08 fevereiro 2005

Sonic Nurse



No final dos anos setenta ninguém se importava de morar em Nova Iorque, a América vivia tempos apáticos, de ressaca dos anos sessenta, e foi então que um movimento artístico, avant-garde, enclausurado na insanidade individual, subitamente habitou o bairro de Lower East Side e ficou conhecido como NO WAVE (por oposição à popular New Wave). Do nada, proliferaram bandas interessadas no extremo, na anarquia, na experimentação ruidosa, conferindo a Nova Iorque uma paisagem apocalíptica, avassaladora. O No Wave explorou a anarquia e amadorismo do punk-rock britânico, mas abordou-o dum ponto de vista demencial transformando-o num jogo cubista interior, rejeitando todas as fórmulas rítmicas do rock and roll, uma amalgamação de free jazz, auto-destruição, caos paródico, ruído e silêncio, a nota errada na altura certa, a dissonância (rítmica?) enquanto técnica, a ausência da técnica.
Apesar de nenhum dos artistas do No Wave alguma vez ter tido sucesso junto de públicos mais amplos (o extenso fecundo trabalho de Lydia Lunch, que pudemos ouvir recentemente na Galeria ZDB e as deambulações do brasileiro Arto Lindsay serão ténues excepções), as suas influências repercutiram-se em vários artistas como os The Residents, The Birthday Party e os Sonic Youth, que transportaram o No Wave pelos anos oitenta adentro e ainda hoje conseguimos sentir a reverberação do movimento novaiorquino nas dissonâncias abrasivas de vários artistas.
Os SONIC YOUTH, juntos desde 1981, emergiram deste palco americano, conseguindo fundir a cacofonia distorcida com as meditativas explorações sonoras do compositor Glenn Branca, adicionando uma estrutura melódica ao som, e tornaram-se numa das bandas mais influentes e inovadoras do seu tempo.
Depois de vinte e três anos de criatividade sónica, de experimentação e inconformismo, lançam em 2004 o décimo-nono albúm, Sonic Nurse. Supondo que não conseguirei dizer nada que lhe seja justo, arrisco dizer que se trata de um trabalho de certo modo amadurecido em relação aos anteriores, o culminar de uma antiga busca da melodia, reinventando-a, ditando-a. Brilhante.
Vão simplesmente até ao site sonicyouth.com e ouçam a sua inefável beleza; valerá mais que mil palavras.

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