18 janeiro 2005

JOHN LENNON

"No dia 4 de Novembro de 1980, a maioria dos eleitores norte-americanos votaram favoravelmente a Ronald Reagan e foi eleito o quadragésimo Presidente dos EUA. A 8 de Dezembro de 1980, 34 dias depois, John Lennon - o ex-beatle que representou o efeito que a música rock pode ter na vida real mais do que qualquer outro artista da sua geração - foi assassinado à porta do seu apartamento em Nova Iorque por um fã, um tal de David Chapman.
A relativa coincidência destes dois eventos marcou o tom da década de cultura pop que se instalou.
A música rock, outrora considerada a banda sonora do movimento da contracultura, modificou-se."

Alec Foege

Não é muito frequente eu gostar de um álbum ao vivo, mas tenho de referir que houve um que me despertou extraordinariamente para a música: From The Muddy Banks of Wishkah. Está lá tudo o que o punkrock quer dizer: o exorcismo da angústia. É assim que eu o vejo, foi assim que ele nasceu.
Ao longo desta compilação cada power chord é uma libertação, cada arranhar de corda vocal, uma elevação espiritual. Trata-se de algo sombrio sujo interior - nada a ver com o gel que o Billie Joe Armstrong dos Green Day usa para espetar o cabelo - que chegou ao âmago de tanta gente.

Viviam-se tempos deprimentes: o alastrar do capitalismo, a descrença generalizada, a morte dos sonhos, o Lionel Ritchie. Claro que haviam coisas boas: a cena toda de Manchester no início da década de oitenta, os Sonic Youth, Ravi Shankar... Mas o pop o consumo imediato os gelados de verão absorviam as massas (encefálicas). Como hoje em dia, de resto. E uma insatisfação latente alastrava pela população ao ritmo duma ruptura familiar.
O Smells Like Teen Spirit é uma música que poderia ter sido banal. Mas não o foi porque surgiu em uníssono com a angústia juvenil do início da décade de noventa, com a necessidade de rejeitar a lama. O Vasco fez um paralelo entre Pixies e Nirvana, tentado compará-los, levando à letra aquilo que o Cobain disse a propósito do roubar a ideia aos Pixies. Por mais incríveis que os Pixies tenham sido, com uma linguagem não totalmente diferente da de Nirvana, não transmitiam a mesma mensagem, e haverá algo de mais importante que a mensagem? Não é isso que é a arte? Não é isso que faz a difreença? Há que não confundir os meios com os fins. E só fica bem a uma banda admitir as suas influências musicais, especialmente a uma banda como os Nirvana, tão dedicada em partilhar, promover outras bandas. Não se entenda que uns têm "melhores mensagens" que outros; simplesmente, umas chegam a mais gente, encontram maior empatia e foi isso mesmo que aconteceu com o Nevermind: empatia. Os Pixies interessavam-se por outras coisas e ainda bem. Vasco, não sejas ingénuo ao ponto de pensar que a glória dos Nirvana foi aleatória, que o mega sucesso que ironizas não teve razão de ser ou que, pior, se baseou num plágio.

O "From The..." revela-nos tudo isto mesmo: a força; a expressão da angústia; Cobain e público em harmonia celestial.
Acho que dá para compreender o beco sem saída em que ele acabou e só as mentes paranóicas é que pensam em assassinato.



A. Dudu

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