Em vários posts aqui neste blog tenho-me deparado com redescobertas de bandas dos anos 60 e 70, positivamente descritas como progressistas ou de vanguarda. A maioria desses grupos, trazidos essencialmente pelo Frederico Mustarda, eram desconhecidos na sua altura, excepto talvez por uma minoria, mas podemos afirmar que os nossos pais não faziam ideia de quem se tratavam. Na sua altura o incómodo que provocavam manteve-os na obscuridade, mas hoje há uma vontade de os ressuscitar.
A onda de revivalismo que hoje se vive, quer na moda, quer na música, é algo preocupante. Alguns cineastas também a exploram, como o Tarantino, descaradamente com o Death Proof.
Não tenho nada contra, à partida, e a verdade é que me deu bastante gozo ver este filme, saídinho dos anos setenta, jurariam alguns. Mas se por um lado o Tarantino não é um tipo de autor que busca o sublime, aceitando com um sorriso perverso nos lábios a limitação que copiar o universo dos setenta enceta, por outro, duvido que queira ficar conhecido na história do cinema como o fotocopiador infernal do Tenessee.
Mas faz-me pensar: qual a razão de tamanho retrocesso? O que leva uma banda do século XXI a, em vez de explorar novos universos, virar-se para um já esgotado décadas antes?
Deixo aqui uma citação do Gogol Bordello, para reflexão:
"...making new identities for music. And the possibilities are fucking endless. There's no time for fucking revivalism. There's only time to move forward. There's no time for soft core. You gotta get fucking hardcore."
5 comentários:
Caro Raul
como habitualmente, audaz na escolha do tema sobre o qual falas.
Sobre este assunto, concordo e discordo.
Não há tempo para revivalismos, e as possibiliades, na música e cinema, são infinitas. Haja é criatividade para as explorar. Haja o saber e a capacidade para hoje, no século XXI, fazer, criar algo que nunca tenha sido feito. Esse é aliás o desafio que se coloca, a qualquer artista, e serão poucos o que o superam (o que é pena). Neste sentido, concordo plenamente. Que se dane o revivalismo, principalmente se é usado para disfarçar o não ser capaz de criar algo novo, algo valioso.
Por outro lado, o que já foi feito, ao longo de décadas de música, quando é realmente bom, deve ser enaltecido e apreciado. E por ser bom, serve naturalmente de inspiração e leva os artistas a quererem reviver. E há alguns que não o fazem para disfaçar a inaptidão, mas para prestar a sua homenagem a uma determinada época, na qual não estiveram mas gostavam de ter estado. E portanto, se o reviver é feito num sentido positivo, construtivo e bem feito, ainda bem que que o fazem. Não para mastigar o passado, mas talvez para dar continuidade a algo que foi bom, que marcou, e dar essa continuidade, numa época totalmente diferente.
Bom, isto do "andar para a frente" é muito bonito. Principalmente vindo da boca do Hütz que mais não fez do que juntar música cigana ao punk. Nada contra a banda, à qual até acho alguma piada embora não tenha muita paciência para os ouvir por puro prazer, mas inovar por inovar... Já os próprios Buraka Som Sistema o fizeram - fundir dois géneros. Como tudo está inventado e feito, a saída para quebrar com convenções é recorrer ao que foi feito e vesti-lo com outras roupagens. Percebo a tua preocupação, Raul, quando falas da onda de revivalismo, mas - também já o disse - é bom ouvir música boa do que nenhuma.
Liars, Black Dice, yeah yeah yeahs, Gogol Bordello originais?!
Recuso-me a falar da ausência de originalidade na música a partir de um documentário que tem como base comentários de bandas como estas.
Todas estas bandas foram beber alarvemente ao movimento punk dos anos 70 e ao new age inglês dos anos oitenta.
Concordo com os dois primeiros comentários, embora:
1 - nada é 100% original, não é esse o patamar que pretendo procurar.
2 - misturar dois estilos de música não é apenas aritmética.
Em relação ao Vasco, uma vez mais, mete palavras na minha boca, fala de originalidade, quando eu no texto inteiro não faço nenhuma referência a essa característica, além de que se visse o documentário em vez de falar de cor perceberia que este não era apologista dos liars ou yeah yeah yeahs e ao invés aborda-os com algum cepticismo.
"Mas faz-me pensar: qual a razão de tamanho retrocesso? O que leva uma banda do século XXI a, em vez de explorar novos universos, virar-se para um já esgotado décadas antes?"
Isto para mim é por em causa a originalidade ou repetição das bandas.
Por outro lado, a iniciativa dos Gogol Bordello é de louvar e podia começar por partir dele, visto que, a sua banda é uma smoking orquestra mais hardcore...
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