05 junho 2009

a propósito dos AC DC em Alvalade

Lembro-me da primeira vez que fui a um concerto de Rock com triste nitidez. Havia a preocupação do blusão de ganga e da aparência geral de libertinagem (fui com o meu pai e algumas pessoas do trabalho dele, funcionárias de uma empresa de contabilidade em cujos escritórios se fumavam até as beatas esquecidas dos colegas o que impregnava as paredes de um cheiro a papel fumo unhas e tupper-wares perdidos): lenço na cabeça, mochila bem recheada para o que desse e viesse (no seu interior encontrar-se-iam uma sandes de fiambre e a camisa que fora usada nesse dia), t-shirt da banda e um mascar de pastilha elástica desafiante como quem diz, Agora é tempo de curtir; de abanar o capacete.
Não entendi imediatamente a causa de tamanha transformação nos que me rodeavam, mas achei interessante e tentei juntar-me à causa. Era o momento em que todas aquelas pessoas que com o tempo se haviam tornado chatíssimas mostravam que eram muito mais do que parecem no dia-a-dia e que na verdade não seria excessivo considerá-las grandes malucas, no sentido não-patológico do termo. Uma ilusão de libertação.
Do topo do Estádio de Alvalade via-se a morna sossegada noite lá fora e uma multidão cá dentro. Uma multidão de priveligiados, de grandes malucos que deviam ter mais juízo visto que amanhã era dia de trabalho mas ao invés estavam ali, a testemunhar um evento raro e certamente enriquecedor. A Cátia vestia uma t-shirt de alças branca com a cara do Mark Knopfler estampada, esbracejava lentamente, o que nos expunha uma soberba axila, vincada de suor e peles, o cigarro numa das mãos, a sweat-shirt à cintura, com os olhos fechados baloiçava a gordura abdominal a um ritmo inventado por si mas que estava convencida ser ao da Sultans of Swing, o que lhe ia na cabeça naquele momento? Era a pergunta que me fazia a mim mesmo, enquanto adormecia desconfortavelmente.

Hoje em dia sinto saber a resposta.

Estes concertos fantasma de bandas nostálgicas exploram de uma maneira obscena o vazio das vidas das pessoas, no meu entender. São a banha da cobra e a demonstração da pobreza cultural e social na qual a população está mergulhada.

3 comentários:

frederico disse...

Em certa medida estás correcto. As pessoas a partir de uma certa idade, de modo geral, perdem o interesse de viver. E passam a ser estes momentos como um escape para as suas vidas vazias. No dia a seguir, tudo é igual...

André Sousa disse...

Caro Raul

Não partilho de uma visão tão pessimista. Os AC/DC nunca engaram ninguem. Desde 1974 que são assim: puros e duros!
O facto deles e outras bandas mais antigas continuarem a ter sucesso não me preocupa. O que é preocupante é não aparecerem tantas bandas novas boas capazes de deslumbrar como os Stones, os Zeppelin ou os Beatles

Anónimo disse...

Os AcDc são como uma caneca de cerveja. Servem para dar uns urros e partir vidros de carros. Substância ali não há nenhuma...