23 janeiro 2009

REPTO (cont.)

É evidente que não foi totalmente inocente, o meu repto. Não quis com isso criticar quem usa utiliza o termo música indie, mas apenas reflectir sobre o seu significado.

A meu ver, música é uma coisa, o movimento na qual poderá estar inserida é outra. Mas se o movimento pode ter tido importância na sua génese, não deveria tatuá-la em plenitude; ao invés, entendo a música como ela é, a sua natureza, os instrumentos que a produzem, os ritmos e compassos e o seu conteúdo lírico. O facto de se enquandrar numa determinada vaga é, até prova em contrário, puramente circunstancial.

Digo até prova em contrário, porque música há que não passa de fashionismo, amalgamação, repetição sem alma, e que por (muitas) vezes não é devidamente ignorada.
E aqui reside a perversão da catalogação: bandas que nela embarcam exibindo a t-shirt do (neste caso) indie, enganando e confundido muita gente.

Não sendo um dos enganados, presunçosamente, serei certamente um dos confusos. E na verdade não entendo a necessidade de se catalogar música que não seja pelas suas características musicais.

Sejamos honestos: não acham que é demasiado fácil meter tudo que tenha um aspecto retro no mesmo saco? Como se pode misturar Gogol Bordelo com Franz Ferdinand com Beirut?

A meu ver, essa é uma necessidade que se prende com aspectos comerciais da música e não com aquilo que interessa mesmo. E as pessoas deviam referir aquilo que interessa mesmo e não aquilo que é mais conveniente.

Obrigado pela participação, é bom ver este blog a mexer.

3 comentários:

frederico disse...

a questão é: arte e moda, e seus respectivos entourage estão interligados... o Indie é apenas menos comercial do que o comercial. Mas para haver um movimento tem que haver aceitação e procura. Ou será que é o indie passa a ser negativo se muita gente gostar dessas ditas bandas indie? Será que só o underground é a verdadeira coisa?(the real thing). Faz parte da natureza humana cunhar coisas. Para não se sentir tão insegura e perdida.Gostamos de ter as coisas arrumadas.Gogol Bordelo é Gipsy Punk,Beirut é qq coisa fora do indie rock e interpol pode ter vários significados, indie rock,neo post-punk,etc...a tag serve para não ires à secção de congelados e comprares um berbequim!

Anónimo disse...

Totalmente de acordo com um (grande) senão. A generalidade das catalogações musicais oferece problemas. Ou são algo tão geral como os géneros, rock, pop, jazz, soul, etc - o que ajuda numa loja de discos, não tanto nas pesquisas web em que a oferta é gigantesca. Ou os extremos da subcategoria, à laia de new-jazz-disco-acid-supernova-bacalhau com natas - que assumo que até possam ser óptimos marcadores mas passam-me ao lado e devem ser apenas para o "consumidor" muuiiittoo informado.
Por fim (ou não), existem essas categorias médias como indie, que estarão genericamente dentro do rock/pop e ajudam a perceber se passam na Radar, em contraposição com os "outros" que são playlist na Cidade FM. Estes se calhar acabam por ajudar não tanto a perceber a música como conteúdo, mas os grupos sociais que os ouvem.
Seja como for, são úteis, nem que seja para promover a melomania através da ansiedade de integração social. Há de certeza formas melhores de catalogar um som, e lanço esse deafio aos altamonts - juntem-se e ou escolham uma categorização que já exista mas seja menos conhecidos do comum dos mortais ou criem vocês uma através de critérios objectivos. Podem partilhar essa escolha através da marcação de cada banda ou música que referenciarem.

Cisto disse...

Mr Mustard, mal entendeste a minha mensagem. Eu não escrevi nada que condenasse o Indie em detrimento do Underground. Neste caso, tanto é redutora uma designação quanto a outra, e era esse o busílis da minha questão. E nunca me passaria pela cabeça criticar uma música ou estilo musical só por ser ouvido por muita gente, louvendo apenas o que é consumido por uma minoria. Era o mesmo que dizer que Bach é medíocre.
Em suma, a música, na minha óptica, deveria ser entendida na sua amplitude e para mim torna-se desnecessário etiquetá-la de modo extremado como o Bernardo exemplifica. Não cuspo na designação Indie, como se calhar vocês entenderam, pois concebo a necessidade de uma catalogação genérica no âmbito FNAC. Mas no tempo em que eu lá ia havia já a secção Música Alternativa, que mesmo que nos perguntemos, Alternativa a quê mesmo?, de cada vez que por lá passássemos, albergava aquelas bandas "menos mainstream" como Trans-Am, Tortoise, Catpower ou Sonic Youth. O que não entendo é qual é então a diferença entre indie e a já estabelecida alternativa?

Por muito que pense, apenas consigo ver os elementos fashionista (que veio a reboque do cinema independente) e marketing, como o Mustard referiu com as palavras aceitação e procura. Ou seja, uma tentativa de acordar a malta e dizer 'hey há um novo estilo venham ver'. E eu nunca fui muito afecto do marketing. Isso faz com que mais gente ouça melhor música, argumentarão? Ok.