19 março 2010

Eric Clapton – 461 Ocean Boulevard (1974)

Após a separação dos Derek and the Dominos em finais de 1970, Eric Clapton, o “Deus da Guitarra”, “Mr. Slowhand”, acabava de completar 25 anos, mas o seu historial parecia o de um homem de 40! Em cinco anos o jovem Clapton tinha um C/V inalcançável: primeiro com os “poppy”Yardbirds (64-65), depois com “os homens de barba rija” de John Mayall's Bluesbreakers (65-66) e mais tarde com os super-grupos Cream (66-69) e Blind Faith (69). Mas o auge é sem dúvida o disco Layla and Other Assorted Love Songs que gravou com os Dominos (sob a batuta do experiente Tom Dowd na produção) no lendários estúdios de Miami, Criteria Sound.
No entanto, o grupo acabou ao final de poucos meses e Clapton retirou-se da cena musical, tornando-se um perigoso heroinomano.
Durante 4 longos e penosos anos, Clapton apenas apareceu em palco duas vezes. A primeira foi no Madison Square Garden (1971), concerto organizado pelo amigo George Harrison a favor da vítimas do Bangladesh. A segunda, no “Rainbow”, Londres (1973), em jeito de “homenagem especial”, organizada por Pete Townshend, e a qual contou também com a presença de outros velhos comparsas como Ronnie Wood ou Steve Winwood.
Basicamente Clapton estava “feito em pedaços”, mal se aguentava em palco e estava todo “carcomido”. O destino fatal que tinha ceifado outras “Rock Stars” estava prestes a bater-lhe à porta. Até que aconteceu precisamente o contrário. Foi o próprio “Junky Clapton” a inscrever-se na clínica de reabilitação.
Meses passaram e o desejo de tocar e gravar voltaram espontaneamente. Chegou 1974, e com ele um “Slowhand” “renascido das cinzas”. Para começar a sua jornada musical voltou ao ponto de partida, ou seja aos estúdios Criteria juntamente com algumas caras familiares (o produtor Dowd e o ex-baixista dos “Dominos”, Carl Radle) e outras novas (a futura diva do “disco sound” Yvonne Elliman, o guitarrista George Terry, o teclista Abhy Galunten e o baterista dos roqueiros James Gang, Jim Fox).
Dai nasceu, “461 Ocean Boulevard”, considerados por muitos seu melhor disco a solo. Basta ouvir os primeiros acordes do enérgico “Motherless Children” para se perceber que a magia tinha voltado às mãos de Clapton. O guitarrista estava vivo e de boa saúde. O pior já tinha passado como mostram os temas sobre a dor e isolamento: as baladas “Give Me Strength” ou “Please Be With Me”. Mas no global, o som e o tom do disco são bastante positivos. Destaca-se aqui a vontade de explorar outras avenidas sónicas como o “reggae” (a versão de “I Shot the Sheriff” de Bob Marley ou “Get Ready”), o country (“Willie and the Hand Jive”) ou o Rock talhados para as estações FM, em plena ascensão nos E.U.A. e Europa (“Mainline Florida”).
No fundo, estão aqui todos os condimentos que seriam a sua “imagem marca” durante o resto das décadas de 70 e 80 e que o tornariam numa estrela global. Daqui para frente não faltariam certamente os discos de platina a adornar a sua sala nem os dólares a encher a sua carteira. No entanto, e tirando algumas raras excepções (algumas partes de “Journeyman de 1989 ou de “No Reason to Cry” de 1976), a carreira criativa de Eric Clapton (apesar do enorme sucesso comercial) não voltaria a chegar a este nível de concretização eficaz como em “461”. Um disco, que se escuta muito bem do início ao fim, sem grandes sobressaltos, cujo o som ainda se mantêm bastante “vigoroso” e “actual”. Uma verdadeira “obra de regeneração”.

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