Mas não só isto. Os Genesis originais usavam muitos instrumentos que já na altura eram obscuros, assim como o resto do material de som - nesse aspecto, os Musical Box fazem constantes esforços para procurar, ou fabricar, material igual ou semelhante, lidando com as mesmas imperfeições que os músicos originais, tendo em conta o carácter ainda primitivo dos efeitos de música nos anos 70. E existe um esforço, levado ao extremo, destes músicos em imitar o som, a maneira de tocar e os maneirismos de actuação de cada elemento original dos Genesis. E, nesse campo, excedem-se.
Profundo conhecedor e coleccionador da obra dos Genesis, incluindo os poucos registos que existem em vídeo, os Musical Box convenceram-me, na Aula Magna, com o primeiro espectáculo que trouxeram cá, no qual recriaram o primeiro concerto em Portugal depois do 25 de Abril, quando os Genesis trouxeram o incrível The Lamb Lies Down On Broadway. Falando de um concerto do qual existem apenas talvez 10 minutos gravados em vídeo - e era um álbum duplo -, esta torna-se uma experiência espiritual para qualquer fã dos Genesis.
Diria que a imitação dos Musical Box tem um grau de aproximação de 95%. Faltam aqueles 5% que são impossíveis de conseguir, mas simplesmente porque os Musical Box não são os Genesis. Isto reflecte-se mais na voz, factor sempre mais inglório e mais facilmente identificável, mas está lá em todos os instrumentos. Mas, e considerando o grau de perfeição destes concertos, isso é simplesmente pedir o impossível.
Foi ontem o regresso a Portugal, de novo numa Aula Magna esgotada, mas agora para o concerto de digressão Trick Of The Tail. Com um novo baterista - Martin Levac está actualmente com um projecto de tributo a Phil Collins -, os Musical Box apresentaram um falso Bill Bruford (dos Yes e King Crimson), jogando com dois bateristas em certas ocasiões, tal como nos concertos originais. Nesta fase, os Genesis já não tinham Peter Gabriel na banda, e o vocalista Denis Gagné passou agora a interpretar Phil Collins, cantando as canções de Gabriel com as vocalizações de Collins, e com sucesso. É deste grau de perfeccionismo que estamos a falar. Os falsos Mike Rutherford e Steve Hackett são os mesmos e estão impecáveis. No caso de Hackett, está ainda melhor, talvez por força de não ter de se ver obrigado a tocar sentado, como nas digressões anteriores. O novo Tony Banks parecia melhor executante, mas talvez mais duro que o anterior. O novo Phil Collins baterista, que substituia o Phil Collins vocalista nos duetos de bateria, parecia também uma excelente aquisição para a banda, apesar de demonstrar um pouco mais de força que o Collins original. Mas, repito, são detalhes ínfimos e, na maior parte do tempo, a imitação é igual.
Entraram com um forte Dance On a Volcano, passando para um trio de canções do Lamb, que incluiu a canção homónima, e umas actuações imaculadas de Fly On a Windshield e Carpet Crawlers. Depois, os momentos mais altos. As complicadíssimas The Cinema Show e Robbery, Assault and Battery foram exemplarmente executadas e levaram o público a um aplauso empolgado, sincero e recompensador. White Mountain, talvez por não ser tão exuberante como as outras peças, foi menos emotiva, mas ainda assim esteve bem.
Seguia-se Firth of Fifth, a que não faltou a introdução em piano a solo, até ao momento em que deixou de se ouvir o baixo. Aconteceu o impensável: três segundos depois, o som foi todo abaixo. Aparentemente, houve falhas nos geradores da EDP por toda a cidade, e o gerador do som - não das luzes - que estava a servir a banda, foi um dos que falhou. O público esperou pacientemente ao longo de uma hora e meia, com o natural convívio entre os fãs, mas o espectáculo não iria ser retomado. Existe a possibilidade da banda regressar para um concerto completo. Mesmo assim, valeu a pena e só não levam a nota máxima por ter sido meio concerto, ainda que por razões alheias à banda, que deu autógrafos a partir do palco e falou com os espectadores.
É por bandas como esta que estes projectos de tributo-imitação valem a pena, e cimentam a ideia de que o rock progressivo é o equivalente - não confundir com «substituto» - da música clássica do futuro.
Deixo-vos com duas entrevistas realizadas em Lisboa há 2 anos, quando os Musical Box trouxeram os concertos das digressões Foxtrot e Selling England, e um apanhado de imagens desta digressão.
The Musical Box - Trick Of The Tail: 9
6 comentários:
Caro OQE1BLOG
Que grande barraca ter faltado a luz!
Eu que gostava de ter ido (já os vi há cinco anos com "The Lamb") já fiquei com menos um peso na consciência!
Mas se marcarem nova data, sou o primeiro a comprar bilhete!
Boa crónica... e um Abraço e saudações progressivas
Fabuloso!!!!!
Muito bom post, muito boa descrição do que se passou na Aula Magna. Nas filas de trás o som deixava bastante a desejar e tenho esperança que fiquem alguns lugares vazios mais à frente caso os rumores de um regresso se confirmem, pois discretamente irei tentar ocupar um deles :)
Que pena ter faltado a electricidade , o concerto etáva a ser bom e ainda por cima nunca tinha visto um concerto dos Musical box . Se houver outro eu quero ir
André: a vontade da organização é essa e, caso aconteça, recomendo. Estão mesmo em forma.
Phil: eu tinha lugar lateral e também discretamente ocupei um dos lugares do meio, haha
Thanks for the compliments
Pela 2ª vez, vi a super banda a actuar no nosso país, eles são um fenómeno musical, tributos destes não se vê todos os dias, eles são perfeitos... Pena foi a quest
ao da energia e lá se ficou o concerto a meio, registo apenas uma curiosidade, foi a minha mùsica preferida de sempre dos Genesis, ter sido a contemplada pelo imprevisto.
Zé Oliveira (Massamá)
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