Se Peter Gabriel se virou mais para a “World Music”; se Tony Banks se dedicou à composição de álbuns orquestrais menores; se Mike Rutherford encetou por caminhos completamente comerciais e Phil Collins fez as porcarias baladeiras que fez…sobra alguém que se encarregue de salvar a “Honra do Convento” dos velhos Genesis? Felizmente, ainda existe esse “alguém”. Chama-se Steve Hackett e é o único dos ex-Genesis que ainda pratica aquilo que se pode chamar de “Rock Progressivo”. O último dos resistentes…
“Out of the Tunnel´s Mouth” é a última oferta de um guitarrista que aos 60 anos de idade ainda carrega consigo aqueles arranjos musicais audaciosos dignos da “velha guarda Prog”, bem como uma enorme capacidade de reinvenção e uma aptidão para compor temas minimamente inteligentes e ambiciosos.
O disco divide-se em oito temas onde Hackett explora ambientes tanto acústicos como eléctricos. Algo que sempre fez com mestria e precisão em todos os seus registos a solo (e já vão mais de vinte). O inaugural “Fire on the Moon” é um óptimo exemplo dessa maneira de estar em que nos vêm à memória grandes sons extraídos do catálogo dos Genesis como nos clássicos “Selling England By the Pound” ou “Trick of the Tail”. Como bónus temos sempre os seus solos precisos, meticulosos e celestiais (que só encontram rivalidade em Robert Fripp dos King Crimson ou David Gilmour dos Pink Floyd).
Segue-se o lindíssimo “Nomad”, uma homenagem aos ciganos em que o ex-Genesis volta a explorar as potencialidades da dicotomia entre “acusticalidade vs electricidade”, emprestando ao tema um cariz mágico em que se cruzam influências que vão do Flamenco passando pelo Jazz até ao Rock. Já “Emerald and Ash”, tem um ar “Vitoriano”, decididamente mais inglês, mais Genesis, em que poderiam surgir quatro ou cinco temas diferente da mesma canção. O solo eléctrico e corrosivo de Hackett nesta canção é aquilo a que poderemos chamar verdadeiramente progressivo.
Com “Tubehead”, Hackett volta-se para terrenos dignos de “Guitar Hero”. A sua destreza técnica não fica nada atrás de nenhum Eddie Van Halen ou Steve Vai deste mundo. Mas melhor mesmo, e talvez a obra que enche mais as medidas é “Sleepers”. Tem tudo aquilo que todo o velho fã de Genesis gostava. Começa como uma balada celestial que depois desemboca numa tempestade épica com grande sentido orquestral.
Depois do excelente instrumental, o pequeno “Ghost in the Glass”, chega-nos o tema mais pesado do disco: “Still Waters”. Mais uma lição de mestre de Hackett e com uma ambiência que não dista muito dos últimos registos dos King Crimson.
A fechar, surge o arábico e semi-cinematográfico – “Last Train to Istanbul” – um tema quente, exótico, mágico e pelo qual a guitarra solista de Hackett nos guia como se de uma câmara se tratasse.
No global este é um disco sólido e talvez o melhor que Hackett produziu desde o excelente “To Watch the Storms” (2002). Uma obra que esteve quase para não ver a luz do dia devido a complicações legais surgidas com o divórcio do ex-Genesis e a pintora brasileira Kim Poor (autora de muitas das capas do vasto catálogo do ex-marido). No final, o casamento foi à vida, mas pelo menos salvou-se este disco...
1 comentário:
aprecio que se vá buscar discos como este, apesar de ainda não ter ouvido. obrigado colega André
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