19 julho 2010

Super Rock Super Bock 2010

Meco. São onze da manhã. Arranco para Lisboa. A meio do caminho da estrada que liga Alfarim ao cruzamento para Fernão Ferro, não posso deixar de reparar no esqueleto moribundo da” cidade SBSR” cujas estruturas se desmontam a passos largos; na quantidade de lixo acumulado no chão; no ar sujo dos carros; no ar cansado das pessoas que procuram um transporte que tarda em chegar. Apesar disso: tudo calmo. O bosque regressa à sua paz natural.

Um cenário bem diferente das horas precedentes em que uma multidão estimada em 50 mil pessoas (e seus respectivos automóveis) entupiram por completo toda a área que circundava o festival. Eu já vou há mais de 10 anos para o Meco e nunca tinha assistido a nada assim. O trânsito parava à porta de minha casa! Bem no centro da Aldeia! Eram oito e meia da noite.

Solução: ir a pé. 5 Quilómetros nunca antes vistos. Num cenário dantesco, (e a lembrar os melhores filmes de Hollywood sobre catástrofes) em que vi pessoas a abandonar os seus carros no meio da estrada para não perderem pitada do que se passava no recinto do festival. Não os censuro. Mas a Organização, (“A Musica no Coração”) terá de pensar melhor na questão dos transportes quando fizer o “SBSR 2011”. Uma entrada e uma saída, aliada á aflição da GNR (incapaz de sustentar o trânsito) deu num pavoroso caos em que cheguei a ouvir relatos de pessoas dizer que “nem sequer ouviram uma música de Prince” porque o carro simplesmente: não passava!

Mau de mais. Felizmente, o ambiente lá dentro foi melhor. Apesar da constante nuvem de pó (outra questão para o Sr. Montez pensar) que nos atormentava a respiração e a tosse (preta), pode-se dizer que as coisas lá iam andando. Os comes e bebes funcionavam, a venda de tabaco também, as casas de banho mais ou menos e uma enorme vontade de ver o “Sexy Motherfucker” estampada no rosto de todos que lá estavam. Já lá vamos…

Há hora que cheguei ao recinto (quase dez da noite) ainda deu tempo parta ver um pouco da actuação dos “The National”. Um concerto morno e que só deve ter aquecido quem gosta a sério dos autores de “Fake Empire”. De resto, o seu rock introspectivo não é para palcos desta envergadura.

Por isso fui espreitar actuação revivalista da norte-americana Sharon Jones e os seus “Dap Kings”. Um grande concerto que transportou o público para o Teatro Apollo, do Harlem dos anos 60! Com um alargado conjunto de músicos, (a fazer lembrar as ”big-bands” que acompanhavam James Brown ou Ray Charles) a enérgica Jones fartou-se de pular, dançar e sobretudo cantar como se fosse a junção das almas de Aretha Franklin e Tina Turner. “Let´s Get on the Soul Train”, gritava ela. Uma maravilha.

Finda a actuação de “Miss Jones”, foi hora de abastecer o estômago e esperar alguns minutos pela actuação dos australianos, “John Butlker Trio”. Mais um grande espectáculo em que esta banda exibiu que os Blues, Funk, combinados com algumas jams à mistura e um “look” surfista podem ser ingredientes q.b para por uma plateia a dançar. Foram apenas prejudicados pelo facto de actuarem quase á hora de um tal de Prince Rogers Nelson!

Foi um corre-corre até lá abaixo ao palco principal, onde já me esperava o famoso “Símbolo” do “Artista” que dava mote ao inicio do concerto. E sem mais demoras. Lá estava ele, “very funky indeed”, a esbracejar e a dançar como um James Brown e a solar na sua telecaster como um Jimi Hendrix. Um autêntico “showman”. Um mestre na arte de representar emoções através da música.

E apesar de ter novo disco em 2010 (“20Ten”), foi com os velhos êxitos que Prince soube cativar e dominar uma plateia encantada com os seus passos e trejeitos. Tocou de rajada os seus primeiros hits, “1999” e “Little Red Corvette”. Mostrou que a sua “versão” de “Nothing Compares 2U” é melhor que a de Sinnead O´Connor. Gritou por Portugal em “Kiss”. Exibiu os seus dotes de dançarino em “U Got the Look” e pôs o povo todo a cantar um fantástico “Cream…Get on Top”!

Antes de fechar com o épico “Purple Rain”, houve tempo ainda para se ouvir cantar o fado pela voz de Ana Moura que curiosamente não cantou um dueto com Prince, mas fez com que este por momentos assumisse um papel “secundário” de mero guitarrista de Alfama com apenas uma diferença: a guitarra eléctrica. Inesquecível. Uma “lição de mestre” de um artista que finalmente está em paz consigo próprio e com, o público. “Deste Prince”, já todos tínhamos saudades…

Acabado o concerto, instalou-se novamente o “caos” fora do recinto. Filas de trânsito dignas do filme “Woodstock” começaram a tomar forma. Foi um “ver se te avias” monumental. Sorte a minha que apanhei boleia com duas enfermeiras que iam para o Meco. Menos afortunadas ficaram as minhas roupas e a minha garganta: cheias de pó!

Adeus e até para o ano…

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