Quem disse que o Rock Progressivo não era capaz de soar melodiosamente e com alguma sensibilidade Pop, de certeza que nunca ouviu “In the Land of the Grey and Pink” dos Caravan. Uma obra imaculada que misturou na perfeição as tendências vanguardistas da herança do Psicadelismo, com algumas das fórmulas Pop (surrealista) desenvolvidas na década anterior por “gurus” como John Lennon, Brian Wilson ou Syd Barrett.
Talvez por virem da mais sossegada e acolhedora Canterbury, no sudeste de Inglaterra, os Caravan eram muito menos espalhafatosos que muitos dos grupos que provinham de Londres (Yes, King Crimson ou Emerson, Lake & Palmer). Formados “das cinzas” dos extintos Wilde Flowers em 1968 (que a um certo ponto contaram com os serviços de Robert Wyatt na voz além de outros futuros membros dos Soft Machine), os Caravan eram constituídos por Pye Hastings (guitarra e voz), Richard Coughlan (bateria) e os primos Dave (teclas) e Richard Sinclair (baixo e voz).
Apesar de nunca deixarem de ser “Progressivos”, a sua postura “campestre” transparecia nos discos uma calmaria e um sentido de amenidade que ainda hoje se conseguem suportar facilmente. Ou seja, os Caravan bem podiam ser a banda de Rock Sinfónico mais suportável pelos anti-fãs deste género de música que é no fundo uma mistura do Rock, Jazz e Folk Inglesa regado com algumas sensibilidades Pop que fazem de “In the Land of the Grey and Pink” algo muito mágico, cósmico e especial.
Se tiverem paciência, façam a experiência: oiçam este disco três vezes seguidas. Acredito que se conseguirem fazer isso, é sinal que ele vai ocupar um lagar muito especial na vossa colecção.
E tirando a longa suite “Nine Feet Undewrground”, o resto é muito fácil de escutar. E haverá melhor “single” que “Golf Girl” para começar um disco? Um tema que mais parece que a Alice no País das Maravilhas se transformou em ”Hippie” e foi jogar golfe com os jornalistas da BBC. Tudo muito “very british”…
Segue-se “Winter Wine” uma canção gentil e muito ao estilo dos contemporâneos Genesis, em que se vislumbra uma pareceria entre as teclas de Dave Sinclair e os ambientes mais acústicos criados pela guitarra de Hastings. Mas os Caravan não se esgotavam em devaneios acústicos ou jazzísticos. “Love You to Love You (and Tonight Pigs Might Fly)” poderia ter sido um ”hit-single” se tivesse sido criado por outro tipo de banda.
Mas os Caravan nunca foram o género de querem o sucesso a qualquer preço, álbuns comerciais ou groupies a adula-los. Aliás objectivos muito em comuns a qualquer banda do período áureo do “Prog-Rock” (1969 a 1976).
O épico “Nine Feet Underground” é a prova disso mesmo. Ficava bem em qualquer disco da época ter uma suite de vinte e tal minutos, dividida em oito partes e com muitos solos e secções musicais diferentes. Mas afinal de contas em 1971 tudo era possível. Nem as editoras mandavam nos grupos, nem estes se submetias às regras do mercado. Era “música pela música”. Algo audacioso e corajoso e que hoje só muito poucos conseguem almejar.
“In the Land of the Grey and Poink” é não só o melhor disco de sempre dos Caravan, como um dos melhores discos de Rock Sinfónico. E um dos poucos (do período) que funciona sempre como um bom vinho de “reserva especial”…quanto mais velho melhor!
Sem comentários:
Enviar um comentário