A música, como qualquer expressão cultural, apresentou-se, de certo modo, como uma reacção ao panorama político geral.
Se os loucos anos 20, época de excessos, se ajustou perfeitamente à música desprendida do swing, de classes e pretensões, vocacionada sobretudo para a dança energética, os anos 50 e 60 foram suportados em grande parte pela veneração do oeste e o medo de morte da ameaça vermelha. Tratou-se portanto de um período optimista e dandy, em que letras como Love me do ou Baila la Bamba faziam as delícias de qualquer um.
No final dos anos sessenta começou a caminhar-se para uma maior responsabilidade, do meu ponto de vista, e introspecção, tendo surgido então o psicadelismo. A guerra no Vietnam apanhou este psicadelismo e conferiu-lhe poder de revolta contra o poder. Dos Beatles restava apenas John Lennon como voz relevante, enquanto McCartney escrevia Silly Love Songs. Os anos que se seguiram foram dedicados à redescoberta das drogas e, no final de contas, os setenta acabaram em seca criativa, sem explosão, sem mensagem, vazios, num mundo ocidental de prosperidade, segurança (a guerra fria já era coisa do passado, a 2ª guerra mundial muito mais) e a dar as boas-vindas definitivas à instalação do capitalismo.
Os anos oitenta iniciaram-se assim. Hippies deram lugar a Yuppies, San Francisco cedeu a Wall Street, políticas de direita reiniciaram-se, neoliberalismo, Tatcher, Reagan, o colapso das economias comunistas e a patetice musical imperou, de que a expressão Glam Metal diz tudo.
Única excepção de relevo: o muito underground movimento nova-iorquino entre 78 e 82 No-Wave, por oposição ao vazio New-Wave, em que artistas desconhecidos decidiram atirar uma pedrada no charco e violar tudo que havia de regras, reduzindo o Rock and Roll a uma memória vaga do género quando o Charlton Heston descobre um VW carocha no Planeta dos Macacos. Mas numa outra ocasião falei já de No-Wave.
Findos os anos oitenta, os ex-Hippies estão esparramados no sofá a ver no noticiário das oito a queda do muro de Berlin, vestem camisolas de alça encardidas, bebem Coca-Cola, jantam hamburgueres num tabuleiro, estão divorciados, já não acreditam em nada e batem nos filhos. Um desses (filhos) é o Kurdt Cobain.
A Geração X nasceu assim da decadência do capitalismo, da pobreza intelectual e de valores, do desemprego, das drogas pesadas, do cinismo que a geração anterior suscitou e que é agora acentuado de cada vez que ligam a televisão e passa um videoclip na MTV.
Mas o que nos trouxe essa geração? A sua música grunge tratou-se sem dúvida de um grito de revolta, mas ao contrário do movimento No-Wave, não trouxe grande criatividade. A necessidade de se ser sujo, filthy, grungy, touch me I'm sick, surgiu-lhes das entranhas, o que é sempre bom, e evidentemente também me afectou e também me interessei muito pela estética do Smells Like Teen Spirit. Mas em termos musicais, limitaram-se a seguir o que viam na MTV, verse, chorus, verse, chorus, verse, chorus, chorus, mas com mais distorção e buracos nas Jeans. O facto de hoje em dia dificilmente ouvirmos grunge ou nem sequer conseguirmos pensar num produto dele, evidencia a limitação que este estilo de música representou. Cobain sabia disso. E talvez por isso mesmo se tenha matado.
Ainda assim, Mudhoney é bom de ouvir de 2 em 2 anos e sabe optimamente revisitar o In Utero uma vez por ano.
PS em relação ao outro post da geração x, não vejo de que modo o Cavaco a possa ter influenciado e convém também relembrar que a primeira guerra do Golfo foi um conflito entre países do Médio oriente que teve participação ocidental após a invasão do Kuweit pelo Iraque, pelo que chamar-lhe de primeira investida no Iraque é muito redutor.
5 comentários:
sabes lá tu...nessa altura ouvias technotronic pump the jam segundo o fred...
o teu post é um bocado armado aos cagados, desculpa lá...
concordo plenamente
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