A pluridade de opiniões pode ser, por vezes, uma coisa boa. E os blogs exploram precisamente isso: as vozes anónimas subitamente fazem-se ouvir. As vozes daqueles que não são jornalistas nem especialistas da arte de opinar emergiram e isso de certa forma até me parece que terá moldado a própria voz dos tradicionais media. O Altamont é um espaço nesse aspecto saudável: todos falamos, dizemos o que queremos, partilhamos músicas, descobertas, emoções (se quiserem a lamechice da palavra). Como aqui tenho dito, de maneira geral esta partilha aleatória não me interessa muito, mas não deixo de a considerar engraçada.
Quando eu próprio sugiro que os Beatles foram uma arma poderosíssima utilizada pela máquina do capitalismo, explico-o, e não sou contestado com argumentos racionais mas sim com escárnio. Ou quando suspiro que os Led Zeppelin em nada me influenciaram em termos musicais, recebo pedradas ou risos paternalistas. Isto revela que não existe margem de manobra para um pensamento diferente, para um momento sequer de hesitação e reflexão.
Por outro lado, assisto a uma certa passividade perante opiniões muito mais exdrúxulas. Vejamos, este texto não teve nenhum comentário. Elogia-se aqui que um álbum copy/paste de Tom Waits, testemunha da degradação moral dum ex-punker que agora faz anúncios a uma companhia de seguros que, por cúmulo, exclui músicos da possibilidade de serem seus clientes. Um álbum sem ponta por onde se lhe pegue, que apesar de ter o direito de existir (o Iggy diz que lhe deu prazer fazer estas canções) é irrelevante para a história da música pop. Outro exemplo surge com o lamento do Mark Knopfler estar a fazer música soturna e, por isso, chata. A relação causa/efeito é inexplicada. Faz algum sentido em dedicar um post a um tipo que não faz nada de interessante desde o início da década de noventa quando existem tanta música a despontar um pouco por todo o lado?
Mas o incompreensível chega apenas com a análise ao disco dos Air. Mais um cascanço em tudo aquilo que não é igual ao passado. Percebe-se que para muita gente voltar a ver o Knopfler a tocar Dire Straits é ejaculação garantida, mas há limites para essa característica tão portuguesa que é a Nostalgia.
Há depois uma classificação da importância do que se faz com base no sucesso comercial. Como se a gente gostasse de Celine Dion.
Acusa-se o album de Air de ser pretensioso. Parece-me que não há um domínio do conceito de pretensiosimo: se há coisa que os Air não têm é isso - as suas composições são estruturalmente do mais simples que consigo imaginar e mantêm-se fiéis ao seu conceito inicial, como quem assume que não sabe nem quer saber mais do que aquilo. Air para mim tem algo de inocência, qualquer coisa como um cristal pop usado para diluir a espessura do ar numa noite abafada de verão. É música feita com leviendade, até, sem se pensar muito na coisa - não tem nada de intelectual ou que suscite exercícios de metafísica - nada mais do que um som assumidamente superficial, um fenómeno de luz, uma caipirinha francesa.
Depois refere-se à presença de músicas irritantemente instrumentais como se os Air tivessem outro tipo de músicas (ou quase como se as ditas musicas experimentais fossem per se más). Quando se ouve vocals nas músicas de Air, estas não diferem de um outro instrumento qualquer, como um xilofone ou flauta sintetizadas. Sexy Boy é um refrão absurdo, que poderia ser substituído pelo som duma gaita de beiços, por exemplo, ao passo que All I Need é uma anormalidade no percurso deles.
A natureza naif dos Air é aquilo que me atrai neles (e ao mesmo tempo o que me aborrece às vezes). E gostos não se discutem, mas referir-se o pretensiosimo de musicas instrumentais quando ao mesmo tempo se sugeres que tenta atingir a cançoneta de sucesso comercial do passado, é incongruente.
Parece-me que a maior parte do que o André escreve aqui é como tentar um cum shot facial e acertar no candeeiro, o que já aconteceu a todos.
Em suma, este é um post contra a apatia. Contra a perda de tempo em cantores/bandas do passado que nunca conseguiram enveredar por um caminho original e interessante. Contra a cultura Pop. Contra a nostalgia. E a favor da seriedade musical.
5 comentários:
Olá Raúl!
Boa Crónica!
Um Abraço
O problema do Pop/Rock é fácil de encontrar. A partir do momento que o dinheiro começa a entrar, a criatividade vai no sentido oposto. O Pop/Rock por ser, à partida, mais fácil, leva a que muitos grupos se acomodem, não procurando crescer, experimentar coisas novas, mesmo sem mudar estilos.
referes-te aos beatles, fred?
Se há banda que esteve em constante mutatação foram os Beatles...
entao n será apenas uma questao de dinheiro
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