08 junho 2010

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)

Façam o seguinte exercício de imaginação. Pensem numa banda qualquer que exista em 2010. Acabaram agora de se formar. Só têm 36 horas para gravar um disco. Possuem um som que ainda está por inventar ou forjar. O disco sai e cai que nem “uma bomba” na crítica e no público. Passados seis meses após do lançamento do disco de estreia já são considerados o maior fenómeno desde que Elvis e os Beatles inventaram a Pop e o Rock n Roll. Vendem milhões de discos, enchem estádios e têm os Sete Continentes na palma da mão.
Conhecem alguma banda que faça isto actualmente? Acho que grupos assim já nem se fabricam! Mas foi precisamente isto que aconteceu aos lendários: Led Zeppelin.
Nascidos das cinzas dos Yardbirds, dos quais Jimmy Page foi o último de uma série de guitarristas ilustres (Eric Clapton e Jeff Beck), os Led Zeppelin (nome inventado por Keith Moon quando este imaginou qual seria a sua banda ideal: “Lead Zeppelin!!”) eram a junção dos talentos de dois experientes músicos de estúdio (Page e o multi-instrumentista John Paul Jones) e dois ”putos” de Birmingham que tocavam numa banda local (Band of Joy) de seus nomes: Robert Plant (voz) e John Bonham (bateria).
Após uma curta tournée pela Escandinavia (ainda sob o nome “The New Yardbirds”), o grupo concentrou-se nos Olympic Studios, Londres, em Outubro para a gravação do “Lp” de estreia. Graças aos serviços do seu manager, o sempre astuto e feroz Peter Grant, foi forjado em três tempos um contrato milionário com a Atlantic Records (de Ahmet Ertgun) sem a editora ouvir sequer uma nota ou demo!
Sob a batuta dos talentos de produção de Page, a engenharia de som de Glyn Johns, o grupo ergueu uma obra para a eternidade. Nota-se logo pela abertura de “Good Times Bad Time” que este não era um mero grupo de Rock. Nem eram demasiado Blues como os Cream, nem demasiado cósmicos como Hendrix. Antes pelo contrário, os Zeppelin tinham um “som de chumbo” com os pés bem assentes na terra. Nascia assim o género Hard-Rock, com Riffs bem potentes, solos dilacerantes, baixo bem vincado, uma batida poderosa e uma voz que alternava entre a melhor tradição dos blues do Mississípi e o histerismo operático.
O vocalista Robert Plant, com o seu aspecto de “Viking disfarçado de Hippie”, tinha só 19 anos quando gravou este disco, mas a sua voz já era potente demais para a mesa de mistura. Foi necessário colocar “painéis” à volta da sua cabine para que o som que saia da sua laringe fosse minimamente controlado. No entanto, quem parecia “fora de controlo” era Jimmy Page que a meio de “Good Times Bad Times” protagoniza um momento de revelação: a “arte do shredding “, sempre utilizado por milhões de guitarristas ao serviço da causa “Heavy-Metal”.
Mas os Zeppelin não eram apenas uma banda “Heavy”. O grupo demonstrava aqui que a Folk e as guitarras acústicas também cabiam neste Rock. A balada “Babe I´m Gonna Leave You” com as suas constantes alternâncias entre a delicadeza e a brutalidade é talvez o melhor exemplo daquilo que os Zeppelin iriam imprimir a todos os seus discos da sua carreira.
Contudo o “tour-de-force” chega sob a forma do épico “Dazed and Confused”. Aqui remetido a uns curtos, (mas intensos) 6 minutos de duração. Ao vivo poderia chegar quase à marca da meia hora de duração. È aqui que se sente que este grupo era uma máquina poderosa, bem oleada capaz de por à prova todos os nossos limites de audição através de variações e vibrações emocionalmente sónicas.
Chegamos ao lado B onde aparece o vibrante órgão de John Paul Jones com “Your Time is Gonna Come”. Depois vem o instrumental “Black Mountain Side” com page novamente nas guitarras acústicas e um tocador de tabla indiano (Viram Jasani). Um prelúdio calmo antes da tempestade sonora que é “Communication Breakdown”. Um clássico do género “Hard n Heavy” que em 2 minutos e meio resume o “Poder” que era ser “tocado” por uma banda deste calibre, numa altura em que o Rock enfrentava enormes mutações!
A fechar vem ao de cima a sua paixão pelos blues. Não é alheio que as duas versões de Willie Dixon, primeiro com “You Shook Me” e depois com “I Can´t Quit You Baby”. Um ambiente onde a banda se sente à vontade o suficiente para poder compensar o facto de ainda não terem muitas canções compostas por si à data. Inclusive o tema final – “How Many More Times” – creditado a Page, Jones e Bonham mas que é uma cópia de “How Many More Years” de Howlin Wolf. Ou como reflectiu Robert Plant (anos) mais tarde sobre esta situação: “nesta grande família musical somos todos pedintes ou ladrões”!
Larápios ou não, o que é certo é que uma geração inteira estava á espera e disposta a aceitar este novo som: intenso, pesado e mordaz! Na viragem da década de 60 para 70, os Led Zeppelin eram” o maior balão musical” capazes de rebentar com a Indústria Rock!

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