A razão deste No Dice dos Badfinger estar aqui não é propriamente por este ser um dos meus discos preferidos. Nem sequer por a banda ser uma das que mais apraz. Nem por ser um disco que marcou a História da música. A verdadeira razão razão deste disco figurar desta rubrica prende-se pelo facto de ser o melhor disco desta banda, para muitos desconhecida, que teve um percurso de vida bastante acidentado, sendo trágico a palavra certa. Mas já lá vamos. Tudo começou em 1963 em Swansea, País de Gales, liderados Pete Ham, vocalista e guitarrista principal. Por homenagem aos Hollies, passaram a chamar-se The Iveys, e começaram a abrir para bandas como Yardbirds, Spencer Davis Group ou Moody Blues. Porém, não obstante, serem considerados bons músicos, faltava-lhes qualquer coisa. Esse bocadinho a mais veio com a ajuda de um manager, Bill Collins, que os pôs em contacto com Ray Davies dos Kinks que puxou uns cordelinhos para abrir horizontes para a banda galesa. Collins puxou também pela banda, obrigando-os a criar músicas originais. É aqui que se começa a dar a mudança na banda e o início de uma história agri-doce. Em 1968, após terem sobrevivido milagrosamente a um acidente de viação, os Iveys como que agradeceram a benesse e começaram a escrever um largo número de canções, melhorando a sua qualidade a olhos vistos, sendo bem aceites pelo público em concertos. Esta boa onda coincidiu com alguns factores. Os Beatles tinham acabado de lançar a sua própria editora, "Apple", e queriam muito mostrar ao mundo que conseguiam encontrar as novas coqueluches, não só da música, mas da arte em geral. Acontece que Collins, o empresário, era amigo de Mal Evans, assistente da Apple e amigo pessoal dos Beatles. O "caldinho" foi feito e os Iveys gravaram um disco pela Apple. Ora, as expectativas eram altas mas o disco não teve aceitação nenhuma. Parecendo esquecidos na prateleira da Apple, os Iveys receberam com bastante surpresa a notícia que o próprio Paul Mccartney queria que eles fizessem a banda sonora para o filme "The Magic Christian" com Peter Sellers e Ringo Starr, e que gravassem um original de McCartney, "Come and Get It". A sorte batia à porta outra vez dos Iveys que, com a saída de um dos seus elementos, decidiam mudar o nome da banda para Badfinger. Acabaram por não fazer a banda sonora do filme propriamente dita, mas o disco, chamar-se-ia, ironicamente, Magic Christian Music e "Come and Get It" levou ao ponto mais alto da banda. Parecia que tinham chegado finalmente onde ambicionavam. Fizeram parte das gravações do primeiro disco de George Harrison, marcando presença, inclusive, nos concertos de ajuda para o Bangladesh, referidos como "uma banda Apple". Em 1970 lançam o seu "disco". Doze músicas tipicamente pop/rock. Abrindo a rasgar com "I Can't Take It", continuando em "Love Me Do" e "No Matter What", passando pelas baladas em "I Don't Mind", "Midnight Caller" ou a mítica "Without You", tornada famosa nos anos 90 por, imagine-se, Mariah Carey. É um disco que não envergonha ninguém, acertando na mouche em todos os pontos certos do pop/rock. A partir daqui foi sempre a descer. Os discos começaram a não vender, os Beatles separaram-se, deixando a Apple de pantanas, deixando os Badfinger, sempre vistos como uma banda "Apple", à deriva por sua conta e risco. A qualidade começou a baixar, os discos começaram a não vender, as lutas internas a aumentar. Isto bateu forte em Pete Ham, tanto que decidiu acabar com a sua vida em 1975. Os Badfinger tentaram continuar mas em vão. A magia inicial tinha-se ido. Restou o seu legado, aqui no seu mais alto pico com No Dice.
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