17 novembro 2010

Duas mesas e eu na terceira



-       Olá mamã, como vai isso?
-       Olá papá, aqui está tudo bem, e consigo?
-       Tudo nice, tudo nice.
-       O que vai ser, papá?
-       Queria um quilo de tomates, está a 35, 
certo?
-       Sim, papá.
-       E talvez dois pimentos e umas cenouras.
-       O pimento está a 5 cada e as cenoura é 10 
por três.
-       Por três? Mas são pequenas essas cenouras...
-       Está caro, patrão, a cenoura está cara...
-       Pronto, pode ser. Arranje lá umas rijinhas 
então...
-       Claro... Aqui está.
-       Obrigado, mamã.
-       Cebola, batata, aboborinha, piri-piri?
-       Não obrigado, por hoje é tudo...
-       Obrigado papá. Amanhã compra cebola?
-       Sim sim...


E saiu do mercado. O sol estaria quente de certeza, não fossem as nuvens a conferir um ambiente pesado àquela tarde. Desde manhã que a sombra dela pairava na sua cabeça como um casaco demasiado apertado, colarinho e capuz. A caminho de casa, num banco de rua uma criança chorava de mão dada ao irmão. Ao lado um alguidar com o lixo que teriam apanhado nas últimas horas. Merda, pensou. Não mais que isso. Ao chegar a casa já não se lembrava da sua manhã, nem das sombras, nem dela. “Não se pode estar deprimido quando há outras pessoas ainda mais emaranhadas nos azuis que eu.”

2 comentários:

Juan Muñeca disse...

epá, se estás na terceira, aqui alguidar diz-se pana...
abraço

Juan Muñeca disse...
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