23 dezembro 2009

Living Colour@Santiago Alquimista - 22/12/2009

Devo começar por dizer que não sou o maior conhecedor de Living Colour. Mas comprei o Stain em 1994, com 13 anos, e continua a ser um dos grandes discos dos anos 90.
Existe uma febre recorrente em relação à década de 80, e os dez anos seguintes tendem a ser menosprezados em termos de modas e gostos. Pensa-se nos anos 90 apenas como o período no qual se afirmaram tanto o grunge como as boybands, tal como a popularização da dance music. Mas eu creio que é redutor.
Na primeira metade dos anos 90, a par do conhecido slackerismo e do heroin chic, conviviam muitas expressões de vanguarda na arte, acompanhadas de um cepticismo urbano de cariz pós-moderno, uma espécie de auto-sarcasmo. Decorrente do crescimento económico nos anos 80, este foi também um período de excessos e de alguns traços barrocos – e como não podia deixar de ser, tinha equivalentes musicais. E os Living Colour espelhavam isso perfeitamente.
Pertencem, a meu ver, a um grupo selecto de bandas: bandas extremamente criativas e compostas de virtuosos, mas com traços pop que permitiam aos grupos ter considerável popularidade e êxitos, também com alguma dose de ironia.

Escrevi, até agora, a maior parte desta crónica no passado, mas não é justo para a banda. O concerto de hoje provou que estão em forma, talvez como nunca tenham estado. O preço do bilhete, a proximidade das festas e a noite de temporal seriam vários factores para desmotivar uma ida, mas sabia que iria arrepender-me se não fosse. E valeu mais a pena do que imaginava.

Um breve apontamento para expressar a pena que tenho em que nem toda a gente possa ter presenciado o concerto. Mesmo para quem não é tocado por este tipo de música, qualquer humano ficaria impressionado e/ou convencido pelo que teria visto e ouvido. E, nestes anos em que a produção musical dá espaço a toda a gente, é curioso como ninguém se interessa e como talvez fosse eu o mais novo de entre todos os presentes. É uma pena que se vá a concertos principalmente por moda.

Para o Santiago Alquimista, palco de estreia destes norte-americanos em Portugal, 100 a 150 pessoas é um copo meio cheio, mas chegou – e tornou a experiência mais pessoal. Estamos também a falar de uma banda cujo pico de popularidade já passou e que felizmente regressou ao activo.

Este foi o último concerto da digressão, no qual a banda tocou uma mistura equilibrada entre canções antigas e recentes, algumas do álbum The Chair In The Doorway, acabado de sair. Os Living Colour mantêm o mesmo estilo, as novas canções são frescas, enquanto que não destoam das anteriores. E o público aplaudiu a banda de forma sincera. Estavam ali para ouvir música, fosse ela antiga ou não. No fim, a banda comprometeu-se a autografar qualquer coisa que lhes fosse trazida (em termos de memorabilia, trouxe uma setlist e 4 fotografias com a banda). Devo ainda dizer que tocaram com um backline adequado a um concerto de estádio, o que se reflectiu no volume, altíssimo. But hey, it's rock n' roll. E o equipamento do lendário guitarrista Vernon Reid parecia um puzzle de 15 mil peças.

O alinhamento, com quase duas horas e meia de duração, deu espaço aos desempenhos a solo na guitarra do virtuoso Vernon Reid – ainda andava o Tom Morello a brincar com ele próprio e já o Vernon Reid desbravava caminhos semelhantes –, uma incursão pelo público pelo baixista Doug Wimbish (com solo simultâneo), apontamentos impressionantes do vocalista Corey Glover e, last but not least, um solo de bateria inacreditável por parte de Will Calhoun. Estes momentos podem não dizer nada a muita gente, e bem vos entendo; mas estamos a falar de solos que mexem com emoções e não apenas espalhafato técnico.

Escuso-me de fazer considerações acerca da qualidade da música composta pelos Living Colour. Talvez nem os exemplos que aqui deixo em vídeo sejam os melhores. A nota que dou é, na minha opinião, dada objectivamente pela qualidade do concerto. E esse foi perfeito.






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