O Punk e a New Wave fizeram tanta mossa nos velhos “dinossauros”, que no inicio da década de 80, não sobrava quase pedra sobre pedra das velhas bandas de Rock Progressivo. Os Genesis tinham-se transformado numa banda Pop liderados pelo seu baterista/cantor Phil Collins; os Emerson, Lake & Palmer encerravam actividades após um medíocre “Love Beach”; os Gentle Giant faziam o mesmo e os Yes deixavam-se de músicas de 18 minutos para se juntarem ao produtor Trevor Horn e começarem a passar na Rádio com um single ultra comercial chamado “Owner of a Lonely Heart”!
Mas o que ninguém conseguiu prever é que nos bastidores e mais propriamente no circuito underground, uma banda chamada “Silmarillion” (nome inspirado numa obra de JR Tolkien) recusava enterrar “o machado de guerra”. Munidos de todo um arsenal que uma banda de Prog deve ter (canções longas, letras de ficção cientifica, músicos virtuosos e um “frontman” capaz de contar histórias disfarçado de Girassol), o grupo de Aylesbury, liderado por um excêntrico escocês chamado Derek Dick (nome infeliz, encurtado mais tarde para “Fish”), que absorviam como poucos o legado da geração dos seus “primos” mais velhos (nomeadamente dos Genesis de 1970-75).
Quando assinaram pela EMI (em finais de 1982), a banda já possuía uma base de fãs considerável que viam no grupo uma espécie de “segunda volta” do Progressivo. Com muito carisma (e charme do vocalista), a banda conseguiu gravar (nos lendários Marquee Studios) em menos de 3 meses o seu primeiro disco: “Script for a Jester´s Tear”. Uma espécie de “apanhado” das melhores canções que o grupo vinha desenvolvendo ao vivo e que por “questões editoriais” apenas deixou de fora o épico “Grendel” (deixado para o lado B do single “Marquet Square Heroes”) por este ter (“aprogriadamente”): 18 minutos de duração!
Ainda assim, só couberam (“aprogriadamente”) seis músicas no reportório de “Script”. Começando pelo tema homónimo que é uma espécie de clássico que os Genesis se esqueceram de compor. A voz encantada e trovadoresca de Fish (com um timbre muito “Gabrieliano”), as guitarras de Steve Rothery (com uma destreza tanto timidamente acústicas como mordazmente eléctricas); os teclados ambientais e “Wakemanianos” de Mark Kelly; o baixo firme de Pete Trewavas e a bateria do (quase despedido) Mick Pointer criavam um “oásis progressivo ” no meio de um “deserto” dominado por bandas que absorviam os sintetizadores para música de dança e as guitarras para fingir que sabiam tocar no “Top of the Pops”.
Daí que para 1983, se desse o reverso da medalha. O progressivo passava a ser a contra-corrente de vanguarda e tudo o resto: o mainstream! Os Marillion (apesar de uma imagem Prog) estavam mais em sintonia com a realidade (“o lado cinzento da vida” como Fish dizia nos concertos) graças a temas como “He Knows You Know” (uma viagem ao mundo dos efeito das drogas) ou “Garden Party” (paródia ao snobismo social inglês). Um realismo distorcido é certo, mas ao qual é impossível escapar: “The Web” (sobre a depressão económica) e “Forgotten Sons” (sobre os conflitos na Irlnda do Norte).
Em pouco menos de um ano, o grupo de Fish tornava-se numa das revelações surpreendentes duma Inglaterra deprimida na ressaca das Malvinas e sob o comando de Margaret “Iron” Thatcher. Script” ao mesmo tempo que chamava a realidade (e os seus problemas) era uma obra invulgar tanto pelo som da música, como pelo aspecto da banda que a produzia. Quem é que dizia que o “Prog” não sabia lidar com os problemas do dia-a-dia?
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