07 janeiro 2010

Metallica - Metallica [Black Album] (1991)

Em 1991 aconteceu de tudo um pouco. Morreu Freddie Mercury, talvez o maior (e melhor) frontman da história; e com ele morreu a ideia de que a SIDA só atacava os outros e os pobres. Nasceu o grunge com o Nevermind dos Nirvana e outras bandas que tais, como os Pearl Jam ou os Alice In Chains ou mesmo os Soundgarden; e com eles nasceram os miúdos urbano-depressivos de flanelas vestidos, com cabelos desguedelhados e também os stage dives e o pro choice. E renasceu o metal, travestido de hard-rock e entregue num álbum que ficou para história como a melhor colectânea de canções duronas a chegar ao mercado: o Black Album dos Metallica. Os números não mentem: 15 milhões de álbuns vendidos nos EUA; 22 milhões no Mundo. Doa a quem doer, este é o maior feito de um conjunto metal à data. De uma banda de culto os Metallica passaram a uma religião de massas. Houve quem não gostasse – os puristas que se julgam donos das bandas só porque as seguem desde o início criticaram-nos por terem desacelerado. Já eu, que detesto puristas, estou a borrifar-me para a velocidade e nem conto o número de notas por segundo. E dou-me satisfeito que tenham mudado porque a coisa, assim, tornou-se perceptível. Nada contra os anteriores álbuns, que tinham músicas como "Master of Puppets" ou a "One". Mas com este as letras entendem-se e os solos não se atropelam uns aos outros. Um tipo virtuoso não deixa de o ser só porque os dedos dele deixam de percorrer freneticamente o braço da guitarra como um epiléptico.
No Black, apostou-se nos riffs curtos e poderosos. E não há riff como o do "Enter Sandman". Todos sabem de cor e salteado a progressão daquelas cinco notas que abrem a música e o álbum. Depois, seguem-se a "Sad But True", a "Holier Than Thou", a "Unforgiven" e a "Whererever I May Roam". Ouvidas estas, chega-se ao fim da primeira metade do álbum e o pulso está frenético e o pescoço dorido de tanto acompanhar a batida do Ullrich (há melhor baterista, já agora). A segunda metade perde um pouco de força mas tem a "Nothing Else Matters". E aqui é que os metaleiros se foram aos arames. Não é que o bom do Hetfield, debaixo daquela fronha de camionista e do corpo intimidador, é um rapaz (até) dado a coisas do coração? É verdade, sim. E os Metallica fizeram a melhor balada hard-rock alguma vez composta. Outra vez à frente de todos e contra os que os atrasavam. Mérito a Bob Rock, o produtor que os Metallica primeiro recusaram e depois receberam a conselho de Ullrich, que transformou a banda californiana na maior do planeta durante um par de anos. Rock, que havia promovido o glam-rockers Mötley Crue do abastado Tommy Lee, depurou e sugou a alma do quarteto metálico à exaustão. E o resultado ficou à vista e no ouvido. Para sempre.


4 comentários:

Unknown disse...

Gosto e estou de acordo.Se o Black Álbum não tivesse existido, provavelmente nunca teria ouvido tudo o que havia para trás.O alivio foi perceber que a fase de Garage Inc, Load e Reload foi um pequeno (dramático) acidente de percurso.

Alex disse...

Caro Candeias, concordo nalguns pontos, discordo noutros.

Começando pelos que discordo - Nirvana não nasceram em 1991, mas sim em 1989.
Quanto às vendas, os EUA fazem parte do mundo? Ou seja, nos 22 do mundo estão incluídos os 15 dos EUA ou é somar o mundo aos EUA? Estas coisas de os EUA e o Mundo, fazem-me sempre uma confusão...

Os que concordo - álbum muito muito importante em termos de chegada a um público mais alargado. E acho que era isso que os fãs hardcore não queriam. Azar o deles, tiveram que partilhar a sua banda com mais gente. Para mim serviu para conhecer o resto da obra da banda, ainda eu um jovem imberbe a descobrir o que queria da música (às vezes penso que ainda hoje não sei, mas ok...).

Exit light, Enter Night!

Pedro Candeias disse...

Olá Alex,
Bom, já não é os primeiro que fala de 1991 e do nascimento dos Nirvana e tal e tal. O que está escrito (se calhar não está explícito e é culpa minha) é que em 1991 nasceu o Nevermind dos Nirvana (que sim, estes sim tinham nascido um bom par de anos antes).
Quanto aos milhões, mea culpa outra vez por não ter sido explícito (aqui dou de barato que não fui) - 15 milhões nos EUA e mais 22 milhões no mundo fora (ou seja 37 milhões ao todo)

francisco disse...

Já vi de facto alguns comentários sobre 1991 ano de nascimento do Grunge e tenho de concordar com o Sr.Candeias, porque apesar dos Nirvana terem nascido um par de anos antes, o movimento Grunge não nasceu assim que sai o Bleach, ah e tal, toma lá, isto é.. vamos chamar-lhe Grunge. Com o Nevermind é que houve efectivamente o boom e a partir daí sim é que se começaram a vestir camisas de flanela, a deixa crescer os pelitos da barba, etc.. Sr.Candeias, estou contigo!