O mestre está de volta
O Grande Artista português do nosso tempo reaparece em 2008, com um grande Álbum. Grande porque cada cd tem 40 músicas/faixas; porque os cds vêm numa caixa que é um livro, com 160 páginas; porque o produto final é uma obra grandiosa.
O duplo “O Amor dá-me tesão/Não fui eu que estraguei” traz de volta Manel Cruz – o artista mais completo da nossa praça. Completo, não só porque estica a sua arte a várias áreas (música, escrita, desenho…), mas porque o que faz em cada uma dessas áreas, fá-lo bem.
A sua arte faz-me lembrar o Portugal no início do século XX, a fase mais borbulhante e criativa da arte nacional. Aí, havia enorme quantidade de artistas de grande qualidade, o que facilitou o aparecimento de Movimentos e Correntes.
Hoje, quase 100 anos depois, o Manel Cruz apresenta-se como o maior artista nacional, no sentido mais lato de Artista criador.
Não quero com isto dizer que não há cá mais ninguém com enorme capacidade (antes pelo contrário), e que não se criem agora Movimentos e Correntes que também fiquem para a história. Digo apenas que ele é o mais esclarecido, o mais maduro.
O álbum duplo que editou no ano passado é fruto dessa maturidade, um álbum que esteve na incubadora 9 anos (1998-2007). Como é hábito, o Manel não precipita os seus lançamentos dos seus produtos, que só saem quando estão no ponto certo.
Este disco é mesmo isso - não é uma banda sonora, é a longa-metragem toda.
Como definir em termos de géneros ou etiquetas? Não é rock, não é indie, não popular, nem é tango…é tudo – é Foge Foge Bandido.
Um disco diverso, que para nos contar a história, passa por vários estilos e formas, sem a necessidade de estarem relacionados entre si.
Depois, além da música, ainda há o livro de 160 páginas, com ilustrações do autor, que fazem, como já disse, uma obra grandiosa.
(Resta ouvir em palco, no festival para gente sentada, Santa Maria da Feira, dia 14 de Fevereiro de 2009)
3 comentários:
Obrigado pela dica. Confesso não conhecer muito da obra deste músico (excepto as incursões Pop nos Ornatos e Pluto).
Mas, ó Stuart, será que podes explorar melhor em que sentido é que a produção artística do Manel Cruz se aproxima dos movimentos do início do século XX (presumo que te refiras ao expressionismo)?
É que para quem não conhece mais nada dele para além das tais referências musicais, fica-se perplexo perante a categórica afirmação de se tratar este de ser o maior artista nacional!
Caro Raoul,
quando me refiro ao início do século XX, o nome que mais rapidamente me vem à cabeça é o de Almada Negreiros, que escrevia, pintava, pensava, etc... Como ele havia outros.
E não me refiro a uma corrente em específico, mas às várias cenas que iam aparecendo nessa altura, até aos anos 20, modernismo, surrealismo, futurismo. Uma fase em que os artistas eram-no de uma forma completa, sempre atentos a tudo o que acontecia, e ávidos por Criar.
É nessa linha que relaciono o Manel Cruz. Além da música, a escrita (principalmente nas letras), e o desenho/ilustração, são outras áreas a que se esticam os tentáculos deste artista.
Compreendo a preplexidade perante tal afirmação categórica.
Mas digo que o Manel X é o maior artista nacional da Actualidade (não de todos os tempos), pelo menos na minha opinião, que admito que possa estar toldada por paixão e sentimento, que faço questão de não afastar quando falo sobre música.
Um abraço
(mais pormenores sobre a paixão na escrita musical num próximo artigo)
Sim, depreendi que essa afirmação era baseada em emoção, mas, do meu ponto de vista, os aspectos emocionais nem sempre ajudam à crítica, esteja ela relacionada com a origem do universo, a melhor maneira de cozinhar batatas, como curar uma gripe ou crítica musical.
Mas é claro que, porém, que sem eles, a vida seria chatíssima.
Bom, resta-me seguir a dica, e procurar então mais coisas do Cruz.
Abraço
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