31 março 2009

a propósito de reedições

Sempre me foi um bocado difícil aceitar os Pearl Jam, confesso.
Não terei sido o único a estabelecer uma dicotomia rivaleresca Pearl Jam-Nirvana, na altura, e forcei-me a decidir entre uns e outros, como quem se encontra indeciso entre seven-up e coca-cola ou entre compreservativo ou sempreservativo.

Ambas as bandas emergiam de Seattle decididas a gritar alto contra a corrente de merda musical que circulava nos media, mas se o Cobain representava a fragilidade de uma juventude deprimida, por sua vez o Vedder exalava saúdinha, entusiasmando, com musculados gémeos, virgens conas (não vale a pena negar). Evidentemente que escolhi a excentricidade introspecta do Kurt e vetei os Pearl Jam a quase a um desprezo (na verdade, se nunca gostei do Ten, interessei-me qb pelos conceitos do Code e especialmente do Vitalogy, mas achando-os, sempre, demasiado bonitinhos).

Alguma maturidade depois, constato que o percurso do Vedder foi - e ainda é - discreto, suave e ao mesmo tempo prolífico, afastando-se de vedetismos (por onde ele muito facilmente poderia enveredar, se quisesse) e de dinheiros fáceis. Participou em diversos projectos, a maioria pouco conhecidos do público, e os que ouvi tenho de admitir não serem maus (apesar da ingenuidade dos calções de skater e cabelos ondulantes não lhe sair da tripa, diria). E sem grande profundeza de análise, afirmo que o respeito (enquanto artista, que o resto não sei).

Mas, ora bem, a arte não existe sem dinheiro. O Vedder pôde optar por este percurso precisamente por ter ficado podre de rico com os Pearl Jam. Qual o problema em admitir isto? Tal como o Cassavetes fez de actor em filmes mais comerciais para poder financiar os seus de maneira independente. Tal como o Martin Scorsese realizou filmes pornográficos de cariz homossexual para poder soltar o magnífico Taxi Driver. E por aí adiante. A própria palavra independente nasce daí: do ter-se dinheiro para não se ser um empregado de estúdio, um servo das produtoras. Os Sonic Youth (sim é verdade refiro-os muito) só podem ser os músicos extraordinariamente prolíficos que são em parte graças à Geffen. E não vejo razões nenhumas para me chocar com as recentes reedições do Daydream Nation e Dirty. É isso que lhes dá o poder de não sofrerem interferências no seu trabalho.

Portanto, basicamente, apenas quero dizer que não encontro lógica nenhuma para nos chocarmos com as reedições per se. Com os artistas e músicos pouco prolíficos, one-hit wonders, sim, em relação a esses soltemos um suspiro lamentoso. Em uníssono, se quiserem.

3 comentários:

frederico disse...

ahhhhhhhhhhhhhhhhhh

Alex disse...

No nosso utópico ideal cada artista faria só as coisas que lhe dão prazer pelo puro prazer, e não por dinheiro. É o que nós fazemos neste blog. Falar de música por puro prazer e não por dinheiro (se bem que nunca ninguém nos ofereceu, é verdade, mas pronto...). Mas infelizmente o mercado não funciona assim, e os artistas, tal como dizes Raul, aproveitam as suas qualidades para ganhar o seu. Ganham muito mais do que deviam, é certo, mas é uma questão de oferta e procura. No entanto, há artistas e artistas - uns que têm como objectivo tocar umas músicas e ganhar o máximo dinheiro possível disto, outros que tocam pelo prazer e continuam após vários anos a tentar inovar. Sinceramente, goste-se ou não da banda, não me parece justo que alguém coloque os Pearl Jam no primeiro grupo. Pelas várias demonstrações de suporte aos fãs (processo TicketMaster), a causas políticas (Rock the Vote), a causas benefecientes (Bridge School Benefit) e causas ambientais (Music for our Mother Ocean). And that's it!

Cisto disse...

mas eu não coloquei os pearl jam no primeiro grupo...