08 fevereiro 2012

Lusophonia: You Can't Win, Charlie Brown


Para falar dos You Can’t Win, Charlie Brown começo por falar dos Grizzly Bear. No princípio de 2010 foi anunciado que os Grizzly Bear vinham a Portugal, tocar no Coliseu de Lisboa, e nessa altura tinha pensado escrever aqui um artigo sobre esta banda. Por dificuldades de agenda, acabei por não escrever esse artigo, mas tinha pensado sobre o que ia escrever – e ia escrever que eles eram sublimes. (Para mais esclarecimentos, ouvir o disco Veckatimest). E este adjectivo traz-nos aos You Can’t Win, Charlie Brown. Estes jovens lisboetas começaram há relativamente pouco tempo, mas já tocaram em vários países – e por ocasião de uns concertos em Londres, a revista francesa Les Inrockuptibles acusou-os de serem sublimes. Esse mesmo adjectivo que eu tinha encontrado para definir os Grizzly Bear, e que pode ajudar a definir os YCWCB. O adjectivo sublime significa, por exemplo, encantador. Ou grandioso. E estas são palavras que rimam bem com a música dos YCWCB. A estrutura das músicas deste sexteto baseia-se na guitarra acústica, pianos e órgãos – as pinceladas de cor são dadas com instrumentos como o metalofone, omnichord ou glockenspiel. As vozes são repartidas – há dois vocalistas principais, mas depois há coros prolongados, e aqui e ali, outro vocalista.
A bateria marca o compasso, quase sempre em crescendo, para músicas grandiosas – repletas de instrumentos conjugados numa barafunda equilibrada. Por isso, YCWCB são sublimes, por criarem essa espécie de caos arrumadinho. Inúmeros instrumentos, uns por cima dos outros – mas sem criarem nos ouvidos confusão ou estranheza ou demasiado barulho. Tudo está arrumado, em camadas estrategicamente colocadas, que fluem de forma harmoniosa, do princípio ao fim de cada música. E as músicas fluem harmoniosamente do princípio ao fim do disco.
"Chromatic" é o primeiro longa duração dos You Can’t Win, Charlie Brown. O disco foi lançado em 2011, pela Pataca Discos, e confirmou o nome dos YCWCB como um caso sério de talento na música portuguesa. Para os menos distraídos, isso já se ia percebendo em 2010 com o EP homónimo de 6 músicas, que os levou, por exemplo, à final do festival Termómetro. Aliás, caso sério não só na música portuguesa. Os YCWCB já foram referenciados várias vezes em sites e revistas estrangeiras, como a já referida Les Inrockuptibles ou o New Musical Express. Essa atenção da imprensa estrangeira contribuiu também para os colocar no cartaz do South By Southwest deste ano – a maior montra de bandas em todo o mundo. No entanto, os YCWCB foram convidados para representar Portugal, mas os custos de deslocação, alimentação e estadia ficam por conta da banda – perante tão grandes despesas, a banda lançou um pedido de s.o.s – estão a recolher donativos, no site oficial. E no dia 29 de Fevereiro, tocam no Cinema São Jorge, em Lisboa, numa angariação de fundos, que não deixa de ser uma boa ocasião para ver ao vivo uma grande banda portuguesa. E eles merecem. Não só merecem uma ajuda para ir ao SXSW como merecem ser ouvidos, ou vistos, como no novo teledisco de I’ve been Lost.

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