Após terem passado metade da década de 70 (musicalmente) à deriva com inúmeras mudanças de formação, discos menores e uma “pedra no sapato” chamada “Peter Green”, os Fleetwood Mac foram apanhados de surpresa pelo sucesso do seu álbum homónimo de 1975.
Já com a dupla formada por Stevie Nicks / Lindsay Buckingham, que não só tinham as canções como também emprestavam ao grupo uma imagem mais “americanizada” e de “cara lavada”, o grupo conquistava um monstruoso sucesso que tantos anos tinham levado a alcançar após a saída do genial guitarrista Peter Green.
O problema é que os próprios Fleetwood Mac não estavam à espera que esse “estrondoso colosso” lhes virasse as suas vidas pessoais ao contrário. Buckingham e Nicks terminavam o seu namoro de anos; o casamento de Christine e John Mcvie também ia pelo cano abaixo e Mick Fleetwood, que para além de ter alimentado brevemente um relacionamento secreto com Nicks, descobriu que a sua mulher o andava a enganar com o seu melhor amigo.
Com as suas próprias vidas emocionalmente desfeitas, mais parecia que o destino da banda iria se desmoronar após a digressão de 1975/76. No entanto a companhia discográfica não se apercebendo do mau ambiente exigiu que a banda voltasse ao estúdio para gravar o sucessor de “Fleetwood Mac”.
Ainda ninguém sabe (nem eles) onde foram arranjar forças para se “olharem nos olhos”, “cara a cara”. O que fica para história é que o material que a banda gravou durante quase um ano deu para ser um dos maiores monumentos da música californiana do século XX. Um clássico não só dos anos 70, como da história do Rock.
No entanto, a inspiração não veio sem o seu preço. Foram centenas de horas de gravação divididas entre Miami, Los Angeles e Sausalito em que os Mac berraram, choraram, fizeram a guerra e a paz, embebedaram-se, drogaram-se e levaram os dois produtores Ken Cailllat e Richard Dashut aos limites da sanidade. Inclusive há um episódio em que as “masters” foram apagadas e as gravações tiveram de começar do zero. Para grande tristeza (seguida de deboche) de todos…
Musicalmente falando o disco continua na linha do seu predecessor: um rock descontraído e tipicamente californiano, misturado com muita sensibilidade feminina (são sobretudo as vozes e as canções de Stevie e Christine quem mais brilham aqui) e alguma tendência para exorcizarem nas canções os retratos dos próprios fantasmas derivado do final das suas relações.
Os destaques vão sobretudo para a canção tipicamente encantadora ou sonhadora de Nicks (“Dreams”); o roqueiro “Go Your Own Way” com grande prestação de Lindsay Buckingham nas guitarras e o imparável “Don´t Stop” que foi o melhor remédio que eles tiveram para seguir em frente.
Depois há o misterioso, hipnótico “Gold Dust Woman” com Nicks a transformar-se de princesa em bruxa e que contém uma excelente produção de guitarras do seu “ex”. Mas curiosamente a melhor faixa do disco é assinada pelo grupo inteiro. “The Chain” é tal como eles cantam aquilo que os “mantêm unidos”. Ninguém sabe de onde vem essa “corrente”, o que é certo é que passados quase 35 anos os Fleetwood Mac não só continuam por aí (embora menos vezes), como produziram um disco quase “imortal” que soube capitalizar na perfeição o turbilhão de emoções e experiências vividos pelos músicos. Há males que vêm por bem…
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