23 julho 2010

Stevie Wonder - Innervisions (1973)

Aos 22 anos de idade e depois da edição de “Talking Book” (em 1972), se o autor de “Superstition” não tivesse feito mais nada na vida, decerto que já mereceria o seu lugar na história! Nesta altura do campeonato…a Funk, a Soul, o Reggae, o Rock, a Pop e o Jazz não eram meros lugares comuns ou simples linguagens musicais, eles eram “a magia” de Stevie Wonder!
Artista com contrato discográfico desde os 12 anos, “Little Stevie” (como era conhecido) era a par dos Jacksons uma das caras mais famosas da lendária casa da soul, a “Motown”. Cedo se destacou como um prodígio quer da interpretação, quer da composição. Mas ao inicio da década de 70, Stevie deixava de ser o “little” e apostou “crescer” em toda a plenitude. Renegociou o seu contrato com a Motown (algo inédito e ousado à época) e passou ter 100% controlo criativo.

Os resultados não se fizeram por esperar e em 1971 editou “Musico of My Mind”, um disco que não foi um sucesso comercial fora do então denominado “Black Album Charts”, mas que dava algumas primeiras pistas (brilhantes) do que viria a seguir. Cada vez mais ambicioso, editou no ano seguinte o clássico: “Talking Book”. Aliado a uma digressão (a fazer as primeiras partes) dos Rolling Stones fez com que Wonder conquistasse pela primeira vez o público Rock. O que equivale a dizer: os brancos!

Wonder não só quebrava as barreiras raciais (algo que Jimi Hendrix tinha tentado, mas nunca tinha conseguido), como acabava com o mito de que os grupos da Motown, ou “R n B” nunca conseguiriam sair do tradicional circuito da comunidade negra.

Foi neste ambiente favorável que começaram os trabalhos em “Innervisions”. Um disco que levaria ainda mais longe o nome de Stevie Wonder. Uma obra ainda mais equilibrada que a sua predecessora e que se escuta do principio ao fim: sem mácula! Vê-se que Mr. Wonder continuava em plena progressão pela sua “montanha musical”. Há aqui uma relevância no controlo e “masterização” dos sintetizadores (“Too High”) e uma refinação apurada do som de estúdio (“Visions”). Inovações tecnológicas que nem aos olhos dele escapavam…

Mas é no capítulo das letras onde se nota mais a mudança de Wonder. É aqui os seus primeiros trabalhos sobre os problemas sociais da vida quotidiana (“Jesus Children of America”), sobretudo da descriminação racial (a mini-ópera Funk, “Living for the City”). Neste rol de críticas há também um ataque satírico a Richard Nixon , com o excelente “He's Misstra Know-It-All”.

Mas não se julgue que “Innervisions” é eminentemente político. Há aqui grandes canções descomprometedoras como o Funk-Rock de “Higher Ground”; a balda soul de “Golden Lady” ou o quase latino “Don´t You Worry ´bout a Thing”.

Editado a 3 de Agosto de 73, o disco ficou selado por enorme sucesso comercial. Pena foi que passados três dias, Stevie Wonder tivesse envolvido num aparatoso desastre de automóvel que quase lhe ia ceifando a vida. Além de ter ficado em coma mais de 10 dias, o músico perdeu parte do sentido do olfacto e temporariamente o paladar. Nada que o demovesse na sua cruzada musical. Após alguns (penosos) meses de recuperação voltou aos palcos e aos estúdios. Esta é uma verdadeira saga de resistência e espírito de sacrifício. Com ele vale tudo: pela música!

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