreiter, Humanos, Ben Harper, Underworld, Fatboy Slim, Josh Rouse, Peaches, Athlete, Doves, Dinosaur Jr., entre outros nomes mais vistosos mas com menos qualidade como Korn ou Basement Jaxx.
O cartaz de 2010 apenas continha estes nomes de qualidade: The Very Best, The Flaming Lips, M.I.A., Lykke Li, Jamiroquai, Diabo na Cruz, Friendly Fires, Beirut, Peixe:Avião, Mike Patton's Mondo Cane, Air e Massive Attack.
Outro fenómeno que aconteceu na última década na Zambujeira do Mar. Mais de metade de quem vem para este festival não vem pela música mas sim pelos 4 ou 5 dias de suposta festa. Ora essa festa parece ser para os garotos, ou seja, uma espécie de benesse por parte dos seus pais, que muitas vezes até os acompanham. A média de idades deve ser bastante inferior a 22 anos e isso diz muita coisa. Ora, se pouca gente está preocupada com os nomes, até porque o palco Positive Vibes está sempre cheio e ninguém se apercebe quando muda a banda, basta ter uma bandeira da Jamaica e mandar uns beats e está tudo bem, então este festival pode deixar de chamar aquelas 3 ou 4 bandas muito boas pelas quais uma pessoa que realmente gosta de música não quer deixar perder e isso é o que me faz ainda querer, infelizmente, vir a este festival. São bandas desenquadradas deste espírito e que, se soubessem para onde vinham não aceitariam vir.
Pondo aqui os pontos nos is em relação a este festival resta agora fazer a crónica destes dois dias.
Dia 5:
O primeiro dia oficial do Sudoeste (o dia anterior é um dia pré-festival com o nome de recepção ao campista apenas com DJ's) era o dia dos q eu podia assistir que mais me interessava. Primeira desilusão do dia. The Very Best e Flaming Lips tocam quase à mesma hora. Com tanta má banda no cartaz e tinham que fazer isto. Decidi ver Very Best até ao fim e depois correr para Flaming Lips. Não me arrependi. O concerto de Very Best deverá, provavelmente, ter sido um dos pontos altos, não só do palco secundário, como de todo o Sudoeste. Um DJ inglês, um vocalista do Malawi e outro da África do Sul, acompanhados de duas dançarinas também elas inglesas, puseram o público a dançar e a saltar non stop durante cerca de uma hora. O ponto alto surgiu, claro está, na música "Warm Heart of Africa", quando os músicos chamaram ao palco uma dúzia de miúdas para dançar, algumas delas a fazerem as delícias da plateia masculina.
Findo o concerto, ainda vibravam os beats africanos nos meus ouvidos, porém era tempo de ir para pastagens mais étereas e surreais com os acordes dos Flaming Lips. A fazer lembrar um Jim Morrison poeta e arruaceiro, Wayne Coyne, líder da banda de Oklahoma, formada em 1983, tentou pegar pelo público (C'mon, C'mon, C'mon motherfuckers foi repetido até à exaustão) mas aquele sítio não era o indicado para mentes tão pouco receptíveis a este tipo de som. Ao bom estilo dos Pink Floyd, os Lips dão concertos-espectáculo interligando sons, imagens, luzes e adereços criando uma atmosfera muito própria. Mereciam outro sítio em Portugal, certamente.
Em seguida M.I.A., feita mitra, veio dar um concerto cheio de batidas. Foi apenas bom. Algumas músicas dançáveis, outras mais sofríveis. Divertiu-se e fez divertir. Groove Armada fechou a noite no palco principal dando a imagem de que uma banda pode criar bons sons de dança de uma forma orgânica e não apenas com um Apple à frente. O primeiro dia estava acabado, restava apenas a tenda de dança com o Dj Rui Vargas mas isso já não era o meu campeonato. Venha a praia do dia seguinte para acalmar os músculos.
Dia 6: Após um belo dia na praia do Malhão, em Mil fontes, vinha a dúvida, ficar umas horas para ver Lykke Li ou voltar para Lisboa. Fiz a decisão, aparentemente, errada mas valeu a pena pelo grande concerto dado pela musa sueca. Entrando mais tarde no recinto, coisa que não gosto de fazer mas que, motivado pelo cartaz tão fraco, era mandatório, deparo-me com James Morrison no palco principal, alguém que há uns anos pensei vir a ser um bom músico. Puro engano, é apenas mais um menino bonito com alguns temas meio orelhudos. Não acrescenta nada de novo. Passou como entrou, despercebido. No palco secundário estavam os portugueses Nu Soul Family que puseram muita gente a pular. Virgul e seus pares são competentes e com bons ritmos, quase tudo orgânico, seja de louvar. Seguiu-se a bonita e sensual Lykke Li no seu vestidinho preto. Com uma parafernália de instrumentos, a banda sueca deu mostras de bom rock, dançavel na maior parte do tempo, incluindo ainda músicas novas. Outro dos momentos altos deste festival, certamente.
Infelizmente não dava para mais, a volta para Lisboa seria longa e cansativa e Jamiroquai teria que ficar para outras núpcias. Prometia ser um bom concerto para fim de noite, bem regado com umas cervejinhas. Os Orelha Negra certamente também deverão ter finalizado bem a noite neste segundo dia da Herdade da Casa Branca.
Foi este o Sudoeste para mim este ano, com muita, mas muita pena de não ser possível assistir ao concerto de Beirut, mas penso que será um concerto completamente desajustado do sítio onde será realizado. Esperemos por mais concertos do Sr. Zach Condon em Portugal.
The Flaming Lips:
Jamiroquai:
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