Há algo de tão triste mas no entanto tão belo quando o melhor álbum de uma banda é o último. Chamemos-lhe o canto do cisne, o pôr do sol, etc, mas há algo que nos atinge quando realmente nos apercebemos que a partir dali não virá mais nada e, se calhar, ainda bem. Quem aqui poderá discordar desta afirmação quando temos Abbey Road, L.A. Woman ou In Utero como exemplos? O último disco gravado pelos Beatles é, provavelmente, o seu melhor. O modo como as guerras internas deram lugar a um disco tão solarengo e tão cheio de energia é de facto notável. Provavelmente nenhum dos quatro elementos se virou um para o outro e disse: é desta, é o último. Mas isso sente-se em todo o disco. É a despedida, ao menos que seja em grande. Saltando 25 anos no tempo deparamo-nos com outra situação. A fragilidade psicológica de Kurt Cobain. Ninguém no seu perfeito juízo imaginaria um futuro na banda de Seattle. O suicídio, embora nunca admitido, era algo com que muitas pessoas já começavam a adivinhar num futuro um pouco mais distante. Aconteceu pouco depois do último disco ter sido lançado. No entanto, o que nos ficou foi, claramente, a procura da honestidade musical do último grande ídolo do Rock. In Utero não é um Nevermind, não é de fácil digestão e ainda bem. In Utero é Kurt despido e o mais honesto possível face ao monstro que o começava a engolir. O fim estava mesmo ali à porta.
O que nos leva outra vez à pressão que os media e fãs podem exercer em alguém. Jim Morrison sempre foi uma personagem à parte. Um "damaged good" como dizem os anglo-saxónicos. Alguém que adorava a honestidade mas também chocar. Jim foi sempre um "heavy drinker". Era o que o fazia sair da realidade chata com que se deparava dia após dia. Era preciso romper com a normalidade com que as pessoas viviam e Jim era o escape. L.A. Woman surge após Morrison Hotel, o regresso à forma dos Doors com o próprio Jim Morrison a tornar-se mais responsável e empenhado. No entanto, cada vez mais agastado com a mediatização com que se via envolvido, Morrison queria sair, fugir, partir para outros sítios, dedicar-se à poesia e viver outra vida com Pamela Courson. A despedida, nunca oficial, e irreversível após noite fatídica em Paris em 71, surge com este L.A. Woman, onde Jim e os restantes Doors se despedem como grupo a 4 com um dos melhores álbuns de sempre. As constantes deambulações de Jim pelo universo americano e a suas origens estão sempre presentes. "L.A. Woman" leva-nos a uma viagem de carro nocturna pela louca Los Angeles, com os seus clubes bóemios e de strip, enquanto "Riders on the Storm" traz-nos o obscurantismo que tanto agradava a Morrison. Aparte da mais comercial "Love Her Madly", todo o resto do álbum é um misto de blues ("Car Hiss By My Window" e "Hyancith House") e Rock embebido em Bourbon e alucinogénicos como "L'America", "Crawling King Snake", "The Changeling" ou "The Wasp". Após este disco e a consequentemente morte de Jim, os restantes Doors, Ray Manzarek, Robbie Krieger e John Densmore, tentaram, em vão, continuar uma carreira sem Jim. Era impossível. O Rock Poet estava morto, não havia nem haverá substituto...
4 comentários:
Então amigo. E o "Other Voices" e o "Full Circle" de 1971 e 1972 respectivamente? Não tem o Jim Morrison é certo mas também sâo discos dos outros Doors. E há uma música chamada "Tightrope Ride" cantada pelo Manzarek é uma espécie de tributo ao Morrison.
Mas gosto muito do LA Woman, sobretudo de "Riders on the Storm", não há melhor música de viagem que esse tema.
O "Wasp", o "LOve Her Madly" e "L´America" são grandes canções que o MOrrison não teve oportunidade de cantar ao vivo, mas que digo-te que o Ian Astbury não fez um mau serviço quando os vi em 2003 num Pav. Atlantico à pinha.
Abraço
Gosto bastante do Other Voices mas convenhamos, a mística não é a mesma. Se eles tivessem mudado o nome da banda e continuado só os 3 podiam ter tido outra carreira, sendo assim a pressão era muito grande. Também vi esse no atlântico e foi muito muito bom.
Os Doors, ninguém tenha dúvida, acabaram com a morte do Jim. O depois foram tentativas de manter qualquer coisa que não fazia sentido. L.A. Woman é, também para mim, o melhor da banda. Uma maravilha do princípio ao fim, mágico, único. Estaria claramente no meu top 10 de melhores álbuns de sempre.
Nice article Baptista (com p, toma lá e vai buscar) ;-)
eu vi logo que este post só podia ser teu kiddo. *
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