04 dezembro 2009

The Musical Box@Aula Magna - 3/12/2009

Por princípio, não sou grande adepto de bandas de tributo. Se não podemos ver alguém a tocar ao vivo, c'est la vie. Os Musical Box são a excepção. Os Genesis são possivelmente a banda teoricamente mais difícil de imitar - porque é disso que aqui se trata, ficando a interpretação reduzida a um mínimo, se existir de todo - da História do rock. E estas não são palavras escritas de ânimo leve: existem muitas razões que as fundamentam. Não é só o material que é difícil de interpretar em cada instrumento individual; existem, nesse caso, outros intérpretes mais tecnicistas (em termos de guitarra, Paul Gilbert e John Petrucci são considerados os guitarristas mais tecnicamente perfeitos no rock, no activo); são os arranjos inacreditavelmente complexos dos Genesis dos anos 70 que tornam esta tarefa verdadeiramente hercúlea. Falamos de uma banda que chegava a usar três guitarras em simultâneo, cada uma com uma afinação diferente, e cujo guitarrista ritmo tocava frequentemente baixo com os pés ao mesmo tempo.
Mas não só isto. Os Genesis originais usavam muitos instrumentos que já na altura eram obscuros, assim como o resto do material de som - nesse aspecto, os Musical Box fazem constantes esforços para procurar, ou fabricar, material igual ou semelhante, lidando com as mesmas imperfeições que os músicos originais, tendo em conta o carácter ainda primitivo dos efeitos de música nos anos 70. E existe um esforço, levado ao extremo, destes músicos em imitar o som, a maneira de tocar e os maneirismos de actuação de cada elemento original dos Genesis. E, nesse campo, excedem-se.

Profundo conhecedor e coleccionador da obra dos Genesis, incluindo os poucos registos que existem em vídeo, os Musical Box convenceram-me, na Aula Magna, com o primeiro espectáculo que trouxeram cá, no qual recriaram o primeiro concerto em Portugal depois do 25 de Abril, quando os Genesis trouxeram o incrível The Lamb Lies Down On Broadway. Falando de um concerto do qual existem apenas talvez 10 minutos gravados em vídeo - e era um álbum duplo -, esta torna-se uma experiência espiritual para qualquer fã dos Genesis.

Diria que a imitação dos Musical Box tem um grau de aproximação de 95%. Faltam aqueles 5% que são impossíveis de conseguir, mas simplesmente porque os Musical Box não são os Genesis. Isto reflecte-se mais na voz, factor sempre mais inglório e mais facilmente identificável, mas está lá em todos os instrumentos. Mas, e considerando o grau de perfeição destes concertos, isso é simplesmente pedir o impossível.

Foi ontem o regresso a Portugal, de novo numa Aula Magna esgotada, mas agora para o concerto de digressão Trick Of The Tail. Com um novo baterista - Martin Levac está actualmente com um projecto de tributo a Phil Collins -, os Musical Box apresentaram um falso Bill Bruford (dos Yes e King Crimson), jogando com dois bateristas em certas ocasiões, tal como nos concertos originais. Nesta fase, os Genesis já não tinham Peter Gabriel na banda, e o vocalista Denis Gagné passou agora a interpretar Phil Collins, cantando as canções de Gabriel com as vocalizações de Collins, e com sucesso. É deste grau de perfeccionismo que estamos a falar. Os falsos Mike Rutherford e Steve Hackett são os mesmos e estão impecáveis. No caso de Hackett, está ainda melhor, talvez por força de não ter de se ver obrigado a tocar sentado, como nas digressões anteriores. O novo Tony Banks parecia melhor executante, mas talvez mais duro que o anterior. O novo Phil Collins baterista, que substituia o Phil Collins vocalista nos duetos de bateria, parecia também uma excelente aquisição para a banda, apesar de demonstrar um pouco mais de força que o Collins original. Mas, repito, são detalhes ínfimos e, na maior parte do tempo, a imitação é igual.

Entraram com um forte Dance On a Volcano, passando para um trio de canções do Lamb, que incluiu a canção homónima, e umas actuações imaculadas de Fly On a Windshield e Carpet Crawlers. Depois, os momentos mais altos. As complicadíssimas The Cinema Show e Robbery, Assault and Battery foram exemplarmente executadas e levaram o público a um aplauso empolgado, sincero e recompensador. White Mountain, talvez por não ser tão exuberante como as outras peças, foi menos emotiva, mas ainda assim esteve bem.

Seguia-se Firth of Fifth, a que não faltou a introdução em piano a solo, até ao momento em que deixou de se ouvir o baixo. Aconteceu o impensável: três segundos depois, o som foi todo abaixo. Aparentemente, houve falhas nos geradores da EDP por toda a cidade, e o gerador do som - não das luzes - que estava a servir a banda, foi um dos que falhou. O público esperou pacientemente ao longo de uma hora e meia, com o natural convívio entre os fãs, mas o espectáculo não iria ser retomado. Existe a possibilidade da banda regressar para um concerto completo. Mesmo assim, valeu a pena e só não levam a nota máxima por ter sido meio concerto, ainda que por razões alheias à banda, que deu autógrafos a partir do palco e falou com os espectadores.

É por bandas como esta que estes projectos de tributo-imitação valem a pena, e cimentam a ideia de que o rock progressivo é o equivalente - não confundir com «substituto» - da música clássica do futuro.

Deixo-vos com duas entrevistas realizadas em Lisboa há 2 anos, quando os Musical Box trouxeram os concertos das digressões Foxtrot e Selling England, e um apanhado de imagens desta digressão.

The Musical Box - Trick Of The Tail: 9







6 comentários:

André Sousa disse...

Caro OQE1BLOG

Que grande barraca ter faltado a luz!
Eu que gostava de ter ido (já os vi há cinco anos com "The Lamb") já fiquei com menos um peso na consciência!
Mas se marcarem nova data, sou o primeiro a comprar bilhete!
Boa crónica... e um Abraço e saudações progressivas

C disse...

Fabuloso!!!!!

Phil_Cat disse...

Muito bom post, muito boa descrição do que se passou na Aula Magna. Nas filas de trás o som deixava bastante a desejar e tenho esperança que fiquem alguns lugares vazios mais à frente caso os rumores de um regresso se confirmem, pois discretamente irei tentar ocupar um deles :)

João Batista disse...

Que pena ter faltado a electricidade , o concerto etáva a ser bom e ainda por cima nunca tinha visto um concerto dos Musical box . Se houver outro eu quero ir

OQE1BLOG disse...

André: a vontade da organização é essa e, caso aconteça, recomendo. Estão mesmo em forma.

Phil: eu tinha lugar lateral e também discretamente ocupei um dos lugares do meio, haha

Thanks for the compliments

Anónimo disse...

Pela 2ª vez, vi a super banda a actuar no nosso país, eles são um fenómeno musical, tributos destes não se vê todos os dias, eles são perfeitos... Pena foi a quest
ao da energia e lá se ficou o concerto a meio, registo apenas uma curiosidade, foi a minha mùsica preferida de sempre dos Genesis, ter sido a contemplada pelo imprevisto.

Zé Oliveira (Massamá)