14 outubro 2010

Álbum de Estimação: The Zombies - Odessey & Oracle (1968)

Ele há coisas assim. Por vezes, quando já não pomos pressão numa coisa porque sabemos que a partir daí seguiremos outro rumo, acontece exactamente o oposto do que se passaria se estivéssemos a dar o máximo. Este Odessey & Oracle é o exemplo disso mesmo. Gravado em 1967, em pleno "Verão do Amor" quando a banda já estava a fazer contas à vida por achar que não passava da cepa torta, pois tardava em afirmar-se ao nível de outras bandas, este disco surge como o canto do cisne desta banda inglesa que já estava praticamente separada quando o disco foi finalmente editado em 1968. Mas retomemos uns anos antes para recordar a histórida dos Zombies.
Formados em 1962, a banda de Hertfordshire cedo mostrou que não fazia parte da leva inglesa que invadiu os Estados Unidos dois anos mais tarde. É certo que foi metida no mesmo saco até porque alguns dos seus temas continham o tal Ritmo & Blues que a maior parte das bandas britânicas vinham a exibir. No entanto, o grupo, composto, principalmente, pelo vocalista Colin Blunstone e o teclista Rod Argent apresentavam uma bagagem musical muito mais clássica, o que, por vezes, até lhes deu imagem mais negativa, como se fossem uns "meninos", sem o rasgo que apresentavam os Stones, Kinks ou Who. Óbvio que cada banda deve jogar com o melhor que tem e, se calhar, as editoras nunca perceberam bem qual a linha desta banda e tentaram encaixá-la com outras bandas que não seriam bem o mesmo estilo. Isso fez com que os Zombies nunca fossem uma banda muito popular naqueles dias nem sequer tivessem singles que fossem muito comerciais nem "radio friendly". Isto numa altura em que os LPs não eram de grande importância e que um simples single poderia mudar a história de uma banda. Aparte do ligeiro sucesso com "She's Not There", isso não aconteceu com a banda de Argent e, passado alguns anos e sem mostrar provas de êxito financeiro, a editora Decca, resolveu não renovar contrato deixando-os à deriva. A CBS propôs um contrato para a gravação de um disco. A banda acedeu mas, farta de andar esta vida insegura, resolveram que seria o último. Alguns elementos da banda deixaram inclusive de tocar música. No entanto algo de muito positivo estava reservado para a gravação deste disco. Terá sido a despreocupação de já não ter de mostrar serviço ou o sentimento de que deveriam acabar em grande, ou apenas a conjugação de factores cósmicos, a verdade é que os Zombies deixaram uma obra prima para as gerações vindouras. Claro está que o disco aquando da sua edição falhou rotundamente, sobretudo em solo britânico. Nisto, os elementos da banda já seguiam o seu próprio caminho, sem olhar sequer para trás. Rod Argent fundou a sua própria banda com um registo mais Hard Rock, enquanto o vocalista Blunstone trabalhava em seguros. No entanto, vindo do nada, a edição de "Time of the Season", em 1969, deu aos Zombies, o seu hit single que tanto tinham procurado em "vida". Além disso, fez também ressurgir das trevas este disco escondido, mostrando ao mundo as pérolas escondidas em 12 músicas de ode ao melhor do psicadelismo e pop barroco britânico.
Este disco, com pouco mais de 30 minutos faz-nos mergulhar num som recheado de imensos instrumentos cada um com várias camadas assim como várias vozes e coros. Uma mistura de Pet Sounds, Yellow Submarine, Magical Mystery Tour ou Syd Barrett mas num tom muito mais clássico do habitual do rock psicadélico. A pop barroca no seu melhor.
Se o preço a pagar para este disco surgir teve que ser o desmembramento da banda, então Argent e companhia que me perdoem mas...valeu a pena...

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