15 maio 2012

Lusophonia: TV Rural

ESTE ROCK NÃO É PARA MENINOS!

E para que não restem dúvidas, os TV Rural lançam o repto, logo na 2ª música - «Faz-te um Homem, Rapaz».
Os TV Rural lançam esta semana o seu 2o disco, A Balada do Coiote, e é um grande disco. E eles são uma grande banda.
Ainda bem que escrevo estas palavras depois de os ter visto ao vivo (este sábado, no Musicbox). Porque a minha interpretação é bem diferente depois de os ver em concerto. A minha impressão da banda já era bastante boa só tendo ouvido o disco, mas vendo o show, fiquei ainda mais rendido.

Os TV Rural já existem há cerca de 10 anos. Em 2007 lançaram o primeiro disco, Filomena Grita (outro grande exemplar de rock português). Deixaram passar 5 anos e lançam agora, e finalmente, o sempre complicado segundo álbum. Mas neste caso, não me parece que tenha sido complicado. Este disco vem consolidar a posição dos TV Rural, como uma das melhores bandas portuguesas da actualidade.

Habitualmente, quando se escreve sobre uma banda e se a dá a conhecer, é fácil comparar o som que fazem com outras bandas que já existem, para mais fácil contextualização. No caso dos TV Rural não os comparo com nenhuma banda existente, apenas os coloco no mesmo patamar dos Ornatos Violeta, no que toca à grandeza estética (seja lá o que isso quer dizer).

Os TV Rural parecem saídos de outro tempo, de outra era, mas nunca de outro local. São portugueses de Portugal intemporal. Fazem rock maduro, musculado, cantado em português e com excelente uso desta língua.

As músicas deste disco são pequenas histórias, nunca monótonas e quase sempre com variações dentro da mesma canção, passando num instante e harmoniosamente de rock animalesco para jam session quase improvisada e com cheiro a escola de jazz, com a cadência marcada por tambores.

Ao vê-los em palco, vi uma coisa que nunca tinha visto - um vocalista-saxofonista. Ainda está a dar o último sopro no saxofone e já está a dirigir-se para o microfone, para berrar mais umas frases eloquentes e se retorcer e rodopiar sobre si próprio enquanto os colegas criam ambientes teatrais - não cinematográficos, teatrais. Além disto, o vocalista faz lembrar (não sei porquê) o conde Drácula, que quase intimida ao contar as suas fábulas sobre «Bruxas», sobre «Quando Troveja», ou quando pede «Morde-me» e «Dá-me Dor».

Aqui não se fala sobre dramas existenciais de andar no liceu e não gostar de viver em casa dos pais. Não se fala de uma rapariga gira que se conheceu na aula de ciências, fala-se sobre a «Mulher da Minha Vida». São coisas diferentes.
Aqui contam-se contos, de encantar ou de atemorizar. Contos cantados, e acompanhados por uma banda de virtuosos vampiros, que fazem da música dos TV Rural uma peça de teatro da Lusitânia Antiga.

Ah, e a fechar o disco está uma bela versão de «Toma o Comprimido», de António Variações, uma versão de que o próprio não se envergonharia.
A Balada do Coiote - está esta semana nas lojas, e está sem dúvida na lista dos melhores discos feitos este ano.



2 comentários:

frederico disse...

Isto é bom.

ico costa disse...

eu diria mais.

é do melhor rock nacional dos últimos anos.

coitados dos betinhos que andam por aí a exibir-se e a dizer que tocam "roque".