06 outubro 2009

Marcelo Camelo - Sou (2008)

Não querendo comparar os Beatles aos Los Hermanos, faço uma suposição entre eles fazendo a alegoria entre as pessoas que não percebem porque os Beatles acabaram e os que entedem haver um momento para tudo na vida e que nada é eterno e linear. Os Beatles acabaram porque cada um deles, excepto talvez o Ringo, estava em outra fase das suas vidas, quiçá incompatível com a vida de um grupo tão stressamente amado como os Beatles. Que seria do George Harrison se os Beatles continuassem? Teria mais duas ou três músicas por disco e findava-se por aí. Em quê poderia John expressar a sua nova visão sobre a vida? Eram pessoas diferentes, com ambições diferentes, tinha que ser auto-destrutivo. Chega a uma altura da vida que já não faz sentido. Quem perdeu com isto foi Paul McCartney que, sem concorrência interna, especialmente de Lennon, perdeu a bitola alta que mantinha no grupo de Liverpool. Esta explicação para quê podem perguntar alguns. Para explicar que tanto num grupo tão famoso e importante como os Beatles como num grupo como os Los Hermanos a clivagem entre membros da banda pode acontecer e isso não é por si só negativo. Depois de um primeiro disco mais Ska, a banda carioca viria a desenvolver o seu o próprio som ao longo dos restantes três álbuns, culminando num fantástico 4 que era um misto de indie rock com MPB, com letras de cariz profundo e intelectual. Porém quanto mais se cresce por dentro mais tendência temos a procurar cada vez mais e isso foi o que Marcelo Camelo fez. Enquanto Rodrigo Amarante manteve a mesma toada, embora com franca qualidade, dos Los Hermanos com Little Joy, Marcelo foi mais adiante e fez um álbum mais de coração, de instinto, de momento. Músicas doces como "Téo e a Gaivota", "Passeando" ou "Doce Solidão" são exemplos do momento que Marcelo estaria a viver, aliado até à sua nova relação com a cantora paulista Mallu Magalhães onde fez dueto em "Janta". "Tudo Passa" é uma música fantástica que entrelaça vários géneros musicais, enquanto "Menina Bordada" e "Copacabana" trazem do melhor da música brasileira.
Marcelo Camelo é, sem dúvida, uma das grandes figuras da nova música brasileira, seja pelo que fez enquanto membro dos Los Hermanos, seja como artista a solo. Se ao nos soltarmos de uma banda começamos a ser mais autênticos e verdadeiros, porquê forçar ao constrangimento? À atenção de Noel Gallagher...

1 comentário:

Joao Nuno Rodrigues disse...

Grande disco!
É pena os Los Hermanos serem demasiado associados ao Ana Júlia...
São 4 excelentes discos, que deram origem a duas vertentes mais calmas Little Joy e Marcelo Camelo.