Há muitos, muitos anos, ainda era eu um garoto imberbe, mesmo não tendo desenvolvido muito mais pilosidade desde então, deparei-me com uns discos esquisitos de uma banda que eu tanto apreciava. Estaríamos por volta de 1996. Nas minhas viagens de autocarro, seguidas de metro até à baixa lisbonense, a emoção era imensa para quem vivia numa espécie de redoma intocável como era a portela. As idas à Virgin às sextas eram míticas. Nunca me canso de apregoar que a Virgin tinha mais impacto do que a Fnac alguma vez o teve. Pela localização, pela quantidade e qualidade dos seus produtos. Muitos discos de exportação, juntando a um grande número de cassetes (sim VHS) de concertos que não se encontravam em lado algum, aliado ao facto de ter inúmeros livros de música e posters, coisa que já não era costume encontrar em Lisboa que vivia em estado comatoso em termos musicais. A fase pimba já tinha deixado as suas marcas na música nacional (morte a ti, Carlos Ribeiro). Enquadrando o tempo e espaço a este review vamos, então, partir para essa descoberta há cerca de 15 anos em pleno Éden nos Restauradores.
Ao correr a letra N à procura de discos de Nirvana de Kurt Cobain, vi umas capas que nunca tinha visto na vida e com os seguintes nomes: The Story of Simon Simopath, All of Us e Orange Blue. Seriam, decerto, "bootlegs" como os sobejamente conhecidos Outcesticides, compostos por demos ou músicas ao vivo. Não lhes liguei muito. Vivia um certo Cold Turkey em relação a Nirvana. Sentia falta deles mas tentava sair dessa fase da minha vida. Essa foi o meu primeiro contacto com esses Nirvana. Noutra incursão à loja de Richard Branson resolvi dar outra espreitadela e tal não foi o meu espanto quando reparei nas datas dos referidos discos. 1967, 1968 e 1996. Muito estranho para uma banda que surgiu no fim dos anos 80 e acabou a meio dos 90. Haveria outra banda chamada Nirvana? Pesquisei em revistas e artigos que guardara ao longo dos meus anos de vício em Nirvana e descobri que estes Nirvana ingleses dos anos 60 tinham processado os homónimos americanos após o lançamento de Nevermind. Ninguém saiu queimado deste caso e os velhinhos Nirvana acabaram por se juntar para gravar "Lithium" como jeito de tréguas.
Continuei sem lhes dar muita atenção, a Britpop estava ao rubro e rapidamente me esqueci, relativamente, de ambos Nirvana. Até que um certo dia resolvi dar uma atenção devida aos originais britânicos e descobri dois grandes álbuns. Muito bons mesmo. All of Us (1968) e este Simon Simopath de 1967.
The Story of Simon Simopath é um disco do seu tempo embora a sua audição nos dias de hoje é, por vezes, refrescante. Gravado para ser um álbum conceitual, Simon Simopath é, a exemplo de Sgt Pepper, uma tentativa de trazer o surreal e o barroco para a música, mas acabando por ser apenas uma colecção de grandes músicas alinhavadas mais por um espírito do que um conceito por si.
Após os dois primeiros álbuns, a banda de Patrick Campbell-Lyons e Alex Spyropoulos andou um pouco à deriva pelos meandros do jazz-rock e rock-experimental tendo um fim rápido, apenas tendo uma breve ressurreição nos anos 80. Mais que um disco essencial ou pérola perdida, Simon Simopath é mais uma boa obra dos anos 60 que merece ser ouvida aqui e ali...
Sem comentários:
Enviar um comentário