09 outubro 2009

I want you so bad it's driving me mad

Há um tempo já que não escrevo neste placard, por me achar um erro de casting: as minhas opiniões não são nunca partilhadas por ninguém e as sugestões musicais ignoradas, tal como o vento ignora farinha de padeiro.
Por outro lado, a maioria das analises que aqui leio são superficiais e contém um entusiasmo desajustado ao tipo de musica que se ouve - medíocre, no geral - e como tal surge uma certa certa noção de absurdo.

Mas como me encontro neste momento de forceps na mão à espera do senhor Wilkins, que desconfio que terá fingido uma diarreia para se refugiar nos lavabos, decidi, por tédio, partilhar mais um suspiro com os leitores.
Surgiu-mo após audição do agradável conjunto de canções com que o Frederico Batista cozinhou o pão-de-ló da hora-do-bolo na Radio Radar.
E' evidente que a audição da mescla foi influenciada pelo facto de momentos antes me ter entrado nos tímpanos o quarto andamento do Zaratustra do Mahler, mas mesmo assim consegui apreciar uma musica chamada Biding My Time dos Pink Floyd. Trata-se de uma faixa de estrutura ingénua, simples, bluesy, mas que funciona muito bem e, apesar de previsível, me traz uma certa noção de harmonia, equilíbrio. Dá para sentir que aquela rapaziada fazia algo de importante. Logo a seguir surge-nos Doors com Wasp e Beatles com o fabuloso I want you, em que toda a irreverência discreta de George Harrison se faz ouvir como um sopro no coração.
Logo a seguir surge uma música totalmente diferente, que por ignorância do pop/rock actual não soube identificar com precisão, mas diria ser Franz Ferdinand ou algo do género.
Percebe-se o que é que o nosso Frederico queria fazer: juntar musicas velhinhas com umas mais recentes, criando um bolo de consistência coesa, tentando apontar que aqui e ali se continua a fazer pop/rock como antigamente e que tudo é uma questão de estarmos atentos.
Mas se uma trinca na primeira fatia resulta em jubilo calmo das papilas gustativas, logo a seguir surge uma espécie de amêndoa azeda que nos faz indagar: mas afinal que raio de bolo vem a ser este, caralho?
Gosto do Frederico como de um irmão coxo, como ele sabe, e prezo a sua busca por musicas que sejam importantes, significativas. Mas, meus amigos, o Pop/Rock esta' morto e ja era tempo de assumirem isso. E' um género limitadíssimo e não há mais pontas por onde pegar. Ouvir Doors, Beatles e Pink Floyd diz-nos isso mesmo: o melhor já esta feito. Não vale a pena insistir.

E não: Franz Ferdinand nao vale mais que Britney Spears.

11 comentários:

frederico disse...

Caro raul, se estivesses com atenção em vez de andares a ver cáries alheias saberias que o meu bolo é vintage. Não há cá nada pós 72...

Cisto disse...

essa acuidade em nada altera o conteúdo do meu post. a questão é: concordas com ele?

Cisto disse...

ehe obrigado por pores os acentos e tal ;) ganda fred

Alex disse...

Não concordo mas não tenho tempo agora para argumentar. Mesmo. Comentarei logo que possível. Provavelmente daqui a 3 semanas. Mas preferia num próximo fds qdo cá viesses ò Raul com um copo de vinho na mão. ;-)

Vasco disse...

irmao coxo?

frederico disse...

Depende...Concordo que nada que for feito nos dias hoje alguma vez baterá o que foi feito antes. No entanto, se queres comparar britney a franz acho mal. Uns são gente que tenta fazer música e até tenta inovar em certos aspectos, outra enfim... Nem tudo é só marketing. Em Paredes de Coura viu-se uma banda, FF, completamentamente honesta, ao contrário de outras, tipo Killers, muito já Politicamente correctas. Queres malhar em alguma banda? Não malhes nos FF...

Cisto disse...

epá, não quero malhar em ninguém em especial. Apenas referi FF porque foi a musica deles que ouvi no meio das outras e a o contraste foi tão brutal que me chocou. De resto, acho bom que essas bandas existam. Mas relativemos.

Joana disse...

Meus caros! Como mera espectadora do vosso blog e dos vossos comentários, a única coisa que posso apontar é que a musica evolui, o jazz evoluiu, deu origem a vários tipos de jazz... no mundo maior parte daquilo que podia ser inventado já o foi, mas a questão principal é saber criar a partir daquilo que já existe... concordo que aquilo que se ouve actualmente é tudo muito parecido, não há muita novidade... mas defender que "o melhor já está feito e não vale a pena insistir" é uma atitude muito derrotista... Imaginem na música clássica Mozart, Beethoven, Chopain, Puccini, Verdi... depois disto nenhum compositor podia voltar a compor uma sinfonia ou uma ópera... o mesmo poderia acontecer com o jazz, depois de musicos como coltrane, miles davis, mingus... nesse sentido não poderiam haver novos musicos!!! Mas existem... quando miles davis apareceu ou mesmo coltrane, na época áurea das big bands e do swing eles conseguiram inovar e criar estilos diferentes de jazz (bebop e a improvisação), não tiveram medo de arriscar... o mesmo pode vir a acontecer com o rock, agora é preciso acreditar, tentar, experimentar... uns projectos podem correr mal outros podem correr melhor e acho que os FF são um desses casos, como muitas outras bandas ou projectos que existem, que correu bem!!!

Cisto disse...

cara joana,

agradeço o texto, mas não me fiz compreender. duvido que haja alguém neste blog que goste mais de música quanto eu (tal como os outros possam sentir o mesmo em relação a eles próprios) e nunca na vida afirmaria que determinada expressão artística (como a música) já está esgotada e não vale a pena insistir. Existem infinitas possibilidades musicais e sempre existirão, basta pensar que raríssimas foram as vezes em que a música rock explorou algo mais complexo que semi-tons e ritmos quaternários. O exemplo que deste de músicos de períodos romanticos como o de Beethoven é pertinente: exite algum compositor contemporâneo que lhe passe pela cabeça compôr nos mesmos moldes de Beethoven?? Ou até de Coltrane? Não seria ridículo? Então por que é que o mesmo acontece com o Rock? É certo tratar-se de um género mais recente, mas que tem sido muito muito mais explorado que os outros. Mas não vejo nenhum compositor contemporâneo a escrever música barroca, nestes dias.

Bobe disse...

O q é a honestidade de uma banda? E isso do politicamente correcto?

frederico disse...

A honestidade de uma banda vê-se num concerto. Sentes que há empatia com o público. Não é apenas tocar aqueles minutos previstos de modo quase automático e limpinho. Vê-se emoção em quem está no lado de lá. Um concerto politicamente correcto é ao estilo dos Killers ou U2 em que as pessoas parecem vestir as camisolas dos clubes banda e a vitória é garantida, seja um bom concerto ou não.